Dois minutos – Meter água…

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Marina Costa Lobo dizia no último Expresso da meia-noite que António Costa seria um novo Cavaco Silva ao usufruir do trabalho anterior de reequilibrio das contas públicas equiparando a troika e Passos Coelho aos difíceis tempos do Bloco Central em que Mário Soares e Ernâni Lopes foram os rostos da dificuldade. Ou seja, tal como Cavaco usufruíra eleitoralmente do trabalho anterior, agora é António Costa que usufrui.
Não obstante a maré parecer favorável a Costa, ainda assim parece haver necessidade de partidarizar acções governativas no país. Nesse campo, o trabalho político articulado entre governo e partido Socialista colocou na agenda o primeiro-ministro no Oeste. E logo veio para o anúncio da consignação do bloco da Amoreira de Óbidos que se insere num investimento bastante avultado de um projecto hidro-agrícola que tem cerca de 90% do investimento localizado no concelho de Óbidos. Por essa razão achei estranho e inédito ver a eliminação do painel de intervenções na sessão solene da visita do presidente da Câmara de Óbidos.
Que eu saiba, a rede de rega concebida pela excelência técnica da DGADR sob o comando de técnicos com o engº Campeão da Mota é uma autêntica filigrana e um caso de complexidade técnica admirável, e nesse capítulo todos sabemos que foi sempre a autarquia de Óbidos a “puxar a carroça” durante anos, ou seja, a liderar o projecto ou não fosse Óbidos o principal território do investimento, da sua área e extensão, repito com cerca de 90% do território, a esmagadora maioria do número de beneficiários e também da capacidade de gestão política deste dossier, onde por respeito e articulação institucional entre Óbidos e o Bombarral, coube ao primeiro o desempenho e a “tarefa” de lutar por este investimento.
Ficaria bem ao governo ter no mínimo repartido a acção política e ter tratado com igualdade ambos os autarcas. Confesso que gostaria de ver o meu sucessor enquanto presidente de Óbidos ter tido a oportunidade histórica de se expressar publicamente perante o primeiro-ministro de Portugal (foi a primeira vez que um PM visitou a obra depois de Pedro Santana Lopes não ter querido enquanto primeiro-ministro inaugurar a obra da Barragem do Arnóia por já estar no período de “gestão” do seu governo). Ficou a ideia de que o recém-eleito presidente do Bombarral precisava deste “empurrão”de tal maneira que não ficaria bem convidar o presidente de Óbidos para usar da palavra, o que para todos os agricultores e empresários destes concelhos, todos, tem a noção exactamente do contrário. Se houve alguém entre os dois que trabalhou por este projecto, o liderou e foi um interlocutor com as equipas técnicas durante anos foi precisamente o senhor engenheiro agrónomo Humberto Marques, desde o tempo que foi dirigente agrícola, vereador, vice-presidente e desde 2013, presidente da Câmara Municipal de Óbidos.
Os autarcas do Bombarral de todos os partidos, sem excepção, foram sempre parceiros de excelência e este concelho, um território de afirmação agrícola muito relevante, que não merece ser visto ou interpretado pela opinião pública com uma imagem de algum aproveitamento político. A área de várzea do Bombarral que respeita ao Pó e à Roliça e que foi integrada no “Bloco da Amoreira” representa apenas 46% desta fase de 475 hectares numa totalidade de 1185 hectares.O que vimos aqui foi um exemplo de partidarização muito negativo e também muito desnecessário pois António Costa não precisa disto nem de ser sujeito a isto. Ele sabe que os ventos lhe correm de feição e que o mais importante é não criar problemas onde não existem. Não fosse a excelente intervenção do Eng. Filipe Daniel na qualidade de presidente da Associação de Regantes que soube pôr os pontos nos iis e acharíamos todos que este tipo de acção política era normal. Tratou-se apenas de meter água…