A Rota Raynha das Águas (é mesmo com “y” como na grafia medieval) é um roteiro à volta da história da fundação da cidade e da vida da Rainha Dª Leonor. No passado Sábado aconteceu mais uma dessas rotas, desta vez contando também com participantes que nunca tinham vindo a Caldas ou só muito superficialmente a conheciam. Foi muito interessante perceber a Cidade a partir dos comentários de pessoas que não têm com ela qualquer ligação afectiva, nem fazem ideia das tricas, trocas e baldrocas da política local e da gestão autárquica. Foi bastante revelador olhar para o nosso património com olhos de um forasteiro habituado a viajar e por isso capaz de comparar o que temos para oferecer com outras realidades, tanto cá dentro como no estrangeiro. A conclusão é que, de facto, a história e o património de Caldas da Rainha é rico, distinto, com muito para mostrar e por isso “muito vendável”. Percebi que é possível produzir oferta turística específica para Caldas da Rainha, complementar, mas equiparada, com aquelas que existem para Óbidos ou Alcobaça, por exemplo.
Mas deste roteiro também me ficou mais uma conclusão: a encruzilhada em que estamos neste momento. A necessidade de gerir o equilíbrio entre a melhoria da qualidade de vida dos munícipes, a atractividade da cidade para a fixação de novos moradores e o desenvolvimento do turismo. São equilíbrios difíceis, entre um hospital que tarda em ver reunidas as condições para reabrir, um projecto para a reabilitação dos Pavilhões que pode vir a condicionar a utilização pública do Parque e a forma como se relaciona com a cidade, as novas opções urbanísticas (penso, por exemplo, na Secla), mas, acima de tudo, esta terrível sensação de que continua a não haver um projecto de futuro que pense o desenvolvimento do Concelho de forma integral, integrada e sustentável.
Estas reflexões fazem-me recuar cerca de dois anos às discussões havidas a propósito do plano estratégico que a Câmara mandou executar a um conceituado gabinete da capital. Estarão certamente lembrados que, na cerimónia de lançamento do estudo, no CCC, o Presidente da Câmara pediu que “não se voasse” e os consultores seguiram a vontade do cliente, tendo produzido um trabalho que, embora metodologicamente bem feito, não construiu, para a cidade, uma visão aglutinadora de vontades, estando dele ausentes os grandes desafios que se colocam à gestão autárquica com visão de futuro. Desafios onde se integrem as oportunidades, ainda que também os riscos, trazidas pela globalização, a digitalização, as novas profissões e paradigmas de mobilidade, as alterações demográficas, os desafios climáticos. A perspectiva de integração regional e não a visão local, o desenvolvimento liberto da geografia e não seu refém. E ainda questões, tão bem abordadas no recente Congresso Empresarial do Oeste, como a economia 4.0 ou a economia circular.
Nada destas preocupações estão no Plano Estratégico que, ao contrário, aponta uma evolução na continuidade num Mundo que avança em saltos disruptivos. Um Plano Estratégico que olha para Caldas da Rainha com olhos e critérios do século XX, onde mais se lê a nostalgia do que o Concelho podia ter sido do que aquilo que quer ser.
Vamos continuar a ter uma Praça da Fruta que encanta qualquer visitante, o Hospital mais antigo do Mundo, o Parque e a Mata. Preocupa-me que, adicionalmente, possamos perder definitivamente a pujança económica e a importância regional de que a Cidade já gozou.
Diz-se que o demónio vive nos detalhes, ainda pensando na rota da Raynha das Águas, passámos por quatro chafarizes e fontes – nenhum funcionava, o que é estranho em todas as circunstâncias, mas principalmente em uma cidade que se reclama “das águas”!