Espaço Saúde – FILHOS, PAIS e COISAS MAIS – Ó Pai, quero um sumo…

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Só existem dois elementos líquidos na Natureza: o leite e a água. Tudo o resto é invenção da humanidade, com a ajuda da tecnologia.
Mesmo os sumos de frutos, os verdadeiramente naturais, não são os que são feitos por máquinas espremedoras mais ou menos sofisticadas, mas sim os que o homem, cortando os frutos ao meio, aspergia para a boca, refrescando-se mas ingerindo, também, a polpa e as fibras. Os actuais sumos “naturais”, aqueles que contêm o equivalente a quatro ou cinco laranjas – mas apenas o açúcar e do aroma do fruto, com as respectivas calorias -, que se “bebem” de um trago e não saciam, estão a tornar-se uma autêntica praga (e uma praga bem cara!), e a substituir o que de melhor existe: a água. Sem a mais valia das fibras e da polpa…

Por outro lado, os refrigerantes, chás e colas estão a ocupar um espaço lamentavelmente crescente à mesa, designadamente das crianças, seja ao lanche, ao almoço e jantar, nos restaurantes e cafés ou até mesmo em casa. Parece que os pais têm receio de servir água aos filhos. E estes “exigem” bebidas hipercalóricas e hiperdoces, com tudo o que isso tem de prejudicial. Ainda por cima (e não por razões inocentes…) os refrigerantes têm quase todos quantidades de açúcar desproporcionadas, o que faz aumentar a sede algum tempo depois de se beberem: resultado, há a tentação de consumir mais um.
Criou-se, aliás, a ideia “novo-rica” que a água canalizada não é suficientemente boa para o consumidor, quando é precisamente o contrário: a qualidade é cada vez melhor. Sem fundamentalismos, é tempo de voltar a beber água. Que deverá ser o líquido escolhido para “matar a sede” e hidratar. E, à semelhança do que acontece noutros países, os estabelecimentos deveriam servir água  “da torneira” livremente. Isto de se ter que pagar “balúrdios” por uma micro-garrafa de água não é justo. A água, por motivos conceptuais e práticos, deve ser gratuita, e há que o exigir. Até porque é potável na esmagadora maioria dos locais, e quem quisesse poderia sempre pedir engarrafada.
Outra atitude a ter, sem cerimónias, é dizer “não” aos meninos de vez em quando e não ir atrás de todos os seus caprichos. É capaz de não ser má estratégia…

Vantagens da água “da torneira” (abastecimento público) relativamente à “engarrafada”
·é controlada mais frequentemente
·não tem bactérias, porque é corrente
·é de boa qualidade
·não se corre o risco de os bisfenóis, dioxinas e outras substâncias poderem passar do plástico para a água, por acção dos ultravioletas da luz
·não coloca problemas ambientais relacionados com as garrafas (plástico, vidro)
·é mais “completa”, visto que é colhida de rios que provêm de vários riachos e fontes (solos diferentes)
·é muito mais barata, em termos de preço por litro

Mário Cordeiro
Pediatra – Clínica Etc
mario.cordeiro@netcabo.pt