Tem mais impacto na sociedade a sugestão dos temas sobre os quais as pessoas devem pensar e conversar, do que quaisquer tentativas para influenciar o seu pensamento, impondo-se ao seu sentido crítico. De facto, a atenção é a primeira condição para se dar conta de algo, havendo uma forte relação entre a permanência de um tema na agenda social e a importância que lhe é atribuída. Com o tempo, aquilo que pode ter começado por ser estranho e até inconveniente, vai-se entranhando e tornando docemente familiar.
Há cerca de quarenta anos, Maxwell McCombs e Donald Shaw, formularam a teoria do agendamento (agenda-setting), segundo a qual a opinião pública é condicionada pelos temas escolhidos (ou preteridos) diariamente pela comunicação social, bem como pelo espaço e destaque que lhes são dedicados, verificando-se uma transferência da saliência dos assuntos dos mídia para a agenda social dos cidadãos.
A realidade é demasiado complexa para a capacidade de percepção e cognição dos seres humanos, obrigando a seleccionar os estímulos a captar e processar, bem como os recursos a investir em cada um deles. Fazemo-lo de acordo com as nossas características, tanto inatas como adquiridas, e com as necessidades e expectativas prevalecentes em cada momento. Nesse processo, reforçamos os referidos mecanismos de selecção e condicionamo-nos ainda mais. Já em 1922, Walter Lippmann afirmava que as pessoas vivem numa pseudo-realidade formada por representações mentais subjectivas, embora socialmente partilhadas, as quais são significativamente configuradas pelos mídia. Bernard Cohen, em 1963, defendeu que os mídia têm mais êxito em sugerir às audiências os assuntos em que pensar e sua relevância, do que o que pensar sobre cada um deles, funcionando como efectivos guardiões de informação e, desse modo, condicionando a nossa vida individual e colectiva.
Nos últimos 16 anos, para não ir mais longe, temos andado muito distraídos e enganados sobre aquilo que mais interessa a Portugal e a todos nós, portugueses. Distraímo-nos com o secundário e superficial, descurando o prioritário e mais profundo. Partilhamos a vida das celebridades e das personagens das telenovelas, descurando aqueles que nos são próximos e por quem somos responsáveis. Encantamo-nos com os interesses dos mais ricos e desenvolvidos, desprezando as necessidades e obrigações de quem é pobre e atrasado. Iludimo-nos com as fantasias e intrujices dos políticos desonestos e oportunistas, rejeitando as vozes sábias que nos chamam à razão. Portugal e os portugueses têm de passar a conversar e reflectir, todos os dias, sobre como trabalhar e produzir mais e melhor, como vender e competir mais e melhor, como poupar e distribuir mais e melhor. Naturalmente que há mais vida para além destas preocupações, mas tudo deve ser considerado na devida proporção, de acordo com a realidade em que vivemos, a começar pela redefinição da actual agenda social que, para dizer o mínimo, está completamente distorcida e invertida.