Uma crónica de mais um licenciado

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Curso terminado! É tempo de encarar novos objetivos e prosseguir a caminhada na busca daquilo que nunca sabemos ao certo o que é, mas pretendemos constantemente alcançar. É isso que nos faz mover, mesmo quando julgamos estar bem no ponto em que estamos.(…)
Mas à parte dos sentimentos nostálgicos e de memórias coloridas dos tempos de faculdade, aqui fica a minha crítica, não a tudo o que o ensino superior tem de mal, mas da minha reflexão retrospetiva que fiz, depois de ter concluído o curso.
Eu não fui, de longe, o melhor exemplo de aluno aplicado e motivado para seguir uma grande caminhada académica ou profissional. Tenho ambições pequenas nesse campo, e vivo bem com isso. Mas mesmo assim, sinto-me no direito de criticar o sistema de graduação numa formação dita “superior”. Quando se fala em formação superior transmite-se a ideia da presença de uma bagagem curricular e conhecimento da área extremamente especializada. E agora que tenho uma “formação superior”, onde está o meu domínio sobre a área que estudei e conhecimento especializado sobre as matérias inerentes? Muitos me responderiam “se quiseres tirar uma especialização segues para mestrado”, ao qual eu respondo, para que serve então uma licenciatura? E se eu não quiser seguir mestrado, é suposto não me valer de nada ter uma licenciatura? E agora só me ocorrem três palavras “Processo de Bolonha”. O que é que vamos fazer aos estudantes do ensino superior? Vamos deixá-los ter o título de Licenciado em apenas três anos, e para termos menos chatices com programas curriculares e horários a pagar a professores para darem aulas, no inicio do ano mandamos os professores dizerem que “é suposto haver trabalho de casa e estudo autónomo por parte dos alunos para a licenciatura ficar completa”. E em cinco anos são Mestres!
As consequências disso são: as licenciaturas transformam-se numa banalidade, que em pouco tempo equivalerá ao anterior grau de secundário; e haverão por aí mestres a dar com pau. Resultado final? Mestres em áreas extremamente específicas e especializadas, a trabalhar em call centers e supermercados. Todos esses trabalhos são honestos e necessários, mas será de facto necessário facilitar a formação académica de um individuo para esse desfecho final?
Facilita-se a atribuição de graus, entregam-se diplomas “ao desbarato”. (…)
Possuir cursos superiores, devia ser mais exigente, mais extensivo, mais especializado. Três anos de Licenciatura não chegam para nada! Trabalho de campo, estágios durante a frequência do curso, inserção no mercado de trabalho, deviam ser coisas tidas muito mais em conta durante o período dessa frequência. Mas só se olha para os euros investidos e o número de licenciados no final; isto quando a educação devia ser a maior fatia de investimento por parte do Estado a par da saúde. (…)
Agora que acabei um curso, e não tenho qualquer confiança nem bagagem para procurar emprego na área. Não me sinto instruído o suficiente, nem especializado em assunto algum. A ter cadeiras de apenas três meses e meio, fazer frequências e passar, não retive conhecimento, nem experiência, nem domínio… nada. E tenho a certeza de que não sou o único, porque já tive oportunidade de falar sobre isso com amigos, inclusivamente de outras áreas e universidades.
Afinal de contas, de que me vale ter um curso superior?
(Ainda assim, não abdicava dele. Pode-me não ter enriquecido intelectualmente, pelo menos ao nível que poderia ser esperado, mas enriqueceu-me pessoalmente, e já tenha saudades da Universidade…)
André Miguel Serrenho