As Caldas da Rainha e o Oeste na festa do Avante!

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1-caldensesDecorreu no passado fim de semana a Festa do Avante, tendo a Quinta da Atalaia recebido milhares de pessoas num evento que marca a rentrée política do PCP. Caldas da Rainha esteve representada com um stand próprio, famoso pelas suas bifanas e pequenos-almoços, mas  também marcaram presença as delegações de Peniche, Óbidos, Bombarral e Marinha Grande. Gazeta das Caldas confirmou: não há de facto festa como aquela!

Para a autora deste texto foi uma estreia a ida à Quinta da Atalaia. E assim confirmou que não há festa como a do Avante! Chegada ao recinto ao final da tarde da sexta-feira, 12 de Setembro, para dar início à primeira digressão pela festa comunista que marca reentré política daquele partido. Esta festa realiza-se desde 1976 e andou a pulular por vários locais de Lisboa até assentar arraiais na margem sul, no Seixal.
O PCP vai agora comprar mais sete hectares contíguos ao terreno que já possui, a perder de vista, onde os camaradas trabalham todo o ano para, chegados a Setembro, realizar uma festa a sério, para a malta do partido e para os outros todos que habitualmente se juntam ao evento.
Será no entanto muito difícil contabilizar os mares de gente que assistem às várias propostas, seja do programa politico-partidário, cultural, ou do verdadeiro roteiro gastronómico que é possível fazer durante os três dias da festa.
“Não há festa como esta” é o verdadeiro epíteto desta realização que prima pela organização e pela camaradagem que se instala onde quer que se vá. As delegações trazem o que de melhor têm as regiões e é um regalo para vista (sendo muito mau para a carteira) pois há artesanato do norte a sul do país (cerâmica e cestaria, por exemplo).
São horas agora para uma pausa e damos de frente com a gastronomia da Madeira. Sai uma sopa da Romaria, outra com trigo e pão do caco. Depois uma poncha que o dia é de estreias. Tudo aprovadíssimo, claro está.
Passa agora o ex-lider Carlos Carvalhas, assim como será possível ver Octávio Teixeira, entre outros dirigentes do partido português que melhor sabe organizar uma festa a sério.
Na parte internacional há vários países representados. E é dada assim a oportunidade de comprar o lenço palestiniano, as matrioskas da delegação da Rússia, ou uma t-shirt de Marx no stand do Partido Comunista Alemã o. Che Guevara está por todo o lado, assim como canções revolucionárias que se ouvem em toda a zona internacional.
É impressionante o número de pessoas que se vai deslocando entre a Feira do Livro (verdadeiramente grande), do disco e os muitos palcos onde a animação é permanente.

Recordar os Encontros Internacionais de Artes

Margarida Taveira é simpatizante do PCP desde o 25 de Abril. Como independente, encabeçou a lista do partido à Câmara Municipal de Peniche  e a partir de 1992 cumpriu dois mandatos eleita pela CDU.  A advogada foi sempre vereadora com pelouro atribuído até 2002. A lisboeta vive nas Caldas há 30 anos, mas continua ligada a Peniche e vai à festa do Avante desde a primeira edição, em 1974, que decorreu na FIL em Lisboa. Desde então só perdeu um ano por se encontrar no estrangeiro.
“A festa tem sempre um tema e este ano são os 40 anos do 25 de Abril”, disse a simpatizante, que considera o Avante como “o maior acontecimento cultural e com mais nível que se faz em Portugal”. Sublinha que é também uma oportunidade de dar a conhecer os novos valores da música portuguesa, do folclore de todas as zonas. Por todo o lado, há exposições, documentais de fotografia que lembram os dias da ditadura e os dias da libertação. A mostra de artes plásticas que decorreu este ano tinha referências às Caldas da Rainha por causa dos artistas que fizeram parte dos Encontros Internacionais de Artes, que se realizaram em 1977 na cidade. Há material gráfico e fotografias de uma intervenção artística que teve lugar na Praça da Fruta e que na altura causou muita polémica entre a população.
José Carlos Faria foi um dos militantes que encheu a camioneta que no domingo se deslocou à Atalaia. É um veterano do Avante e ficou muito incomodado com o facto da RTP, serviço público de televisão, “ter concedido apenas 30 segundos do seu tempo ao Avante, com duas frases de Jerónimo de Sousa. É uma autentica discriminação!”.

Stand das Caldas famoso por causa das bifanas

Helena Silva, que estava no stand das Caldas, já nem se lembra há quantos anos vem trabalhar para a Festa do Avante. “Para mim esta festa é tudo. Não há nada igual! É uma emoção, é algo que nos ultrapassa! Venho sempre quatro ou cinco dias por ano”, disse a militante caldense, contando que mesmo antes de se inscrever no partido já vinha a esta festa.
E o que se vende no stand das Caldas? Sandes mistas, croissants e as bifanas “que são as rainhas da festa”, disse.
Ana Rebelo é outra habitué da festa e também só falhou umas “cinco edições por motivos de força maior”.
A militante caldense explica que esta é uma festa que os comunistas fazem, com todo o gosto e carinho, para toda a gente.
Já se trouxe mais comida para o stand das Caldas, só que a legislação “deixou de permitir a vinda dos pastéis e rissóis que nós trazíamos já feitos”, contou Ana Rebelo, explicando ainda que levar trouxas também não é fácil devido às restrições da ASAE.
Da região, além das Caldas, estiveram presentes os comunistas de Óbidos (licores), de Peniche (com a sardinha assada) e do Bombarral (com vinhos). Segundo Isilda Roberto, que é outra  veterana do Avante, há sempre muita gente a perguntar pela louça fálica caldense. Salienta a fraternidade e o facto de “reencontrar camaradas que há 25 anos vinham trabalhar para a festa”.
Pedro Enxuto veio pela primeira vez trabalhar para o Avante. “Já faço parte do partido há vários anos e este ano decidi vir ajudar”, disse o militante que destaca o ambiente entre toda a gente do Avante.” É verdadeiramente espectacular!”, rematou.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

O que é A Carvalhesa?

É uma música popular portuguesa  de Trás os Montes, recolhida por Giacometii e que foi escolhida como a canção nas eleições do Partido Comunista em 1985. Foi usada em sucessivas campanhas eleitorais e hoje é um símbolo, um ritual que abre e fecha os palcos da festa da Quinta da Atalaia. E é ver novos e velhos aos pulos de uma canção tradicional portuguesa que também tem uma forma própria de se dançar. A primeira parte é passada literalmente aos pulos – no meio é preciso ficar rente ao chão e ir subindo em crescendo consoante dita o ritmo da própria música. A esta fase de acalmia segue-se nova explosão de pulos, de vivas que une novos e velhos numa grande alegria partilhada. Há sempre muitas palmas, assobios e sons de alegria que duram minutos e que deixam estupefactos os que nunca tinham visto tal manifestação de fraternidade. E por tudo isto, e muito mais que não cabe neste artigo, pelo menos uma vez na vida, é preciso conhecer e saborear a Festa do Avante.
N.N.