Líder do PCP apelou em Alcobaça ao voto “de esperança no futuro”

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Jerónimo de Sousa não se esquece das responsabilidades de Cavaco Silva na actual situação do país e não quer acreditar que os trabalhadores votem em quem esteve contra eles

Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, esteve em Alcobaça na passada segunda-feira, num jantar de apoiantes à candidatura de Francisco Lopes que reuniu centena e meia de pessoas. A menos de uma semana das eleições presidenciais do próximo domingo, o líder dos comunistas disse que “nada está decidido” e apelou a todos os presentes para que espalhem a mensagem de que o voto em Francisco Lopes é “um voto de confiança, de esperança no futuro”.
Já antes o responsável pelo PCP no concelho de Alcobaça, Rogério Coelho, tinha dito que é preciso “ganhar mais e mais gente para o voto da ruptura”. O comunista elogiou aquele que diz ser “o único candidato saído dos trabalhadores”, e por isso mesmo atento aos problemas destes.
Depois foi a vez de Jerónimo de Sousa apelar à mobilização numa “batalha que não vai decidir tudo, mas pode decidir muito”. Repetindo aquilo que tem sido constantemente defendido pelos comunistas (ainda na segunda-feira anterior o deputado António Filipe tinha dito o mesmo nas Caldas), o líder do PCP afirmou que “é muito importante que na Presidência da República esteja alguém que não se limite a jurar, mas que cumpra e faça cumprir a Constituição”. E quem melhor para esta missão que “um homem que não tem nenhum compromisso nem nenhum comprometimento com a política de direita”?
Ao que parece, o PCP recusa-se a reconhecer a legitimidade da candidatura de José Manuel Coelho, apesar do Tribunal Constitucional a ter aceite. É que são já diversas as ocasiões em que os comunistas teimam referir-se aos “cinco candidatos presidenciais”, precisamente o que fez Jerónimo de Sousa no jantar-comício em Alcobaça. Francisco Lopes “não é mais um candidato”, garantiu, mas sim “um candidato diferente de todos os outros”, o único que tem um projecto e que afirma claramente a necessidade de romper com as políticas de direita com que os comunistas dizem que o país tem sido governado. Isto apesar do Governo actualmente no poder ser do PS, logo de esquerda.
Uma crítica insistentemente repetida, que antecedeu uma outra que também não é nova: a de que todos os outros candidatos têm culpa na actual situação do país e que todos foram coniventes com um Orçamento de Estado que penaliza sobretudo trabalhadores, pensionistas e pequenos e médios empresários.
Mas o dedo foi apontado sobretudo ao actual Presidente da República e candidato Cavaco Silva. Para Jerónimo de Sousa, o candidato apoiado pelo PSD e CDS-PP é um grandes culpados por hoje Portugal ser um país com 700 mil desempregados, em que 1,2 milhões de jovens são confrontados com o trabalho precário, com dois milhões de pobres, “enquanto a riqueza se concentra na mão de um punhado de financeiros e senhores da Banca”.
O comunista acusa o actual Presidente da República de “concentração estratégica com o Governo de José Sócrates”, mas de andar em campanha a falar nos mais prejudicados. “Cavaco Silva não é capaz de esconder que 90% da factura será paga por quem trabalha, por quem vive de uma pensão, dos pequenos e médios empresários”, disse Jerónimo de Sousa.
E deixou o alerta: “Se a direita apanha lá Cavaco Silva, vai dobrar a parada camaradas, vai acentuar a ofensiva, a pressão, a desestabilização, que está a reflectir, designadamente, no projecto de revisão constitucional, nas intenções que tem em relação ao Serviço Nacional de Saúde, em relação, enfim, a tudo aquilo que são serviços públicos”.
Para Jerónimo de Sousa o país só conseguirá sair da crise criando mais riqueza, trabalhando mais e melhor. “Só criando mais riqueza podemos ficar a dever menos”, mas isso não se faz com a “destruição do aparelho produtivo a que se tem assistido”. O líder dos comunistas diz que Francisco Lopes é o único candidato que tem um projecto a apontar para o caminho certo, um caminho que passa pela recuperação das pescas, da agricultura, pelo aproveitamento do subsolo, tanto dos minérios como do gás natural que há por explorar, pelo apoio à indústria e o reforço não só da exportação, mas também da capacidade de compra do mercado interno.
Por fim, Jerónimo de Sousa garantiu que nestas presidenciais há apenas uma candidatura “no dia seguinte, seja qual for o resultado, vai estar com os portugueses, com os trabalhadores”. E apesar do candidato ter passado o dia bem longe, em campanha no litoral alentejano, não faltaram as palavras de apoio: “Francisco avança, com toda a confiança!”, pôde ouvir-se por diversas vezes no salão da Quinta das Carrascas, na localidade da Junqueira, freguesia de Cela. A noite contou ainda com um poema escrito pelo alcobacense Palma Rodrigues, declamado por José Carlos Faria, encenador do Teatro da Rainha.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt