A electrificação da totalidade da Linha do Oeste e melhoria do material circulante foram algumas das propostas defendidas na sessão pública sobre os investimentos previstos para esta linha ferroviária, que decorreu no passado dia 22 de Abril nas Caldas. Consensual é também que a obra possa ser feita de forma faseada, mas que a sua programação estratégica deve ser desde já definida. Organizada pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste, a sessão contou com a presença de cerca de 40 pessoas, entre deputados na Assembleia da República, autarcas e população interessada no futuro da ferrovia.
Horas depois de ter apresentado um projecto de resolução na Assembleia da República em defesa da requalificação do transporte ferroviário da Linha do Oeste como factor de desenvolvimento regional, o deputado Bruno Dias esteve nas Caldas da Rainha. Considera que esta linha é importante não só para a região, mas para o país, e defendeu a sua modernização faseada, embora assente numa estratégia de médio e longo prazo. De acordo com o deputado do PCP, deve ser considerada toda a linha nos projectos de modernização, envolvendo os troços a sul e norte das Caldas, no quadro de elaboração do Plano Ferroviário Nacional, bem como da reanálise do Plano Estratégico de Investimentos em Infraestruturas em Ferrovia – 2020. Entende que a discussão da linha não faz sentido sem abordar o material circulante, defendendo a preparação para a sua substituição futura, com a adopção da tracção eléctrica. Bruno Dias pediu ainda a reabertura de estações com pessoal ao seu serviço, que se possa dar a devida assistência aos passageiros, e a instalação nas estações e apeadeiros de um sistema de informação electrónica para se poder saber os horários em tempo real. Para o deputado do BE na Assembleia da República, Heitor de Sousa, o actual governo fez mal em continuar o plano do seu antecessor, que “excluía as pessoas e concentrava os investimentos na ferrovia de mercadorias”. Defende a revisão do plano estratégico de transportes, assim como a requalificação de toda a Linha do Oeste.
“Queremos um transporte inter-regional na Linha do Oeste e não uma linha suburbana”, disse, defendendo a unidade da linha e a sua importância do ponto de vista económico e territorial. Também o BE apresentou um projecto de resolução na Assembleia da República, a 20 de Abril, onde defende a requalificação da linha e a sua inclusão no Plano de Investimentos Ferroviários 2016-2020.
Por sua vez, José Miguel Medeiros, deputado socialista na Assembleia da República, defendeu que o processo tem que ser programado em toda a sua plenitude, ainda que a sua concretização venha a ser faseada. Referindo-se à Linha do Oeste como “decisiva para a região e o país”, o deputado eleito por Leiria disse ainda que é desejável que esta sirva as vertentes de passageiros e mercadorias. José Miguel Medeiros justificou ainda que o governo não alterou o plano anterior para não atrasar os apoios comunitários, mas que o pretende fazer quando for a altura de fazer os reajustamentos.
Posição diferente tem Manuela Cunha, de Os Verdes, ao considerar que valia a pena esperar mais algum tempo e definir uma estratégia e prioridades para a ferrovia. Soube, pelo governo, que actualmente não há dinheiro para a electrificação até ao fim da linha, pelo que resta aos Verdes “continuar a pressão para que seja feito o plano estratégico, bem como os investimentos adequados”.
“OESTE TEM SIDO MARGINALIZADO”
A nível local também foram vários os eleitos e populares a ma
nifestar a sua posição pela defesa da linha. O vereador caldense Alberto Pereira defendeu uma alteração ao seu traçado por forma a entrar em Lisboa por Loures e ligar ao aeroporto. Lembrou os estudos feitos (um deles pago pela Câmara das Caldas) e investimentos previstos e considera que este trabalho não deve ser “deitado fora”. A deputada municipal de Óbidos (PS), Cristina Rodrigues, partilhou a sua experiencia pessoal de utilizadora desta linha e desejou que a obra seja feita o mais rapidamente possível. Comungou da possibilidade do investimento ser feito de forma faseada e não compreende que a linha seja “quebrada” a meio. Cristina Rodrigues defendeu também a construção de um atalho que passe por Loures, de forma a encurtar a ligação a Lisboa, e que esta linha possa ser uma alternativa suburbana, por forma a resolver os problemas das pessoas de fora da capital. António Barros, que integrou a comissão de utentes pela Linha do Oeste, revelou que os sucessivos governos nunca consideraram a Linha do Oeste na rede transeuropeia para a obtenção de fundos comunitários e lembrou que esta só não foi encerrada, em finais de 2011, graças à comissão de utentes e à autarquia das Caldas. Já o deputado municipal caldense pelo PCP, Vítor Fernandes, referiu que o Oeste tem sido marginalizado em termos de obras de grande envergadura, lembrando as contrapartidas pela deslocalização do aeroporto da Ota, que nunca se vieram a concretizar, entre elas e modernização da Linha do Oeste. A união dos autarcas em torno desta linha foi sublinhada pelo vereador caldense Jorge Sobral, que entende também que é preciso perceber o que se quer a longo prazo. Rui Raposo, da Comissão para a Defesa da Linha do Oeste, realçou que, ligado à necessidade do investimento infra-estrutural deve estar também a modernização do material circulante. “A CP já anunciou que não faz mais investimento em material”, disse, questionando-se sobre qual o tipo de comboios que irão circular na Linha após 2020, altura em que se prevê que parte dela já esteja modernizada. Além disso, falta investimento nas estações, disse, acrescentando que algumas delas estão, inclusivamente, à venda, como é o caso da de Óbidos. Rui Raposo defendeu ainda a necessidade de melhoria dos horários, de acordo com as necessidades dos utentes, e também dos preços dos bilhetes. A comissão continua disponível para dialogar com todos em torno da defesa da Linha do Oeste e sua modernização, assim como para “encetar toda a luta que seja necessária” para continuar a defender esta linha, concluiu.
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