Comerciantes da Rua de Camões aflitos com o atraso nas obras

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Gazeta das Caldas

manilhas copyAs obras da Rua de Camões estão a deixar os comerciantes e os residentes em estado de nervos. Alguns suspeitam que o último prazo anunciado pela autarquia para a finalização daquela obra – final de Março , não seja cumprido.
Os que mantêm as portas abertas e que conseguiram resistir aos vários meses de trabalhos numa das principais artérias da cidade são comerciantes com muita experiência. Apesar das frequentes reuniões com o presidente da Câmara, lamentam que as obras decorram a passo de caracol e com poucos trabalhadores.
Não entendem a necessidade de terem arrancado inicialmente o passeio calcetado junto às lojas, o que transformou a zona num lamaçal permanente quando chove e pouco atractivo aos peões.
Gazeta das Caldas foi ouvir quem tem o seu negócio naquela rua e que só pede que se cumpram prazos. Se estes se estenderem ainda mais temem que tenham que fechar a porta.

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Nuno Costa proprietário de uma loja de cerâmica, Júlio Almeida do restaurante Tijuca e Carlos Pessi da Geladaria Puzzle.

“Vamos ver se quando as obras acabarem eu não fui à falência!”. Palavras de Nuno Costa, um dos comerciantes com uma das lojas de venda de cerâmica. Trabalha com o pai neste estabelecimento e queixa-se que as pessoas, ao verem tudo revirado e com a circulação interrompida, acabam por não se dirigir ao seu espaço que vende louça das Caldas. E quando chove ainda é pior pois “fica tudo cheio de lama e mal se consegue andar”.
Para Abel Vinagre (proprietário do Restaurante Selim e que possui um hostel na Rua Bordalo Pinheiro), esta intervenção “está a causar muito transtorno e prejuízo, mas temos a promessa do presidente que vai ficar concluída no fim de Março”. O comerciante está satisfeito com o contacto permanente da autarquia, mas queria que fosse possível retirar o entulho e as manilhas que não estão a ser usadas de modo a que este aspecto não afaste os transeuntes.
Além da crise que já tinha provocado uma diminuição grande no volume de negócios, “agora estamos mesmo com enormes perdas”. Uma das sugestões que faz para melhorar a utilização da rua quando estiver pronta, é a colocação de parquímetros de modo a evitar que deixem os veículos o dia inteiro nos estacionamentos existentes.

“Dá a volta e vai-se embora”

Júlio Almeida, proprietário do Restaurante Tijuca (já há 39 anos) bateu-se pela abertura da rua para que a circulação fosse possível, já que se se tivesse mantido encerrada, “teria sido dramático”.
O empresário diz que quem vem almoçar ou comprar um pacote de cavacas, vê que não tem onde parar e por isso “dá a volta e vai-se embora”. Acha, por outro lado, que os comerciantes estão a suportar custos duma intervenção bastante demorada, algo que surpreende os visitantes já que comentam “por todo o lado que não há meio das obras acabarem”.
Queixa-se também que tem clientes a quem já custa andar e que ao ter que estacionar o carro no CCC ou na Parada, acabam por deixar de vir. “Se esta rua é o coração da cidade, então deveria ter isso dada prioridade ao fim da sua  intervenção. E isso não se vê”, rematou, acrescentando que teria grande utilidade limpar o entulho e as manilhas que têm ficado no que antes eram os passeios da rua.
O empresário da Pastelaria D. Leonor aproveitou as obras para fechar a sua loja e efectuar melhoramentos no seu espaço. Concorda com os seus colegas e só pede para que os prazos sejam cumpridos.
Carlos Pessi, da Geladaria Puzzle, que funciona há 17 anos na Rua de Camões, também está preocupado sobretudo porque “as obras andam devagar”. Questiona, por exemplo, a necessidade de “arrancar todo o passeio se já sabiam que havia atrasos nas outras empreitadas”.
Se as obras terminarem no prazo previsto, agora não seria mau pois o seu negócio é sazonal. “Se o Verão apanhar as obras, então posso encerrar as portas. Ninguém aguenta… só quem não precisa de trabalhar”, comentou o empresário, que já teve três empregados, mas que agora assegura apenas o seu posto de trabalho. Carlos Pessi pede ainda animação após as obras a fim de dinamizar aquela área.

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Abel Vinagre proprietário do Restaurante Selim, o empresário da Pastelaria D. Leonor e António Mendes da Casa Licas

Gazeta das Caldas questionou a responsável pela Pastelaria Machado, mas esta não quis prestar declarações.
Ali Azimbhai, responsável da Residencial D. Carlos I lamenta que a obra não tenha sido minimamente planeada. “Se ia demorar porque é que retiraram toda a calçada dos passeios?” pergunta o empresário que se questiona ainda como é que os seus clientes, carregados com as malas chegam à sua residencial com lama por todo o lado. Ali Azimbhai sabe que as obras trazem benefícios e que há boa vontade da Câmara “mas esta pode mostrar muito boa vontade, mas creio que não tem poder junto da empresa que está a fazer este serviço. Enquanto eles não acabarem o trabalho junto à Câmara, não podem vir para cá”, rematou.
António Mendes, da Casa Licas, que vende cerâmica na Rua de Camões desde 1978, afirma que a intervenção na rua causou-lhe descidas no volume de negócios na ordem dos 30 a 40%.
É filho do proprietário que tem uma segunda loja de cerâmica, na rua de Camões, junto ao Gato Preto, teme que o final de Março seja um prazo apertado para a finalização da obra e acha que depois de tudo pronto deveriam ser colocados parquímetros.
Jean-Christophe Giuntini explora o Café Populus, no Parque D. Carlos I. Este francês, radicado em Portugal há duas décadas, lamenta que o planeamento não seja o mais correcto e que esta intervenção já some meses de atraso. “Como consequência trouxe muitos prejuízos nos negócios, tendo existido uma quebra na facturação bastante grande e a supressão de postos de trabalho”. No caso do Pópulus, foi um posto de trabalho que se perdeu.
Na sua opinião, as obras eram necessárias, mas era preciso ser mais rigoroso e exigir cumprimento de prazos. “Todos temos despesas para honrar e somos reféns de empreiteiros sem receber qualquer tipo de contrapartida”, disse o empresário. No mês de Janeiro Jean-Christophe Giuntini optou por só abrir ao fim de semana pois durante os outros dias simplesmente não compensava. “Quem é que atravessa uma rua cheia de lama para vir aqui?”, questionou.

Celebrar o 25 de Abril com a rua pronta

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Fernando Rocha responsável pelo Espaço Abril

Fernando Rocha (que viria a falecer repentinamente depois desta reportagem), responsável pelo Espaço Abril, estava muito satisfeito por ser no seu próprio espaço que se realizavam as reuniões com o presidente da Câmara sobre o andamento das obras. O responsável afirmou que as obras eram importantes para dar um novo “elan” à rua apesar dos atrasos estarem a causar prejuízos gravíssimos aos comerciantes. Disse até que seria útil “se a Câmara procurasse verbas para compensar os comerciantes dos prejuízos”.
Fernando Rocha queria também que retirassem o entulho da rua, pois este dava mau aspecto ou, no mínimo, que este fosse tapado com oleados. O responsável pelo espaço cultural disse que era seu desejo celebrar o 25 de Abril com a rua totalmente intervencionada. Uma ideia que, infelizmente, não vai poder realizar.