Terminal rodoviário no centro das Caldas agrada à Câmara, aos comerciantes e à Rodoviária do Tejo

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rod3A “nova” estação rodoviária que resultou das obras de modernização e ampliação do velho edifício inaugurado em 1949 foi inaugurada na passada segunda-feira, depois de um investimento de meio milhão de euros da Rodoviária do Tejo. Na curta cerimónia – que começou com 50 minutos de atraso devido à chegada tardia do presidente da Câmara – foi sublinhado que é uma mais valia para a cidade e, sobretudo para o seu comércio, que a estação de autocarros continue localizada bem no seu centro.

Em Portugal o protocolo ainda conta muito, mas os horários contam pouco. Por isso, os administradores da Rodoviária do Tejo e da Rede de Expressos, o presidente da Assembleia Municipal, outros convidados e jornalistas, tiveram que aguardar 50 minutos para que a cerimónia de inauguração do novo terminal rodoviário tivesse lugar. O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, acompanhado dos vereadores Hugo Oliveira e Alberto Pereira, chegou pouco antes do meio-dia para um evento que deveria ter começado às 11h00.
A espera não foi agradável. O dia cinzento e húmido e uma chuvinha miudinha que se infiltrava facilmente pela parte coberta do novo terminal provam que esta zona não é muito confortável para quem se atreva a aguardar pelos autocarros fora da sala de espera. As antigas oficinas foram demolidas e no seu lugar há agora uma extensa área, quase toda a céu aberto, com lugar para mais sete linhas de autocarros e outros tantos lugares de estacionamento. A estação das Caldas mais do que duplicou a sua capacidade para acolher os autocarros.
Para breve está prevista a colocação de um painel de azulejos da Fábrica Bordallo Pinheiro, tal como já aconteceu na zona mais antiga da estação. Uma forma da Rodoviária do Tejo prestar homenagem ao artista e à tradição cerâmica caldense.
Martinho Costa, administrador da Rodoviária do Tejo, fez notar que “um sítio esconso e sujo deu lugar a um terminal aberto, limpo e claro” e agradeceu à autarquia pelo facto de não seguir o exemplo de outras cidades que deslocalizaram os terminais rodoviários para a periferia, no que se traduziu numa quebra de passageiros.
Tinta Ferreira referiu que esta inauguração ocorre num momento importante para a cidade porque coincide com as obras de rod1regeneração urbana, mostrando-se satisfeito por “a Rodoviária do Tejo ter tomado a iniciativa de acompanhar o município neste esforço de requalificação urbana”.
O autarca referiu que “durante muito tempo pensou-se que estes espaços deveriam estar longe do centro das cidades, mas verificou-se que nas localidades que fizeram essa aposta, houve uma maior desertificação e uma insatisfação das pessoas que têm de apanhar um outro autocarro ou um táxi”, razão pela qual nas Caldas da Rainha a estação rodoviária se mantém no mesmo sítio.
A opção de colocar os terminais de autocarro na periferia tem sido seguida um pouco por todo o país, com resultados que, segundo Martinho Costa, são prejudiciais para a transportadora porque as pessoas preferem ir directamente para o centro e o transbordos são desincentivadores. Por outro lado, são as próprias cidades que perdem movimento no seu centro, com prejuízo para o comércio.
Isso mesmo fez notar o presidente da ACCCRO, Paulo Agostinho, numa discreta conversa com o administrador da Rodoviária, contando que a presença da estação no centro da cidade era vital para o comércio caldense.
Na área de influência da Rodoviária do Tejo, que opera nos distritos de Leiria, Lisboa e Santarém, há, pelo menos, quatro cidades que retiraram os terminais rodoviários do seu centro: Peniche, Torres Vedras, Almeirim e Rio Maior.
Estas obras contemplaram sobretudo a parte operacional, mas uma parte do edifício – que foi projectado pelo arquitecto Camilo Korrodi – continua sem aproveitamento. O antigo restaurante aguarda que a Rodoviária do Tejo decida se o vai alugar ou se será utilizado para funções administrativas. Já a loja da louça, no rés-de-chão, poderá vir a ser uma extensão da Mercearia Pena, cujo proprietário, Rui da Bernarda, já explora o café Capristanos ao lado.

Menos clientes mas mais lucros

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A Rodoviária do Tejo investiu cerca de 500 mil euros nestas obras na sua estação, inteiramente financiados com fundos próprios. Apesar de uma quebra na procura nos últimos três anos que se situou entre os 15% e os 20%, a empresa teve sempre lucros: 1,9 milhões de euros em 2012, seguidos de 2,9 milhões em 2013 e 2,5 milhões no ano passado.
A empresa conta com 703 trabalhadores, dos quais 556 são motoristas. Possui uma frota de 542 viaturas.
A Rodoviária do Tejo é a empresa líder de um grupo que é composto também pela Auto-Penafiel (Rocaldas) e Viva Bus. Esta última pertencia ao grupo GPS, mas foi comprada pela Rodoviária do Tejo antes das notícias relacionadas com o escândalo dos colégios privados financiados com dinheiros públicos. Devido à má fama da sigla GPS a administração resolveu alterar o nome para Viva Bus.
E quem são os donos da Rodoviária do Tejo?
A resposta não é fácil. A empresa é detida em partes iguais pela Intercentro e pelo grupo Barraqueiro. A primeira é constituída por um conglomerado de rodoviárias portuguesas que pertencem ao grupo francês Transdev. A segunda é maioritariamente pertença do empresário Humberto Pedrosa, se bem que parte do seu capital é detido também pela britânica Arriva que, por sua vez, foi recentemente comprada pela DB, uma empresa pública alemã.
Já a Rede de Expressos é uma empresa composta por uma pool de rodoviárias que alugam os seus autocarros à primeira. A Rede de Expressos não tem um único autocarro nem um único motorista nos seus quadros. É composta por apenas 35 pessoas que gerem a operação e têm a seu cargo a função comercial e de marketing. Tudo o resto é comprado às rodoviárias parceiras.
A par da Rodoviária do Tejo, a Rede de Expressos é a transportadora que mais usa o terminal das Caldas da Rainha.

A melhor central de camionagem da Península Ibérica 
rodoQuando foi inaugurada, em Janeiro de 1949, a estação da rodoviária dos Capristanos era a mais bonita do país e a melhor da Península Ibérica, ombreando com as mais destacadas da Europa.
A família Capristano, que tinha começado o seu negócio no Bombarral no início do século, mudara-se recentemente para as Caldas – onde chegou a construir um bairro residencial para os seus trabalhadores – e inaugurava um edifício que era uma referência para a época.
Alguns anos depois, a empresa é vendida aos Claras que, após o 25 de Abril e com as nacionalizações, é integrada na Rodoviária Nacional. Com a privatização desta empresa pública, o terminal passa a pertencer à Rodoviária do Tejo.
Republicamos aqui uma parte de uma reportagem publicada em 14/05/1999 num suplemento da Gazeta das Caldas dedicado à história da empresa Capristanos.
Um barracão oficina?

A construção da central de camionagem não foi isenta de críticas. No discurso inaugural, publicado na Gazeta das Caldas de 23/01/1949, José Capristano, “que se encontrava ladeado de seu pai e de seu irmão Artur Capristano”, responde àqueles que o acusavam de “querer arrastar as autoridades para um sonho irrealizável” e que diziam que a montanha iria parir um rato.
“O nosso rato seria um barracão oficina com todo o seu cortejo de inconvenientes, numa zona que devia ser expressamente reservada à construção de habitações”, reza o discurso, “mas nós, meus senhores e minha senhoras, desde o primeiro dia em que nos deslocamos a esta encantadoura terra no intuito de nela nos fixarmos, tínhamos traçado o nosso plano; sabíamos já o que queríamos e estávamos francamente compenetrados da dívida que tínhamos para com as Caldas, pela ajuda insofismável que ela sempre nos dera no desenvolvimento da nossa actividade”.
E o resultado estava à vista – a melhor estação rodoviária do país e uma das mais modernas da Europa.

O primeiro centro comercial

Mais do que uma garagem, o empreendimento dos Capristanos foi o primeiro centro comercial das Caldas.
Tinha restaurante, café, sala de espera, bilheteiras, tabacaria, barbearia. Vitrines bem iluminadas serviam de montras às principais lojas caldenses que ali mostravam os seus produtos e durante todo o dia os mesmos “altofalantes” onde eram anunciadas as partidas e chegadas, transmitiam música ambiente. Um verdadeiro luxo para a época.
A Gazeta de 16/01/1949 sublinhava os “cuidados” da empresa para com os seus empregados: “tudo foi conjugado não apenas para que o pessoal dispuzesse de instalações próprias, mas até para que o trabalho fosse mais facilitado. A par das camaratas, do refeitório, de instalações sanitárias, de vestuário individual, da comodidade do uniforme, vemos as oficinas higiénicas, cheias de luz e ar, dotadas de aparelhagem própria para facilitar o trabalho, torná-lo menos violento e perigoso”.
“Aquela garagem, apesar do movimento de autocarros a entrar e a sair, estava sempre impecavelmente limpa. Podia-se comer no chão. O meu avô, o meu pai e o meu tio eram extremamente exigentes”. Artur Capristano (neto) não exagera (o que até seria perdoável, quando se trata de falar dos seus) pois todos os testemunhos evocam a limpeza da garagem, o brilho dos metais e dos azulejos. “Havia um empregado, de fato de macaco e boné, que passava o dia a limpar os pingos de óleo no chão”, conta Alfredo Gonçalves.
“O Zé [Capristano] entrava na garagem e não deixava escapar nada, um pingo no chão, um empregado mal fardado, ele chamava logo a atenção” salienta Fernando Horácio Duarte, amigo de José Capristano.
Não surpreende então, que a garagem passasse a par da Praça da Fruta e da Rua das Montras – a fazer parte do roteiro dos caldenses nos seus dias de lazer. Aos Capristanos ia-se passear e ouvir música na garagem ou no café. “E aquilo era só gente de bem”. Enfim, nos Capristanos, até se apanhava a camioneta…
Aos Domingos à tarde actuava uma pequena orquestra no café, num palco construído para o efeito. Além de música ambiente, a empresa oferecia também música para delicia das elites caldenses.
Alguns anos mais tarde o primeiro café da cidade a ter televisão só poderia mesmo ser o dos Capristanos.
Requintado, mas prenhe de uma intensa vida social. No café cruzavam-se empregados, passageiros, visitantes.
Os futebolistas do Caldas, a quem Artur Capristano (filho) dava emprego na firma, conheciam as namoradas nos cafés e alguns chegaram a casar, com o beneplácito de Artur e da firma, que chegou a pagar os copos de água.
O restaurante, no primeiro andar (onde mais tarde seriam as Finanças das Caldas) era um dos mais conhecidos e caros do país. “Não era qualquer um que lá ia”, dizem os ex-empregados da firma. A cozinha era esmerada e há quem jure que havia gente de muito longe que vinha de propósito às Caldas para almoçar ou jantar nos Capristanos.
Numa ocasião, foi emitido a partir das oficinas um programa de rádio muito conhecido – “Os Companheiros da Alegria”, de Igrejas Caeiro – o que espelha a importância da garagem (um programa de rádio tinha naquela época tanto ou mais impacto que hoje um “directo” de televisão). (…)

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Não concordo com o terminal no centro. Para quem viaja para Lisboa, que deve ser a maioria dos passageiros, não tem estacionamento e perde 5 a 10 minutos a passear, ou a poluir, de autocarro pela cidade. Para além disso, agora podemos sempre estar mais fresquinhos no inverno quando esperamos para entrar no autocarro às 6 da manhã. Que falta de visão.
    Mas pronto, tudo em prol dos comerciantes, que apesar de estarem quase todos falidos, continuam a insistir nos carros pelo meio da cidade.