Uma viagem entre Marinha Grande e Runa (Torres Vedras). Foi este o primeiro passeio turístico organizado, de comboio, no dia 19 de Julho, pela empresa caldense Turis3D, que pretende fazer da linha ferroviária uma alternativa às estradas e, com isso, dinamizar a Linha do Oeste.

Cerca de 40 alunos da Universidade Sénior da Marinha Grande (alguns acompanhados dos netos) foram os primeiros a experimentar os serviços desta empresa. Em Runa a grande atracção foi a visita ao edifício setecentista do Centro de Apoio Social das Forças Armadas.
Os participantes elogiaram a iniciativa do empresário Carlos Marques (da Turis3D), mas criticaram o tempo de espera pelos comboios que, tanto na ida como no regresso, se atrasaram 45 minutos. Um mau começo da CP, que não esteve à altura do projecto da empresa turística.

Gazeta das Caldas embarca na estação das Caldas no comboio que traz os seniores desde a Marinha Grande. Este deveria chegar às Caldas às 10h55 e arrancar de novo às 11h15, mas só acabaríamos por partir às 12h00, ou seja, com 45 minutos de atraso.

Carlos Marques não contava com este imprevisto, mas assegura que haverá tempo para fazer a visita ao Centro de Apoio Social de Runa e almoçar, pois o regresso só está marcado para as 15h20.
Apesar da espera o ambiente é de boa disposição entre os alunos da Universidade Sénior da Marinha Grande que não se deixam desanimar e aproveitam a paragem nas Caldas para tirar fotografias e cantar dentro do comboio. Duarte Dias, o animador de serviço, vai saltitando entre as três carruagens e acompanha-os com a sua guitarra.
As músicas do Zeca Afonso são as mais solicitadas, como a “Formiga no Carreiro”, mas os fados de Lisboa também recebem muitas palmas.
A viagem serve ainda de oportunidade para netos e avós conviverem. São 10 as crianças a bordo e as mais curiosas apontam o dedo para a janela e perguntam aos avós que terra é aquela por detrás do vidro. Óbidos é apelidado como a vila entre muralhas, Bombarral como o concelho da pêra e do vinho. Ao todo paramos oito vezes até chegar a Runa: em Óbidos, Dagorda, São Mamede, Paul, Bombarral, Outeiro, Ramalhal e Torres Vedras.
Pé fora do comboio, encontramos uma estação encerrada que foi claramente deixada ao abandono. Os grafites e os rabiscos nas portas, o buraco vazio onde anteriormente giravam os ponteiros de um relógio e as ervas daninhas que tomaram conta da vegetação são uma realidade muito distante daquela dos anos 40 e 50. É que numa das paredes da estação ainda brilham as placas dos prémios recebidos em 1946, 1947 e 1950 com a distinção da estação com a melhor decoração floral. Nos dois anos seguintes, Runa obteve o segundo e o terceiro lugares das estações floridas.
Escassas centenas de metros separam a estação degradada de um edifício do século XVIII imponente e bem conservado. Trata-se do Centro de Apoio Social de Runa, um dos centros da Instituição de Acção Social das Forças Armadas.
Chegados ao edifício fundado pela princesa Maria Francisca Benedita, os alunos seniores visitam a capela e o museu, onde estão expostas colecções de arte sacra, porcelanas e faianças, ourivesaria e pintura.
O almoço decorre depois no salão de baile e sobra apenas tempo para beber um café rápido, pois o comboio não espera por nós. Mas, afinal, tivemos nós de esperar por ele. Mais uma vez, Carlos Marques é surpreendido por um atraso de… 45 minutos.

ATRASOS DOS COMBOIOS PREJUDICAM A VISITA

Sobre o passeio, Agostinho Febra, diz que “a ideia é muito boa, mas a visita acaba por ser prejudicada devido aos atrasos dos comboios. Tempos de espera que deixam as pessoas – principalmente as crianças – impacientes e cansadas”. O que, na opinião do aluno de 69 anos, “é uma pena pois as carruagens são confortáveis e o convívio é muito bom”.
Gazeta das Caldas contactou posteriormente a CP, questionando o motivo dos dois atrasos de 45 minutos. e João Maurício, assessor do Conselho de Administração, respondeu: “tratando-se de uma via única, onde prevalece o cantonamento telefónico, isto é, os comboios só podem cruzar entre si nas estações guarnecidas com pessoal, qualquer avaria de material, como se verificou num comboio que circulava em sentido oposto, causa atrasos nos comboios que aguardam para prosseguir, originando um processo de atrasos em cadeia”.
Além disso, o responsável acrescentou que o facto da Linha do Oeste não estar ainda electrificada impossibilita a CP de disponibilizar aos seus passageiros comboios eléctricos mais rápidos.

“QUERO DINAMIZAR A LINHA DO OESTE”

É em plena viagem que Carlos Marques nos fala sobre o seu projecto. Empresário no ramo do turismo há quatro anos, evoluiu da marca registada Marquetur para a criação de uma empresa: Turis3D – Passeios Turísticos, Unipessoal Lda.
“Actualmente o meu principal negócio é fazer passeios turísticos em viaturas, através de contactos com os hotéis com quem estabeleço uma rede de clientes”, explica o empresário, acrescentando que decidiu apostar nos passeios seniores porque quer dinamizar a Linha do Oeste.
“Pode ser que assim a CP perceba que se a linha tiver condições operacionais, as pessoas vão recorrer mais ao comboio, um meio de transporte que é mais barato, seguro e cómodo que o rodoviário”, sublinha Carlos Marques, que actualmente está em contacto com as restantes oito universidades seniores do Oeste (Nazaré, Alcobaça, Alfeizerão, Pataias, Benedita, Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras) e com a Liga dos Combatentes para a realização deste passeio turístico.
Daniela Anéis, coordenadora pedagógica da Universidade Sénior da Marinha Grande, ficou muito satisfeita pelo facto dos seus alunos terem sido os primeiros a realizar a viagem de comboio da Turis3D. “Na Marinha Grande o comboio tem uma mística muito importante, pois durante 40 anos havia um comboio de lata [de via estreita] que atravessava Pinhal do Rei até à praia de S. Pedro de Moel”, revela, adiantando que o percurso ferroviário permite “olhar o Oeste sob outra perspectiva”.
No futuro Carlos Marques quer fazer mais do que animação musical no comboio: “o objectivo é apresentar pequenos teatros nos quais em cada estação o actor fará uma explicação sobre a própria localidade”, explica.
O nome da empresa – Turis3D – faz referência ao grande sonho de Carlos Marques, que pretende organizar passeios turísticos não só em meio terrestre, mas também em aéreo e aquático.“São três dimensões, três direcções, três destinos. Podem chamar-lhe utopia ou irrealismo, mas eu sei que é possível até porque já existem viaturas híbridas, que tanto se deslocam em terra como na água”, sublinha.
Actualmente Carlos Marcos realiza passeios entre o Oeste e Lisboa.