25 de Abril – Dia de Mudanças

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Mercês Silva e Sousa
professora

Um dia, em Silva Porto (assim designada em homenagem ao explorador português Silva Porto até 1975, altura em que foi apelidada de Cuito, capital da província do Bié em Angola), o meu marido, alferes miliciano do 1º Esquadrão de Cavalaria a cavalo, foi chamado para ir para uma frente de combate – no então Munhango – durante o mês de agosto de 1973. Fiz tudo o que era possível para não ficar sozinha na cidade que pouco conhecia e onde não tinha tido tempo de fazer amizade com alguém.
Então solicitei autorização no Quartel para ir com ele e …assim foi. Fomos de comboio e estava um tanto receosa de como seria recebida!
Ao chegarmos ao acampamento, fui a última a descer da carruagem e dirigimo-nos à pequena casa onde ficaríamos. Numa sala pequena comemos e, a certa altura, um militar colocou-se em cima de uma mesa e disse:” Camaradas, a esposa do nosso Alferes não é de lá (suposta Metrópole!), é de cá!” Muitos, antes de entrarem nessa sala batiam à porta e, ao constatarem que eu lá me encontrava, diziam:”Dá licença meu comandante? Ah, desculpe, minha comandanta!” Era a única mulher no Esquadrão, mas todos me aceitaram, consideraram e respeitaram imenso. Foi mais uma experiência inesquecível, na frente de combate, especialmente na forma como fui integrada e tratada por todos!
Iniciei a minha carreira docente na escola básica de Silva Porto a 19/10/1973 e lá permaneci até regressar. Pontualmente aceitei fazer parte de júris de exame no então Liceu. Sentia muita saudade da família e do farol da Europa que é Portugal Continental.
Prevíamos que o meu marido, após cumprir o serviço militar, poderia ficar também a dar aulas numa das escolas, na cidade, mas o dia 25 de abril mudou o planeado.
A 26 de março de 1975 regressámos a Lisboa, debaixo de fogo durante dez minutos de voo. Viemos desempregados e eu no sétimo mês de gravidez.
Com coragem, reiniciei a minha carreira docente em 1975/76 e aposentei-me a 14/07/2020.Foram quase 47 anos de serviço e muita coisa sucedeu…mas saí como as árvores morrem de pé, como desejava.
Com imenso prazer voltei atualmente a dar-me com Angola, quase todas as semanas. A distância deixou de existir!
A vida, com altos e baixos, não foi fácil! A vitória não se consegue sem lutas, sofrimentos, dores, alegrias, dedicação, amor, trabalho e aprendizagens. Nunca perdi duas coisas: o meu conhecimento e a minha fé.
O 25 de abril de 1974 trouxe muitas mudanças pessoais. A nível nacional e internacional, a história vai registando…■

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