Há muito por fazer nos cuidados com doentes de Alzheimer

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IMG_1387O salão Nobre da Câmara das Caldas foi palco do congresso “Mutualismo e Intervenção na Demência”, que se realizou no passado dia 1 de Outubro. Os vários intervenientes trocaram experiências nesta área para melhorar no futuro os cuidados para com os doentes que sofrem de Alzheimer, que são cada vez mais. Mas concluiu-se que há ainda muito por fazer.

A Alzheimer é um problema que está a crescer. Em Portugal estima-se que existam 160 mil pessoas com a doença, número que se pode duplicar até 2030 e triplicar até 2050, segundo referiu Maria do Céu Mendes, directora do Centro Distrital de Leiria da Segurança Social, na sessão de abertura da conferência. Actualmente calcula-se que 30% das pessoas com apoio residencial  – em lares, centro de dia ou apoio domiciliário – sofram da doença. A incidência na população é tanto maior quanto maior o escalão etário.
A apresentação de Maria Guimarães, vice-presidente da associação Alzheimer Portugal (AP), resumiu em três grandes blocos as principais carências das associações e as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) em relação aos utentes com esta doença: a desadequação dos equipamentos (como lares e centros de dia); a falta de formação do pessoal; e a política desproporcional de apoios face aos idosos saudáveis.
Segundo a dirigente da AP, estes equipamentos não têm as condições adequadas para estes doentes, que “precisam de estar em constante movimento”, o que provoca também problemas de exaustão no doente e em quem o vigia.
Maria Guimarães não defende lares próprios só para doentes de Alzheimer, até porque isso seria criar guetos e até uma certa fase da doença o contacto com os utentes comuns é desejável, mas refere que é necessário criar alas próprias. “Adequar o que já existe é a solução”, sustentou.

Formar e motivar pessoal qualificado

Ter pessoal qualificado é também uma dificuldade “porque não existem em número e em saber fazer”, observou. “É preciso formar, motivar e valorizar o pessoal e desenvolver sinergias para trabalhar em rede”, reforçou Maria Guimarães.
A este nível foi já tomada uma medida concreta nesta conferência, com a assinatura de um protocolo entre a RedeMut – que organizou o evento em parceria com o Montepio Rainha D. Leonor – e a AP para a realização de acções de formação específicas.
A dirigente da AP focou ainda a onerosidade de um doente de Alzheimer para as instituições que acolhem e cuidam destes doentes, devido sobretudo ao racio de pessoal por utente que é necessário ter, por se tratarem de utentes que necessitam de acompanhamento constante, e também para os familiares.
Maria Guimarães lamentou a falta de Estado nesta questão, ainda que tenha manifestado esperança de que no novo acordo de cooperação para os centros de dia “o Estado acorde para este problema”. Sobre esta matéria, a vice da AP referiu ser “uma pena que já não esteja aqui a representante da Segurança Social pois normalmente vêm às sessões de abertura e vão embora, não ouvindo o que era preciso que ouvissem”.
Outro problema a este nível é relacionado com os cuidadores. “A partir de certa altura o doente não sofre, mas o cuidador sim, o que por vezes torna-se dramático”, referiu, acrescentando que é preciso providenciar para que os familiares tenham até acompanhamento psicológico.
Todas estas são questões que Maria Guimarães gostava de ver compiladas num Plano Nacional para a Demência.
O evento foi uma organização da Redemut, que junta 17 associação mutualistas, entre os quais o Montepio Rianha D. Leonor. Estiveram presentes vários técnicos e dirigentes destes organismos, pelo que Carlos Salgueiral, presidente da Redemut, espera que possa ter sido “um motor de transmissão de conhecimento a espalhar pelo país”.

Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt