Infraestruturas de Portugal recupera azulejos das estações da linha do Oeste

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Ana Fernandes explica como se está a processar a recuperação dos painéis de azulejos

Os painéis de azulejos das estações do Oeste estão a ser alvo de trabalhos de conservação e restauro. Os trabalhos têm vindo a ser realizados em sete estações com recurso a mão de obra especializada e têm um investimento associado de 178 mil euros por parte da Infraestruturas de Portugal. Nas Caldas a intervenção teve início no mês de Abril e deverá terminar em Junho.
Na rede ferroviária nacional a linha do Oeste é das mais ricas em termos de património azulejar. Já foram restaurados os azulejos das estações de Leiria, Óbidos, Bombarral e Valado dos Frades. Depois das Caldas, seguem-se Outeiro da Cabeça e Mafra.

Os azulejos da estação ferroviária das Caldas fazem parte do roteiro turístico da cidade e são visita obrigatória mesmo para quem não vai apanhar o comboio. Os painéis exteriores são oriundos da Fábrica Bordalo Pinheiro e os do interior foram feitos na fábrica Aleluia, em Aveiro, em 1924.
Nos anos oitenta do século passado, no átrio onde está hoje a bilheteira e a sala de espera, foram destruídos azulejos da Bordalo Pinheiro aquando de uma remodelação da estação, que não teve em conta a importância daquele património.
Felizmente que hoje a sensibilidade das empresas públicas é outra, pelo que a própria Infraestruturas de Portugal investiu 177.741,25 euros na preservação do património azulejar de sete estações da linha do Oeste.
A empresa, numa resposta escrita à Gazeta das Caldas, especifica com um rigoroso detalhe técnico o tipo de intervenção: “os trabalhos contemplam a remoção de azulejos em destacamento, limpeza de face nobre e tardoz, colagens, consolidações, tratamento do suporte, preenchimentos, consolidações, reintegrações cromáticas, refrescamento de juntas e limpeza”.
Nas Caldas, a equipa de quatro técnicos que está no terreno constatou que os azulejos estão na sua maioria em bom estado, embora mais de metade tenham perdido a aderência às paredes e estivessem em risco de cair. É que, em intervenções anteriores, foi usado – erradamente – cimento para segurar os painéis em vez de materiais mais adequados como são a gaze hidrófila e a resina acrílica, que impedem a desintegração do painel.

Alguns dos azulejos de Bordalo Pinheiro foram retirados e voltaram a ser colocados

Retirar, limpar e recolocar

Os painéis que decoram o exterior da estação são de inspiração hispano-mourisca. Ana Fernandes, da empresa Cinábrio que foi contratada pela Infraestruturas de Portugal para efectuar esta intervenção, diz que “há situações em que tivemos que remover alguns exemplares que, após limpeza e recuperação, serão recolocados”.
Trata-se de azulejos que estão um pouco danificados na zona lateral da estação pois era onde se encostavam os carrinhos com as bagagens, que deixaram várias fissuras no painel. “Há agora todo um trabalho que envolve desde o tratamento do suporte, aos preenchimentos, reintegrações cromáticas, refrescamento de juntas e limpeza que antecede uma segunda fase, relacionada com a recuperação do azulejo”, disse a técnica.
No interior da estação, os painéis que representam vários monumentos e locais históricos das Caldas (ver caixa), estão igualmente a ser intervencionados, mas Ana Fernandes conta que ainda não entraram na fase de restauração. “Para já, ainda estamos a fazer os trabalhos relacionados com a preservação e limpeza”, especificou.
A trabalhar há 25 anos nesta área, esta especialista diz que, após uma fase ligada à limpeza e à prevenção de microrganismos, é preciso analisar caso a caso cada um dos painéis para escolher qual a melhor forma de intervir. “É tudo mapeado e numerado de modo a que os azulejos sejam recolocados no sitio”, explicou.
O trabalho é minucioso. “Não somos artistas”, diz Ana Fernandes, para quem o importante é preservar os trabalhos originais. Todas as fases da intervenção são feitas manualmente, desde a limpeza até ao tratamento das falhas nos azulejos. “Vão ficar prontos para durar mais 100 anos”, diz a técnica, sorrindo. Mas para durarem mais um século é preciso que haja pequenas operações de manutenção de cinco em cinco anos.

Um património a estudar

Pedro Almeida, das Infraestruturas de Portugal, disse à Gazeta das Caldas que esta acção de preservação já estava pensada desde 2015, mas que foi muito difícil encontrar empresas especializadas nesta área.
Como a preservação do património azulejar é uma das preocupações da sua empresa, foi criada uma parceria com o Instituto Politécnico de Tomar para efectuar um estudo mais profundo sobre as especificidades técnicas deste acervo nas estações. O objectivo é fazer uma “radiografia” do tipo de azulejos que está presente nos painéis das estações, o qual “vai ser de grande utilidade para futuras intervenções de manutenção do património azulejar”, disse o arquitecto.
O mesmo estudo dará origem a artigos científicos sobre este tipo específico de património.