Mil e duzentas pessoas recordaram os tempos da Green Hill na antiga Secla

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Festa na discoteca Green Hill 15 Maio 2016
A festa foi um êxito e juntou nostálgicos da velha Green Hill e jovens que nunca a conheceram | ISAQUE VICENTE

Na noite do passado sábado a antiga fábrica 2 da Secla recebeu cerca de 1200 pessoas que quiseram recordar os idos tempos da Green Hill, discoteca que durante praticamente 30 anos foi referência da noite oestina (e não só). Uma noite de convívio de várias gerações, integrada no ReSeclar, que durante o mês de Maio leva várias iniciativas àquele espaço.

É madrugada de 15 de Maio, feriado municipal. Já acabou o concerto de José Cid e o fogo-de-artifício. Estamos em frente à antiga fábrica da Secla 2, os portões ainda estão fechados. Mais de cem pessoas já aguardam para entrar.
Abrem-se os portões, as pessoas vão entrando. Adquirem o bilhete, por três euros, e começam a descer a estrada de alcatrão dentro do recinto até à barreira de seguranças. Pelo caminho vão convivendo com o abandono das instalações e com a arte urbana que invadiu e coloriu o espaço.
Chegamos ao pavilhão. Lá dentro as paredes estão também grafitadas. Há dois bares: um em cada lado e ao fundo a cabine do dj, com uma tão famosa placa da discoteca Green Hill. O dj Gabi (que trabalhou vários anos naquela discoteca) já está a passar o seu som e o pavilhão vai enchendo. A maioria dirige-se aos bares, a pista ainda está vazia. Os menos tímidos vão-se chegando à frente e batendo um pézinho de dança.
Por volta das duas horas a pista está cheia. Há gente de várias gerações. Muitos caldenses, mas não só. E até às 3h00 não pararam de entrar pessoas que dançaram animadas até às seis da madrugada.

O caldense José Silva, de 49 anos, elogiou a iniciativa. “Sou do tempo do Green Hill, desde o início, quando eram só barzinhos e não era fechado na parte de baixo”, recordou. “E lembro-me do porteiro ser o senhor Beja, que várias vezes puxava da carteira para ajudar a pagar o nosso consumo”, continuou.
“Passei lá muitas noites… Foram bons anos, tenho pena que a juventude não possa usufruir do que nós disfrutámos”, disse, antes de criticar a falta de organização neste evento. “A entrada estava muito mal organizada, demorei mais de uma hora, o que nunca me aconteceu em vinte e tal anos no Green Hill”, notou.
As jovens estudantes da ESAD Lara Vasconcelos e Soraia Martins, madeirense e luxemburguesa, respectivamente, nunca foram à Green Hill, mas fizeram questão de marcar presença no Remember depois de ouvirem o José Cid e verem o fogo preso. “É uma espécie de aquecimento para o Caldas Late Night”, disse Lara Vasconcelos, acrescentando que notaram “a presença de muitas pessoas mais velhas”. Já Soraia Martins mostrou-se surpresa com a presença de tamanha multidão.
O caldense Paulo Santos recordou as boas e as más memórias. “Foram bons momentos, mas era uma altura de excessos e não havia controlo do álcool como hoje, pelo que havia muitos acidentes na estrada para a Foz… A antiga porque ainda não havia a nova”, explicou. “Chegou a ser a segunda estrada do país com maior número de acidentes mortais”, acrescentou.
A magia da Green Hill era que “o ambiente era espectacular e tinhas a praia à porta da discoteca”. Por outro lado, havia uma “selecção complicada na entrada, porque nem sempre levávamos par, então tínhamos que nos ‘colar’ a grupos de mulheres que iam a entrar”.
A terminar elogiou a iniciativa, sendo que, ainda assim, “não é possível recriar o ambiente, porque tinha discoteca e tinha bares. Aqui falta esse espaço de convívio e diversidade musical”.
Ricardo Pereira, de 35 anos, também não perdeu a oportunidade de “rever pessoas” da sua era. Apelida-se como “um dinossauro da Green Hill”, uma vez que lá entrou pela primeira vez com 16 anos. “Era a nossa cultura aos fins-de-semana”, afirmou.
Este dj, que chegou a tocar naquela discoteca, disse que o espaço se destacava pela organização e pela música que se ouvia e deixou “um bem-haja ao Romão, que fez mover estas pessoas todas”.
De Rio Maior veio Eugénio Sequeira. De 53 anos e “frequentador habitual da Green Hill da abertura ao fecho”, elogiou a iniciativa e pediu que haja continuidade. “Está muito acolhedor, foi uma ideia engraçada”, afirmou.
O “Remember Green Hill” integrava o evento ReSeclar. Esta é uma iniciativa que pretende levar, durante o mês de Maio, várias actividades àquela antiga fábrica. Organizado pela Associação Destino Caldas – Projecto Silos Contentor Criativo, a iniciativa contou com a colaboração de 16 voluntários (dos quais 13 são estudantes da ESAD).

FESTA PARA PAGAR A ARTE

Nicola Henriques, mentor do projecto dos Silos, explicou à Gazeta das Caldas que “o lucro da festa é usado para suportar a programação do ReSeclar e da própria associação”.
Num balanço da noite, confessou-se surpreendido pela afluência e afirmou que a organização está preparada para, “na eventualidade de se realizar novamente para o ano, oferecer mais e melhores condições” aos visitantes. Nomeadamente ao nível do serviço de bar e da entrada.