ontem & hoje

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Joaquim António Silva / José António Gonçalves (1984)

Este foi o primeiro mamarracho da avenida. O que marcou o início da destruição do que restava da imagem da cidade termal. Nas décadas seguintes a voragem de promotores e construtores iria dar cabo desta artéria que ligava a estação de caminhos-de-ferro à Rua Dr. Miguel Bombarda, rua das Montras, Praça da Fruta e Hospital Termal. No fundo, o percurso que era a porta de entrada da cidade para uma grande parte dos visitantes que chegavam de comboio às Caldas da Rainha.
Antes deste prédio, construído no início da década de setenta, existia no seu lugar um rés-de-chão com um sapateiro, o “senhor Chico”, que tinha no muro do quintal, uma macaca. Para muitas pessoas, e sobretudo para as crianças, a passagem por esta rua, onde estava o animal constituía um motivo de distracção e recreio.

Joaquim António Silva (2011)

As avenidas que hoje se chamam da Independência Nacional e 1º de Maio não eram, antes da avalanche de edifícios com sete e 11 andares, monumentais. Mas tinham casas singelas, pequenas quintas e havia quintais, jardins e espaços abertos que  faziam um conjunto harmonioso com o resto da cidade. No final da década de setenta – apesar dos avisos de que era um erro destruir aquilo que o futuro viria a valorizar -, a Câmara Municipal autorizou toda a espécie de desmandos e semeou licenças de construção a torto e a direito. Desta forma, satisfaziam-se amizades e alimentavam-se os cofres do município com as respectivas licenças e taxas.
A foto da esquerda data de 1984. Nela sobressai o inestético prédio. Depois dá nas vistas o parque automóvel que, comparado com o da actualidade, tem significativas diferenças que não passam despercebidas a qualquer leigo. Os postes de iluminação são os mesmos, bem como os canteiros, actualmente um pouco mais floridos. O progresso espalhou imobiliário urbano na cidade que não havia em 1984 – os quiosques dos CTT (que não resolvem as enchentes que se formam na estação dos correios caldense), o contentor de recolha de roupa usada e os ecopontos. Tudo coisas que nas Caldas dos anos oitenta ainda não existiam.
Ao fundo, vê-se um pouco do edifício que foi sede dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha e onde funcionaria depois o Bingo. Hoje paira no local um centro comercial que está vazio porque teve azar no tempo escolhido – terminou quando a crise já se fazia sentir e não há quem lhe alugue espaços.
E por fim uma casa resistente. O edifício com terceiro andar que está ao centro é o mesmo em ambas as fotos. Este ainda não foi abaixo.

C.C.