Desde que os Correios foram privatizados o serviço tem piorado e parece agora estar a bater no fundo. As queixas pelos atrasos na distribuição são uma constante, o serviço na estação das Caldas é desesperante, os carteiros queixam-se que há falta de pessoal e que os obrigam a fazer giros cada vez maiores. Uma coisa é certa: o serviço postal universal, que era uma das condições do caderno de encargos quando o Estado vendeu os CTT, não está a ser cumprido pelos novos donos da empresa.
É certo que pontualmente se vêem carteiros a distribuir correio ao sábado porque não houve capacidade para o fazer durante os dias úteis. E também é certo que a entrega do correio normal deixou de ser diária.
Gazeta das Caldas, dependendo em grande parte dos Correios para poder levar o jornal aos seus milhares de leitores, tem sido prejudicada por esta degradação do serviço e perdido muitos assinantes porque estes deixaram de encontrar à sexta-feira na sua caixa do correio as notícias que queriam ler no fim-de-semana. Um problema que também é partilhado por toda a imprensa regional, como se pode ver pelos testemunhos do Jornal de Barcelos, Alvorada e Diário do Alentejo.
Empresas, Serviços Municipalizados, operadoras de telecomunicações queixam-se do atraso na correspondência e em como esta faz com que os clientes paguem as facturas depois do atraso.
Gazeta das Caldas perguntou à responsável do Centro de Emprego das Caldas da Rainha, Célia Roque, se sentia o mesmo problema, mas esta não respondeu. Contudo, de acordo com um relatório da Provedora do Desempregado, todos os relatórios da Comissão de Recursos apontam como a principal causa de anulação da inscrição para emprego a deficiente prestação dos CTT.
Politicamente, os partidos mais à esquerda já reivindicam a reversão da privatização e os de direita um maior controlo do Estado sobre o serviço postal dos CTT.
Por sua vez, a administração dos Correios, contactada pela Gazeta das Caldas mostra que está em estado de negação ao assegurar que não nota qualquer degradação do serviço que a empresa presta.
Testemunhos
•José Henriques, morador no Largo João de Deus, queixa-se de atrasos recorrentes na recepção da Gazeta das Caldas, que é praticamente a única correspondência que recebe em correio físico. Na semana passada ainda nem sequer tinha recebido a edição de 15 de Dezembro.
Vendedor de profissão, diz que optou por receber tudo o que é possível via correio electrónico “porque o serviço postal é péssimo, e após a privatização está cada vez pior”.
No seu trabalho tem falado com alguns clientes sobre o tema e diz que alguns deles, na Foz do Arelho, estiveram semanas sem receber correio e depois chegaram mais de 20 cartas de uma vez. Algumas tinham sido emitidas em Novembro e eram facturas para pagar até meados de Dezembro, mas só chegaram depois de findos os prazos de pagamento.
•José Carlos, proprietário do Camaroeiro Real, no centro das Caldas, também esteve semanas sem receber correio e queixou-se aos nossos serviços pela falta da Gazeta. No entanto, acabou por constatar que se tratou de um erro do carteiro, que colocou o correio na caixa de um dos vizinhos. Quando deu pelo erro, percebeu que a situação se mantinha há algum tempo, pelo que não consegue perceber se também existiu falta de pontualidade na entrega da correspondência.
Contudo, José Carlos realçou que os atrasos na entrega do correio, sobretudo quando se trata de facturas para liquidar, podem trazer problemas às empresas.
•Eduardo Norte, residente no Campo, queixa-se de atrasos constantes na recepção da correspondência, sobretudo quando se tratam das facturas dos serviços de água, luz e telefone. As cartas chegam quase sempre muito em cima da data de limite de pagamento e já aconteceu, por diversas vezes, chegarem depois desse prazo. Exemplo disso foi a última factura de telefone, que tinha limite de pagamento a 21 de Dezembro e só lhe chegou a casa a 2 de Janeiro, quase duas semanas depois.
•Queixa semelhante apresenta Manuela Silveira, que vive na Rua Manuel Matos e Sousa, perto do Complexo Desportivo. “Estive à espera da factura da MEO durante bastante tempo, já ia ligar a saber o que se passava, quando a 4 de Janeiro recebi a factura com o limite de pagamento fixado a 22 de Dezembro”, contou à Gazeta das Caldas. Manuela Silveira pagou a factura e, caso seja multada por atrasos, irá alegar que a culpa foi dos Correios.
•Manuel Marques, morador na Rua Fonte do Pinheiro, diz que recebeu no dia 5 de Dezembro uma carta enviada de Lisboa a 23 de Novembro (que trazia uma convocatória para uma reunião a 29 de Novembro). Essa carta fazia parte de um lote de 12 que naquele dia o carteiro lhe depositou na caixa do correio depois de ter estado duas semanas sem receber uma única carta.
•Já António Peralta só viu a edição de Natal da Gazeta das Caldas na terça-feira seguinte e só porque a foi buscar às instalações da Gazeta. Nesse mesmo dia, o jornal chegaria a sua casa.
Estes atrasos “já acontecem há bastante tempo” reconhece o assinante da Gazeta, que já foi tentar reclamar da situação à secção de expedição do correio, na Zona Industrial, mas nunca conseguiu falar com nenhum responsável ou apresentar a reclamação. “Mandam-me ir ao centro da cidade”, disse o morador nas Águas Santas.
António Peralta diz que, inclusivamente, já pensou em desistir da assinatura do jornal pois nunca o recebe a tempo. “Só na semana seguinte”, conclui.
•Esta situação é idêntica à de Pedro Sousa, que vive no Alto das Gaeiras. Assinante da Gazeta das Caldas há várias décadas, conta que o semanário só tem chegado a casa no início da semana seguinte, e não à sexta-feira como deveria ser. “Houve inclusivamente uma semana que não cheguei a receber o jornal”, disse.
Pedro Sousa chama a atenção para o facto dos carteiros, por vezes, não esperarem o tempo suficiente para o septuagenário responder, e levam o correio de volta para a estação.
“Depois, só no dia seguinte é que o posso ir buscar à Junta de Freguesia, quando seria mais fácil deixarem-no lá no próprio dia”, considera.
Outra situação que também denuncia é a entrega de cartas que não lhe pertencem na sua caixa de correio e que depois tem que ir deixar à Junta de Freguesia para serem direccionadas para o destinatário correcto.
•O atraso da correspondência já trouxe dissabores a Olga Duarte, da Ramalhosa, que perdeu o seguro que tinha porque não o pagou atempadamente. “Recebi a carta uma semana depois da data limite do pagamento”, explicou, acrescentando que teve que fazer um novo seguro.
Olga Duarte também regista atrasos na entrega da Gazeta das Caldas e, inclusivamente, já apresentou reclamação nos CTT. “O mês de Dezembro foi uma miséria”, conta, acrescentando que quando recebe a correspondência são seis a 10 cartas de uma vez, embora emitidas em datas muito diferentes.
Mas também a sua mãe, que mora em S. Gregório, não recebe a correspondência dentro do prazo. Em causa está, por exemplo, uma carta para pagar a conta da televisão por cabo, que ainda não recebeu e que já vai com uma semana de atraso. O serviço continua assegurado porque a própria operadora enviou uma mensagem com os dados a pagamento.
•Jorge Mendes vive em Santa Rita e queixa-se que a Gazeta das Caldas não há meio de chegar a horas. “Houve inclusivamente uma semana em que não nos chegou o jornal!”, disse o assinante, que teve ainda atrasos com outras edições: “uma vez chegou a casa num sábado e noutra numa segunda-feira”.
O leitor lamenta esta situação pois é algo que “nunca tinha acontecido antes”. E diz que gostaria que a distribuição do correio pudesse voltar ao que era antes, sem atrasos.
•António Santos, de A-dos-Negros, queixa-se do mesmo: “durante um ano foram várias semanas em que só recebi a Gazeta à segunda-feira e na semana passada, do Ano Novo, nem sequer chegou”. Quanto à restante correspondência, diz que não sabe se as cartas chegam com atraso. O problema é mesmo a Gazeta que chegava religiosamente todas as sextas-feiras e agora não. “Há coisas que interessa saber e que à segunda-feira já não interessa “, fez notar.
•Com um discurso semelhante, encontramos Emídio do Couto, da Ramalhosa. “Actualmente os correios não trabalham bem”, afirma peremptório. Também se queixa que a Gazeta de 29 de Dezembro só chegou em2018. “Gostava que chegasse a tempo e horas, mas chega muitas vezes atrasada”, lamenta.
“Se os correios não cumprem o que está estipulado, então deviam indemnizar a Gazeta que perde clientes por isso”. Apesar de gostar de ler as notícias da terra, “eu, por exemplo, se continuar a receber a Gazeta atrasada, cancelo a assinatura porque não faz sentido”.
Mas não é apenas a Gazeta que chega fora de horas: “também as contas para pagar chegam atrasadas, o que vale é que pago por débito directo”, disse Emídio do Couto, fazendo notar que “antes era raríssimo receber uma carta atrasada”, mas que desde meados de 2017 tem sido comum.
•Por seu lado, Ana Rita Flores, que mora na Ponte Seca (Gaeiras) também teve problemas com a distribuição do correio. As cartas referentes ao pagamento da creche do seu filho chegaram de tal modo atrasadas que ela já não conseguiu pagar através do multibanco e do home banking. Agora tem que se dirigir aos serviços da autarquia de Óbidos. O atraso para pagar a factura da eletricidade foi de tal ordem que “quando a carta chegou já me tinham cortado o serviço”, contou. Também a carta do Centro do Emprego a pedir que esta se apresentasse obrigatoriamente “chegou uma semana depois da data”. Ana Rita Flores conseguiu reagendar nova apresentação, mas outras pessoas sem emprego tiveram que ir arranjar justificação sobre o atraso na distribuição postal caso contrário “cortavam-lhes o subsídio”.
•Da empresa O Seu Bairro Lda., na Rua Maria Ernestina Martins Pereira, Nuno Santos também tem notado alguns atrasos na recepção do correio normal, principalmente nas últimas semanas do ano, que coincidiram com a altura do Natal e Passagem de Ano. “Só as cartas registadas é que são distribuídas em tempo útil”, disse o empresário à Gazeta das Caldas, realçando que já optou por receber a maioria das facturas por e-mail porque a via electrónica é mais fiável que a postal.
•Já Inês Branco, residente na Foz do Arelho, na Rua Direita, revelou ao nosso jornal que costumava receber postais enviados pelos seus familiares dos Estados Unidos pela altura do Natal, mas este ano os votos de boas festas só chegaram no passado dia 5 de Janeiro. Postais esses que deram entrada em Portugal no dia 26 de Dezembro.
Mas esta não é a sua única queixa. “A minha avó recebeu uma factura da água no dia 4 de Janeiro cujo prazo de pagamento terminava no dia 25 de Dezembro. Como ela já tem uma certa idade, fica logo muito nervosa com este tipo de situações”, acrescentou Inês Branco.
•Quem também já saiu penalizada com o mau serviço dos CTT foi Anabela Coutinho. “Começámos a reparar que durante vários dias não recebíamos nenhuma correspondência e depois de repente a nossa caixa do correio enchia-se de uma só vez”, contou à Gazeta das Caldas, acrescentando que o carteiro passa no máximo uma vez por semana pela sua rua (Beco das Arroteias, Nadadouro). É assim desde os meses de Verão, altura em que Anabela Coutinho se lembra de receber uma carta da Vodafone que chegou atrasada. “Por causa desse atraso fui obrigada a pagar uma multa, o que me fez optar por receber os avisos de pagamento por mensagem de telemóvel”, queixou-se.
Só esta semana, Anabela Coutinho recebeu 15 cartas num só dia, algumas delas emitidas antes do dia 15 de Dezembro.
Se há sectores que sofrem com a ineficiente distribuição dos correios um deles é a imprensa regional.
A Gazeta das Caldas já perdeu muitos assinantes, habituados há décadas a receber o jornal na sua casa à sexta-feira e que entretanto passaram a recebê-lo só na semana seguinte.
Fernando Xavier, administrador da Cooperativa Editorial Caldense (proprietária da Gazeta das Caldas) diz que “o serviço dos CTT é péssimo e estamos claramente a ter prejuízos por causa dos leitores que desistem de ser assinantes”. Ele próprio tem reunido com responsáveis locais e regionais da empresa, que procuram atender e responder às reclamações de forma simpática, mas sem grandes resultados porque os atrasos mantêm-se.
“Participei numa reunião organizada pela Associação Portuguesa de Imprensa em que estavam representantes dos CTT e, além da Gazeta das Caldas, também o Mirante, o Diário do Sul, a Motorpress e alguns jornais da Igreja. Foi útil porque serviu para resolver algumas questões práticas na distribuição, mas penso que o problema é estrutural porque depois disso continuámos a ter problemas em fazer chegar a Gazeta a tempo e horas aos nossos assinantes”.
DE NORTE A SUL DO PAÍS
O director do Jornal de Barcelos, Paulo Vila, também se queixa do serviço dos CTT e até sentiu necessidade de publicar um anúncio apelando aos leitores que denunciem os atrasos na entrega do jornal. “O Jornal de Barcelos sai à quarta-feira. Os assinantes que são servidos pelos CTT de Barcelos têm de o receber no próprio dia e, os restantes (exceptuando regiões autónomas e estrangeiro), à quinta-feira, impreterivelmente. Sempre que tal não acontecer, a responsabilidade pelo atraso na entrega do Jornal de Barcelos deve ser assacada aos CTT”, lê-se no anúncio. Que acrescenta que os assinantes devem ter as moradas devidamente actualizadas. Aliás, o jornal e os Correios locais fizeram um trabalho conjunto para rectificar moradas e giros por forma a evitar atrasos.
Da Lourinhã, Paulo Ribeiro, chefe de redacção do Alvorada, diz que o jornal também tem vindo a perder assinantes porque as pessoas recebem-no com vários dias de atraso, não só na vila como no resto do concelho e da região.
Paulo Ribeiro é o representante da direcção da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã que integra, com a Associação Portuguesa de Imprensa (API), o grupo de acompanhamento que analisa a actividade dos CTT e contou à Gazeta das Caldas que já participou em várias reuniões onde apresentou casos concretos de atrasos, não só do seu jornal como de outras publicações ligadas à Igreja. “Por parte dos Correios foram muito simpáticos e prometeram que iriam ver o que se podia fazer, mas todos sabemos que, como há falta de pessoal, o problema continuará a persistir em todo o país”. E acrescenta: “o péssimo tratamento que os CTT estão a dar ao correio editorial só contribui para o decréscimo do tráfego postal e para o desagrado dos consumidores que, desta forma, optam muitas vezes por abandonar a subscrição da assinatura do seu jornal regional por sentirem que não estão a ser bem servidos”.
E mais um testemunho, este de Paulo Barriga, director do Diário do Alentejo: “nos últimos sete anos, devido à péssima qualidade do serviço de expedição prestado pelos CTT, o Diário do Alentejo perdeu dezenas de assinantes. No entanto, os CTT não têm qualquer tipo de respeito pela entrega atempada das publicações nas casas das pessoas, não dão prioridade a este tipo de expedição postal, e muitas vezes, principalmente nas alturas de férias, o correio nem chega ao seu destino, devido a extravios nunca reconhecidos pela empresa”.
Por outro lado, segundo o diretor, a falta de garantia do envio do Diário do Alentejo para os seus assinantes no dia em que é impresso, obriga a que o jornal tenha de ir para o prelo com um dia de antecedência, com todos os prejuízos, noticiosos e comerciais, que daí advém.
A IMPORTÂNCIA DA API
Com um panorama tão desolador na entrega atempada dos jornais, a API tem vindo a receber inúmeras reclamações dos seus associados, não só da imprensa regional como das revistas especializadas que chegam aos leitores através de assinatura. Vanessa Silvestre, daquela associação diz que “estamos a acompanhar a situação dos Correios e esperamos ser recebidos pelas administrações da ANACOM e dos Correios brevemente, bem como já solicitámos ao Governo que a API seja integrada no grupo de trabalho sobre o futuro da distribuição postal (serviço postal universal).”
“Os CTT não confirmam qualquer degradação do serviço de distribuição postal nas Caldas da Rainha”
Gazeta das Caldas endereçou oito perguntas ao gabinete de imprensa dos CTT tendo recebido a resposta que transcrevemos abaixo. A empresa nega qualquer degradação do serviço, diz que está tudo bem e esquiva-se claramente a responder a algumas das perguntas.
AS PERGUNTAS…
1.Por que motivo o serviço de distribuição postal se degradou nos últimos anos?
2.Têm os CTT estatísticas sobre reclamações por concelho? Podem fornecer-nos dos concelhos das Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral e Alcobaça?
3.Como tem sido a evolução do número de carteiros nos últimos três anos nas Caldas da Rainha? Dos actuais, quantos são contratados e quantos são do quadro?
4.Por que motivo deixou de haver distribuição diária de correio normal?
5.Por que motivo tem havido distribuição postal ao sábado nas Caldas da Rainha?
6.Como se explica que as pessoas estejam vários dias seguidos sem receber o correio (de acordo com inúmeros testemunhos que temos tido) quando antes a distribuição era diária?
7.Sendo público que os CTT pretendem fechar 22 lojas e despedir 800 trabalhadores, de que forma é que estas medidas não vão piorar ainda mais o serviço prestado às populações?
8.Há a expectativa de que o serviço postal universal venha a ser regularizado?
…E AS RESPOSTAS
“Os CTT não confirmam qualquer degradação do serviço de distribuição postal nas Caldas da Rainha. É de salientar que em 2015, os CTT fizeram um significativo investimento com a criação de um novo e moderno Centro de Distribuição Postal e adquiriram um maior número de viaturas para garantir a qualidade do serviço às populações. Relativamente ao número de colaboradores afetos às Caldas da Rainha os CTT informam que tem-se mantido inalterado desde 2014.
Os CTT continuam a assegurar, nas Caldas da Rainha e em todo o território nacional a distribuição diária de acordo com as caraterísticas do correio a distribuir, nomeadamente tendo em consideração a velocidade de entrega que o Cliente escolheu (entrega no dia seguinte, até três dias ou até 5 dias ). A distribuição aos sábados é feita sempre que o volume do correio é elevado (como por exemplo na época do natal) ou quando se verificam perturbações na organização (greves, reuniões de trabalhadores, ausências inesperadas, entre outros). Nessas situações os CTT reforçam a capacidade de distribuição com recurso ao sábado de forma a não penalizar os clientes e para garantir de forma eficaz a entrega das correspondências e encomendas.
Os CTT tal como já tinha sido tornado público anteriormente, confirmam o plano de adequação da sua rede envolvendo estes 22 pontos de acesso, inseridos nos mais de 2.300 existentes e dos mais de 4.000 agentes PayShop, que nesta fase ainda não tem data marcada. Esta medida não põe em causa o serviço de proximidade às populações e aos clientes, uma vez que existem outros pontos de acesso nas zonas respetivas que dão total garantia na resposta às necessidades face à procura existente, continuando a manter a capilaridade em todo o país e nestes casos em concreto nas zonas referidas, cumprindo na íntegra os critérios de densidade geográfica exigidos. A decisão do ajustamento da rede de Pontos de Acesso foi tomada com base em estudos e análises que obedecem a um conjunto rigoroso de critérios, entre os quais, a garantia de manter a proximidade sem colocar em causa a prestação de serviços às populações e aos clientes, bem como, a adequação da oferta à procura nas respetivas zonas. É importante também notar que a distribuição de correio é assegurada pela nossa rede de cerca de 5.000 carteiros, que todos os dias úteis percorrem as ruas do país garantindo a entrega de correio e encomendas. Esta rede de distribuição (Carteiros) é distinta da rede de Pontos de Acesso (Lojas e Postos) e em nada será afetada por este reajustamento.”
Das 19h00 para as 16h30
Há 40 anos, num país sem auto-estradas e de estradas velhas e sinuosas, o correio era transportado em carrinhas dos CTT para as estações onde embarcava nos “comboios-correio” que durante a noite cruzavam o país, levando a bordo funcionários dos Correios que separavam a correspondências. As “ambulâncias-postal”, como eram designadas, recebiam e expediam em cada estação onde o comboio parava os sacos com objectos postais provenientes e destinados aquela zona.
Nesse tempo era possível pôr uma carta no correio às 19h00 em qualquer ponto do país e esta ser entregue no dia seguinte.
Hoje, com o país que tem mais auto-estradas da Europa, com código postal, com tecnologia de ponta que “lê” as direcções das cartas e distribui automaticamente, com modernos sistemas de comunicação que permitem a gestão de frotas e entrega de objectos, o cliente tem como limite as 16h30 para pôr uma carta no correio.
SMAS já reclamaram junto dos CTT mas… sem resposta
Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) das Caldas da Rainha têm registado “algum atraso” no pagamento das facturas porque os “consumidores não dispõem destas em tempo útil”, explicam os SMAS por escrito à Gazeta das Caldas. A culpa desses pagamentos atrasados são os CTT “que excedem o tempo a que estão legalmente obrigados para proceder a essa entrega”.
Já no que respeita aos pagamentos os Serviços Municipalizados estão “legalmente obrigados a serem ressarcidos de todas as importâncias, incluindo juros de mora que esta situação acarrete”, referem, o que quer dizer que as pessoas que recebem a correspondência fora de prazo têm que pagar a multa.
Os SMAS já fizeram várias reclamações junto dos CTT, nomeadamente para o seu gestor de conta, por telefone e através de ofício, “as quais não mereceram qualquer comentário por parte dos CTT”, acrescentam.
“Antes éramos pessoas, agora somos números”
Marco Groba tinha 18 anos quando entrou para os CTT. Passaram 25 anos, hoje tem 43, e foi no final de 2017 que decidiu abandonar a profissão de carteiro. Estava cansado, confessa à Gazeta das Caldas. Cansado de trabalhar mais para receber menos. Cansado das pressões e cansado que lhe exigissem o impossível.
“Os CTT sempre foram uma empresa em que os seus funcionários vestiam a camisola para que a distribuição do correio fosse feita diariamente, mas acho que o serviço começou a piorar a partir do momento em que se passaram a contratar colaboradores às empresas de trabalho temporário”, diz.
Em 1992, quando Marco Groba decidiu que queria ser carteiro, a entrada na profissão obrigava-o primeiro a fazer um estágio em Lisboa. Hoje não existe esse vínculo. “Há trabalhadores que vêm só por uma semana, outros apenas durante o período de férias. Quando já começam a aprender os percursos mandam-nos embora e há deles que até são bons”, explica o ex-carteiro, salientando que quando os funcionários eram contratados directamente pelos CTT encarava-se a profissão com maior responsabilidade.
Marco Groba dá conta que há colaboradores que têm contratos de part-time (nem o ordenado mínimo recebem), mas que na realidade trabalham mais horas por dia, sem depois verem esse tempo extra seja considerado na folha do seu salário.
E garante: “já fomos uma família, mas neste momento é cada um por si. Não existe trabalho de equipa porque nos sobrecarregam com cada vez mais trabalho e obrigam-nos a fazer o impossível”, afirma, revelando que a falta de carteiros é uma das principais causas para que o correio normal não seja distribuído todos os dias, como antes era regra.
“A DISTRIBUIÇÃO DOS CTT ASSEMELHA-SE A UMA FÁBRICA”
Nos últimos anos, a política dos CTT não tem sido o despedimento de carteiros. Em vez disso, optam por não substituir os que saem da empresa, incluindo aqueles que não se apresentam temporariamente ao serviço por outros motivos (como o de doença). “Tem sido assim, aos poucos”, afirma Marco Groba.
E quais as implicações? Acontece que os giros dos colegas ausentes foram sendo distribuídos por outros carteiros, de tal forma que actualmente são poucos os que conseguem terminar a sua volta num só dia. Às vezes, “só em quatro ou cinco dias, tendo sempre como preocupação que não podemos falhar as moradas onde o correio é prioritário”, frisa.
Mas e se a falta de pessoal gera atrasos na recepção da correspondência, o mesmo problema chega a pôr em causa a segurança dos carteiros que fazem distribuição motorizada. “Uma pessoa que vá numa carrinha ou numa mota raramente cumpre os limites de velocidade, isto caso queira assegurar que distribui qualquer coisa”, diz o caldense, revelando que nos primeiros anos de serviço se lembra de por várias terminar o seu giro – e porque ainda estava dentro do horário de trabalho – se disponibilizar voluntariamente para ajudar outros colegas que ainda não tivessem acabado. Hoje, esta não pode sequer ser uma realidade porque os carteiros nem o seu percurso terminam dentro do tempo previsto.
“TEMOS PERDIDO A CONFIANÇA DAS PESSOAS”
Perante os atrasos, são principalmente os carteiros aqueles que ouvem as reclamações em primeiro lugar. Marco Groba já foi confrontado com muitas. Facturas que chegam para pagar e já estão fora de prazo, jornais como a Gazeta das Caldas que só são recebidos dias e dias depois. A degradação do serviço conseguiu mesmo que os próprios carteiros deixassem de ser vistos como antigamente.
“As pessoas confiavam em nós e não éramos apenas carteiros, mas também amigos. Hoje somos apenas “empregados dos correios”, um número em vez de pessoas”, salienta o ex-carteiro, dando conta que chegou a ler cartas a pessoas analfabetas que lhe pediam ajuda. Mas actualmente, devido ao constante vai e vem dos colaboradores, torna-se difícil criar qualquer relação com os carteiros porque não são sempre os mesmos a passar nas mesmas ruas.
Carteiro durante 25 anos, Marco Groba acrescenta também que a privatização dos CTT lhe retirou 100 euros de ordenado ao final do mês devido aos cortes que sofreu em vários subsídios, os quais antes tinha direito. E retirou-lhe também qualquer perspectiva de carreira. “Mas a nós, trabalhadores, ninguém nos apresentou os novos donos ou deram qualquer tipo de informação. Sabemos apenas que deram cabo do serviço de distribuição de correio para se focarem noutros que dão mais lucro e têm concorrentes directos: o banco e o CTT Expresso”, realça.
“O carteiro não tem culpa”
“O carteiro não tem culpa. Faz mais do que aquilo que deve e pode”. As palavras são de Dina Serrenho, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), que pede à população que não condene estes profissionais, remetendo as culpas dos atrasos para a administração dos CTT.
De acordo com a dirigente sindical, os recursos humanos são poucos e o trabalho é cada vez mais, pois para além da correspondência comum, também têm que garantir outros serviços como os registos e o expressomail, acabando por ficar sobrecarregados. “Num curto espaço de dois anos perdemos 10 trabalhadores nas Caldas e Óbidos”, refere Dina Serrenho, acrescentando que é fundamental repor esse número de profissionais para conseguirem cumprir com o serviço. Actualmente serão cerca de 30 os carteiros a trabalhar nas Caldas e Óbidos, mas já chegaram a ser o dobro.
Dina Serrenho diz que a administração da empresa conhece os problemas, mas não faz nada. Os carteiros já há mais de um ano que se vêm queixando da falta de recursos humanos pois a correspondência vem a acumular-se.
“Actualmente estamos apenas a distribuir correio prioritário”, diz a responsável. Os trabalhadores fizerem um plenário em finais de Dezembro onde alertam a administração para a falta de trabalhadores, mas ainda não obtiveram resposta, pelo que em breve farão outro e admitem que se não conseguirem uma resposta satisfatória, partirão para outras formas de luta. A dirigente sindical pede à população que compreenda e se coloque do lado dos trabalhadores dos Correios pois são realmente precisos mais meios.
A também carteira em Alcobaça garante que “vestem uma camisola” que é a dos Correios, um serviço com perto de 500 anos, mas reconhece que “a actual administração está a dar cabo dele”. Dina Serrenho acrescenta que os carteiros são o rosto da empresa e sentem-se “impotentes” para entregar as cartas a quem de direito, pelo que pede às pessoas que reclamem, na Junta de Freguesia, ou escrevendo no livro amarelo do posto dos Correios no centro da cidade.
O mau funcionamento dos CTT é (também) um problema político
Gazeta das Caldas pediu aos representantes locais dos partidos políticos com assento parlamentar um comentário sobre o problema dos Correios, cujas respostas publicamos na íntegra.
O PSD não respondeu.
“Uma maior intervenção da Câmara junto da administração dos CTT”
A situação que se vive no nosso concelho (e não só), no que diz respeito aos serviços prestados pela empresa CTT merece da parte do PS/Caldas a mais viva indignação.
Com efeito sabemos por experiência própria e também pelas muitas queixas que temos recebido que a qualidade do serviço prestado degradou-se a um nível inaceitável com relatos de atrasos na entrega de correspondência que chega em alguns casos a deixar algumas zonas do nosso concelho 15 dias sem entrega de correio, obrigando alguns munícipes a dirigirem-se ao posto de distribuição da Zona Industrial para levantarem o seu correio.
Sabemos destes atrasos, bem como da claríssima insuficiência de recursos humanos e também das parcas condições de trabalho que são dadas aos trabalhadores dos CTT.
No programa que apresentamos às últimas eleições autárquicas, a candidatura do PS/Caldas defendeu uma maior intervenção da Câmara Municipal junto da Administração dos CTT no sentido de poder melhorar a qualidade do serviço de distribuição e também do atendimento com a abertura de mais estação de correios a ser instalada na União de Freguesias de Sto. Onofre e Serra do Bouro. Mas mais tem que ser feito.
A privatização desta empresa pelo governo PSD/CDS-PP conduziu a uma degradação substantiva do serviço postal universal. Se em Caldas da Rainha as condições do serviço já não eram boas antes, ficaram ainda pior após a privatização.
É imperativo que o Governo promova rapidamente uma avaliação às obrigações contratuais subjacentes à concessão em vigor do serviço postal universal entre o Estado e os CTT e que rapidamente sejam efectivadas as medidas que permitam a melhoria do serviço. O grupo parlamentar do PS na Assembleia da República fez aprovar em Dezembro passado uma recomendação ao Governo em que defendia isto mesmo.
Sara Velez
PS/Caldas da Rainha
“Há uma obrigação legal que os Correios têm de cumprir escrupulosamente”
O processo de privatização dos CTT, iniciado pelo governo Socialista de José Sócrates e concluído em 2014 pelo executivo de Passos Coelho garantia a manutenção dos “padrões de serviço, qualidade e cobertura de rede previstos na lei e no contrato de concessão”, tendo a ANACOM aprovado “a decisão final sobre os objectivos de densidade da rede postal e de ofertas mínimas de serviços que os CTT deverão cumprir com a sua rede de proximidade”.
Neste sentido há um compromisso, uma obrigação legal, que os CTT têm de cumprir escrupulosamente. Para o CDS “é importante manter a presença dos serviços” em todos os municípios, especialmente os do interior do país.
No nosso concelho, julgo não haver grande comentário a fazer, dado que todos podemos dar conta dos atrasos dos serviços, das intermináveis filas e nos longos tempos de espera que ocorrem nas estações de correio, contudo, gostaria aqui, de fazer um comentário sobre o pessoal que atende ao público e também a alguns carteiros que procuram ser simpáticos e trazer alguma ordem ao caos que a falta de pessoal provoca.
Margarida Varela
CDS-PP Caldas da Rainha
“O Serviço Postal Universal está mais do que seriamente comprometido”
Tal como em outras privatizações, no caso dos CTT o Bloco não se cansou de alertar em tempo útil para o erro que seria este passo. No caso dos CTT esse erro foi o mais flagrante de todos, como, volvidos poucos anos, se apercebe agora toda a população portuguesa. A primeira e principal missão a cumprir pelos CTT, o Serviço Postal Universal, está mais do que seriamente comprometido – está em acelerado processo de desmantelamento.
A distribuição de correio deixou de ter uma cobertura geográfica e uma periodicidade regular que o serviço público garantia com lucros para o estado. Os CTT privatizados passaram a prestar um péssimo serviço – desviando o seu foco para a operação bancária, enquanto pelo caminho vão encerrando postos e agências, fazendo bulying sobre os funcionários e contratando precários muito mal remunerados. Resumindo: em três anos a administração privada dos CTT deu todos os argumentos ao estado para cancelar a concessão do serviço público e criou as condições de reversão da privatização, tal como previsto no contrato de concessão.
Lino Romão
BE – Caldas da Rainha
“Impõe-se a urgente reversão da privatização dos CTT”
A privatização dos CTT, Correios de Portugal, por dois terços do seu valor, em mais um ataque feroz a empresas públicas estratégicas, foi um enorme erro com consequências desastrosas.
A degradação da qualidade do serviço acarretou, devido à redução do número de carteiros, atrasos e quebras na distribuição de correspondência, longas esperas dos utentes com os trabalhadores desviados para responder ao funcionamento do chamado Banco CTT e encerramento de muitas estações pondo em causa a coesão territorial.
Este descalabro levou já a que os CTT, por proposta da entidade reguladora, tenham sido multados por desrespeito do Contrato de Concessão e Convénio de qualidade.
É intolerável que, para lá da margem de lucro obtida com prejuízo dos cidadãos, a empresa se tenha endividado em 10 milhões de euros, só para distribuição aos acionistas.
Impõe-se pois a urgente reversão da privatização dos CTT.
Este website utiliza cookies para que possamos proporcionar ao utilizador a melhor experiência possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu browser e desempenham funções como reconhecê-lo quando regressa ao nosso website e ajudar a nossa equipa a compreender quais as secções do website que considera mais interessantes e úteis.
Cookies Necessárias
As Cookies Necessárias devem estar sempre ativadas para que possamos guardar as preferências do utilizador relativamente às definições de cookies.
Se desativar este cookie, não poderemos guardar as suas preferências. Isto significa que, sempre que visitar este sítio Web, terá de ativar ou desativar novamente os cookies.
Cookies de Terceiros
Este website utiliza o Google Analytics e o Echobox para recolher informações anónimas, como o número de visitantes do sítio e as páginas mais populares.
Manter este cookie ativado ajuda-nos a melhorar o nosso sítio Web.
Por favor, active primeiro os cookies estritamente necessários para que possamos guardar as suas preferências!
Cookies de Marketing
Este site usa as seguintes cookies para analisar como é que utiliza o site para o podermos melhorar:
Microsoft Clarity
Por favor, active primeiro os cookies estritamente necessários para que possamos guardar as suas preferências!