Passadiços e caminhos pedonais degradam-se perante a incompetência da Administração Central e a impotência dos municípios

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Gazeta das Caldas - S. Martinho do Porto
A Câmara de Alcobaça nada diz sobre quando será reparado o passadiço em S. Martinho do Porto

Em Óbidos há uma ponte pedonal meio tombada sobre a lagoa que aguarda há mais de dois anos pela sua reparação. Em S. Martinho do Porto, os passadiços sobre as dunas estão num estado lastimável. Estes equipamentos têm em comum o facto de não estarem sob a tutela dos municípios, mas sim da Administração Central (APA e Docapesca), que simplesmente os ignoram.

Gazeta das Caldas - Lagoa de Óbidos
A APA tem mantido a ponte neste estado e vai ter de ser a Câmara de Óbidos a recuperá-la

Há mais de dois anos que a ponte da Ferraria, junto à Lagoa de Óbidos, aguarda por obras de reparação, a cargo da APA (Agência Portuguesa do Ambiente). Tempo suficiente para que o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, tenha perdido a paciência e pusesse o próprio município a fazer aquilo que não lhe competia, mas que resulta em benefício dos cidadãos. Por isso, será a autarquia a recuperar aquela ponte, estando já a ser preparada a intervenção, que deverá começar daqui por um mês, tendo um custo de 15 mil euros.
De acordo com Humberto Marques, a obra será garantida pelo município e feita à revelia da APA, que é a entidade responsável por aquele espaço, mas que até agora não tem feito a sua manutenção.
O autarca lembrou que já tentaram, por diversas vezes, intervir no local e que, inclusivamente, houve propostas de protocolo (entre a autarquia e a APA) para a recuperação da ponte, permitindo a passagem em segurança das pessoas. O custo previsto para a intervenção era de 5000 euros, mas com a “exigência dos técnicos da APA, ao nível dos materiais e da concepção, já ascendia a valores na ordem dos 50 mil euros”, o que levou a autarquia a recuar.
Humberto Marques explicou que não tem havido manutenção nos caminhos pedonais e ciclovia – que acusam evidente degradação – porque também estes são da responsabilidade da APA.
Enquanto que a ciclovia da parte do concelho das Caldas foi terminada e a obra entregue ao município, do lado de Óbidos a obra não chegou a ser concluída por falência do empreiteiro.
“A Câmara já tentou muitíssimas vezes que fosse feito um contrato inter-administrativo [entre a Câmara e a APA] para se intervir no local, mas isso não aconteceu”, disse, lembrando que a responsabilidade de toda aquela área continua a ser da APA.
O autarca explicou ainda à Gazeta das Caldas que, inclusivamente, as juntas de freguesia de Santa Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa, e do Vau, têm feito a manutenção da ecopista no sentido de fazer o controle das plantas infestantes, mas que isso não tem sido bem visto por quem tem a jurisdição marítima. “Já não é a primeira vez que a Polícia Marítima vem a terreno porque andam os funcionários das freguesias a actuar em zona proibida e não foram avisados para andar lá com aquele equipamento”, disse.

Câmara de Alcobaça tambem não responde

Gazeta das Caldas - S. Martinho do Porto
A Câmara de Alcobaça nada diz sobre quando será reparado o passadiço em S. Martinho do Porto

Mas não é só na margem sul da lagoa de Óbidos que se aguardam por obras em caminhos pedonais. Em S. Martinho do Porto, os passadiços que partem de Salir do Porto e permitem passear até perto de metade da “concha azul” estão também num estado deplorável sem que as autoridades se mostrem capazes de os reparar.


Travessas de madeira levantadas, zonas cobertas de areia e outras já sem vestígios do caminho, caracterizam aquele equipamento que, nalguns casos, até representa algum grau de perigosidade. É, pelo menos, o que diz a Docapesca, entidade responsável pela sua manutenção, que até colocou sinais de perigo para os caminhantes.
Contactada pelo nosso jornal, aquela empresa pública diz que “em 2017 a Docapesca realizou trabalhos de reabilitação do passadiço de madeira para acesso à praia de São Martinho do Porto. A intervenção, realizada em estreita articulação com a Junta de Freguesia de S. Martinho do Porto e com a Câmara de Alcobaça, consistiu na reabilitação total de alguns troços do passadiço e na substituição do tabuado em zonas que se encontravam menos deterioradas”.
A mesma fonte oficial diz que “em Junho de 2018, em articulação com os serviços do município foram removidas as chulipas que se encontravam em pior estado ou sem apoio, tendo igualmente sido colocadas placas avisadoras de perigo, embora se reconheça a necessidade de uma intervenção mais aprofundada. Em resultado de erosão na duna, por alteração do perfil da praia, são necessárias obras de contenção de areias, eventual recuo dos acessos face à erosão dunar e a escavação de areias depositadas sobre as chulipas”.
Por isso, “a Docapesca está a desenvolver contactos, envolvendo não só o município, mas também a Agência Portuguesa do Ambiente – entidade responsável pela implantação do atual passeio pedonal – que permitam obter uma solução definitiva”.
E qual será essa solução definitiva? A Câmara de Alcobaça tem, neste particular, as mesmas dificuldades de comunicação que a APA. Gazeta das Caldas contactou aquele município várias vezes, mas só conseguiu obter a lacónica resposta de que “a Câmara Municipal de Alcobaça está a trabalhar para resolver esta situação, em estreita articulação com a Docapesca, a qual, recorde-se, é a responsável pela manutenção do equipamento em causa”.
Já quanto à execução de obras, a sua calendarização e o montante a investir para reparar o caminho pedonal, a Câmara não respondeu.