Qual a importância da alimentação na prevenção do cancro?

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Laura Holgado disse que nos casos em que os estudos científicos não são conclusivos sobre o impacto de certos alimentos no risco de cancro, mais vale prevenir | B.R.

Segundo as principais instituições de saúde pública, 30 a 40% dos cancros podem ser evitados com uma dieta apropriada e prática de exercício físico. Pela complexidade da doença não existe uma única resposta, alimento ou nutriente capazes de prevenir o cancro, mas está provado que uma alimentação variada em vegetais, frutas, cereais integrais e leguminosas ajuda a reduzir o risco de vários tipos de cancro.
Estas foram algumas conclusões apresentadas pela dietista Laura Holgado, numa sessão sobre “O impacto da alimentação e estilo de vida nos problemas oncológicos”, realizada no dia 2 de Outubro, na quinta da Colheitas d’ Óbidos, em A-da-gorda.


Factores externos (meio ambiente, pesticidas, químicos e bactérias), hereditariedade e alimentação/estilo de vida são as três principais causas de doenças oncológicas. Sobre as duas primeiras pouco temos controlo, mas relativamente ao que comemos, somos nós quem decide.
Dados apresentados por instituições de saúde pública indicam que 30 a 40% dos cancros podiam ser evitados com uma correcta alimentação e prática de exercício físico. Na verdade, o peso, a dieta e a actividade física, são os três principais pilares a ter em conta na prevenção do cancro e nos quais o ser humano pode intervir directamente.
Outro ponto assente é que “existem demasiadas variantes implicadas nesta doença e é difícil ter controlo sobre todas. Como não há certezas absolutas, muitas vezes facilitamos, na ideia que se tudo faz mal, então mais vale comer de tudo na mesma”, realça a dietista Laura Holgado. Um comportamento errado que deve ser substituído pelo princípio de precaução da segurança dos consumidores, que defende que nos casos em que os dados científicos não permitem uma avaliação completa do risco, é preferível não consumir esses alimentos “duvidosos”.
O que também está provado é que nenhum nutriente isolado consegue proteger-nos do cancro. O ideal é o alimento completo, conjugado com outros que também tenham propriedades anticancerígenas. Por exemplo, é mais indicado comer uma laranja que suplementos de vitamina C pois o nosso organismo absorve melhor a laranja, que além da vitamina C, tem outros nutrientes benéficos ao sistema imunitário.

SE NÃO HÁ CERTEZAS, MAIS VALE PREVENIR

Na maioria das recomendações dadas pelas organizações que estudam a prevenção do cancro é aconselhado que se limite o consumo de bebidas alcoólicas e de carnes vermelhas (principalmente processadas).
Não é que estas associações tenham “certezas absolutas sobre a relação entre a ingestão destes alimentos na causa do cancro, mas se há uma ligação média a elevada, mais vale prevenir e reduzir o seu consumo”, sublinha Laura Holgado.
No caso do vinho tinto, por exemplo, sabe-se que é rico em resveratrol, uma substância anticancerígena que também está presente nas uvas pretas. Até aqui, tudo bem. O problema é que o vinho também contém álcool (etanol), substância que foi classificada como cancerígena.
As percentagens indicam que 10% dos cancros nos homens e 3% nas mulheres podem ser atribuídos ao consumo de álcool. O risco aumenta nos cancros da mama, colo-retal, esófago, boca, faringe e laringe. É por isso recomendado um copo diário de vinho tinto no sexo feminino e dois no masculino.
Já a carne vermelha está associada ao risco de cancro colo-retal e há indicadores sugestivos para os cancros do esófago, pulmão, pâncreas, estômago, endométrio e próstata.  Contudo, “quem dá as notícias esquece-se de referir que a carne utilizada nos estudos é a carne vermelha americana, que contém mais gordura e resulta de produções extensivas. Em Portugal a carne é de melhor qualidade”, frisa Laura Holgado.
Além disso, “os americanos preparam a maioria da carne no churrasco, a temperaturas muito elevadas”. O modo de confecção é precisamente o mais importante: quando a carne é grelhada a altas temperaturas e a gordura cai na fonte de calor, gera-se fumo que vai ser responsável pela origem de substâncias potencialmente cancerígenas.
Outra recomendação é marinar a carte com ervas aromáticas (como rosmaninho) ou cerveja preta, o que pode diminuir até 20% a formação de compostos cancerígenos.

ALIMENTOS ALIADOS DA PREVENÇÃO

Da mesma forma que uma maçã oxida em contacto com o oxigénio (produzindo-se radicais livres), o mesmo acontece com as células do nosso organismo. Quando o corpo não é capaz de, naturalmente, neutralizar os radicais livres ocorre o stress oxidativo, um desequilíbrio que está associado ao aparecimento de cancro. É por isso que os alimentos antioxidantes são fundamentais na nossa dieta, pois funcionam como agentes protectores, reduzindo os danos oxidativos.
Mas atenção: ingerir antioxidantes em excesso também pode ter um efeito contrário, principalmente nos casos em que a pessoa já sofre da doença.
As vitaminas A, C, E e o selénio têm poder antioxidante, uma propriedade que também pode ser encontrada em alimentos (principalmente frutas e legumes) avermelhados, alaranjados e amarelados, assim como em vegetais verde-escuros.
O maracujá e o quivi, ricos em fibra, também são bons aliados da prevenção do cancro, assim como os vegetais crucíferos (couve-flor, espinafre, bróculos, nabo, couve roxa e de Bruxelas), alho seco, beterraba, salsa, aipo e camomila.
Preferencialmente, estes alimentos devem ser consumidos crus – pois é assim que mantêm ao máximo as suas propriedades – mas também podem ser triturados em puré, creme ou sumo, salteados ligeiramente ou cozidos a vapor. Em contacto com a água fervente as substâncias anticancerígenas podem perder-se entre oito a 59%.
Do mesmo modo, é desaconselhável comer alimentos torrados e devem-se evitar os geneticamente modificados, pois não existe forma de prever como é que se vão comportar no organismo humano e qual o seu risco a médio-longo prazo.
Laura Holgado acrescenta a estas recomendações a importância da frescura dos alimentos e do seu modo de produção, salientando que a agricultura biológica é a mais confiável e que as frutas e vegetais devem ser consumidos na sua época.
Esta não é a primeira vez que a Colheitas d’Óbidos organiza um evento  relacionado com a alimentação. No domingo a sessão teve uma vertente solidária, tendo sido angariadas “várias centenas de euros” para os Bombeiros Voluntários de Óbidos, segundo o presidente da Associação, Rui Vargas.

Laura Holgado disse que nos casos em que os estudos científicos não são conclusivos sobre o impacto de certos alimentos no risco de cancro, mais vale prevenir | B. R.
Laura Holgado disse que nos casos em que os estudos científicos não são conclusivos sobre o impacto de certos alimentos no risco de cancro, mais vale prevenir | B. R.