Rede de rega das Baixas de Óbidos vai custar 27 milhões e estará pronta em 2018

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DSC_0261A obra da rede de rega das Baixas de Óbidos deverá avançar no final do ano e deverá estar pronta dentro de três anos, permitindo a mais de um milhar de agricultores aumentar a sua produção e a qualidade dos produtos.
O projecto, orçado em 27 milhões de euros, dos quais 22,2 milhões comparticipados pelo Programa de Desenvolvimento Regional (Proder), é o maior investimento dos últimos tempos no concelho de Óbidos e responde a um anseio de várias décadas dos agricultores.
A apresentação da rede de rega foi feita no passado dia 22 de Julho, na presença da ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, que destacou a aposta que o seu ministério está a fazer no regadio.

Elias Timóteo, da Capeleira, possui 140 hectares de pêra Rocha, maçã, pêssego e nectarina nas baixas de Óbidos. Destes 80 hectares serão beneficiados pela rede de rega e o fruticultor não esconde o contentamento de poder vir a ter água à discrição. “Temos as boas terras, mas se não damos água à cultura não tiramos a produtividade que poderíamos tirar”, disse, acrescentando que em alguns casos a produção pode duplicar.
As terras já provêm da família, toda ela de agricultores, mas nos últimos anos Elias Timóteo adquiriu mais terrenos, confiante no lucro que a água da barragem lhe permitirá obter. Até porque, apesar de ter furos, os solos da região têm muita salinidade, o que dificulta o rendimento das culturas.
Actualmente exporta para Marrocos e Brasil e coloca também os seus produtos nas grandes superfícies, como o El Corte Inglês, Dia e MiniPreço. “Temos bom clima e bons terrenos, faltava-nos este ouro líquido”, remata o agricultor.
Já Luís Honorato, presidente da Associação de Regantes, destaca que o potencial da barragem excede o campo agrícola, revelando-se também uma mais valia a nível turístico e ecológico.
Também fruticultor, revela que parte dos 15 hectares que possui de pêra e maçã irão beneficiar desta infra-estrutura. “Tenho sistemas de rega, mas sinto que estou a pôr em causa a parte ecológica porque estou com furos muito profundos”, disse.
Luís Honorato disse que há cerca de 10 anos o preço do metro quadrado dos terrenos no perímetro de rega duplicou devido à expectativa da barragem do Arnóia e da sua rede de rega.
O responsável destaca ainda a empregabilidade que este aumento da produção permite, sobretudo nos concelhos de Óbidos e Bombarral.
O presidente da Câmara, Humberto Marques, que é também agricultor no concelho, disse que “um produtor gasta em média, entre energia e manutenção, na ordem dos 400 euros por hectare e com um perímetro de rega destes será na ordem dos 100 a 200 euros por hectare”.
O autarca afirma que este será o “maior investimento já feito no concelho” e permitirá duplicar ou triplicar as culturas de frutas e hortícolas, contribuindo “para aumentar o Produto Interno Bruto da região e do país e para gerar nove a 10 mil euros de tributação do hectare”.
Humberto Marques estima que investimento tenha retorno em 10 anos e acredita que o regadio contribuirá para “criar um posto de trabalho por cada hectare a mais de terreno a produzir”.
Esta é também uma aposta forte do Ministério da Agricultura, prevendo-se que este e o próximo ano sejam “aqueles em que mais regadio se instalará em Portugal”, disse a ministra Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, na apresentação que decorreu em Óbidos. Esta aposta na qualidade e em mais área de produção permitirá tornar o país na “joalharia da agricultura”, com produtos únicos, pelo seu sabor, características e forma como se impõem ao consumidor.
“Uma obra de filigrana em relação à rega”

A primeira fase do projecto de aproveitamento hidroagrícola das baixas de Óbidos compreende a construção de uma estação elevatória que filtrará a água para a rega. Posteriormente serão construídos 50 quilómetros de tubagem por onde passarão 5,5 milhões de metros cúbicos de água, que permitem irrigar 750 hectares de terras do bloco de Óbidos e 440 hectares do bloco da Amoreira, que compreende parcelas agrícolas dos concelhos de Óbidos e Bombarral. Ao todo, a rede de rega irá beneficiar cerca de 1300 agricultores.
Desta fase fará ainda parte a rede de drenagem e 50 quilómetros de rede viária, que permitirá o acesso às explorações.
António Campeã da Mota, responsável pelo projecto, realçou que o facto deste ser o “maior investimento dos últimos tempos no concelho”, está relacionado com a densidade da rede de rega. “É como se tivéssemos a fazer uma obra de filigrana em relação à rega”, disse, acrescentando que a densidade por quilómetro quadrado chega a ser duas vezes superior à do Alqueva.
Especificando, o técnico do Ministério da Agricultura referiu que neste caso serão colocadas cerca de 400 tomadas de água, o que se traduz numa tomada para cada três hectares, enquanto que na Lezíria chega a haver uma tomada para 50 hectares.
Campeã da Mota reconheceu que a realização da obra em si implicará alguns prejuízos para os agricultores, mas que também estão previstas indemnizações. Por outro lado, haverá o “cuidado em prejudicar o mínimo possível”, disse, acrescentando que as condutas serão colocadas junto aos caminhos, muros e vedações.
A barragem do Arnóia já está construída há nove anos e, juntamente com o viaduto junto à A-dos-Negros, representa um investimento de 10 milhões de euros.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

DSC_0281Regadio da Cela à espera do novo quadro de apoios

A melhoria do Regadio da Cela (Alcobaça) é um projecto considerado vital para a agricultura da região e até já foi aprovado pela tutela e classificado como um projecto de interesse regional em Conselho de Ministros. Mas tem sido constantemente adiado por falta de fundos.
Orçado em cerca de sete milhões de euros, o projecto da Associação de Regantes e Beneficiários da Cela visa a substituição do actual sistema de distribuição de água por valas, bastante degradado, por tubagens enterradas e sob pressão, beneficiando mais de 450 produtores, distribuídos pelas freguesias de Famalicão (Nazaré), Cela e Bárrio (Alcobaça).
Mas se os 80% que são comparticipados por fundos comunitários parecem não ser problema, o entrave está nos 20% que cabem ao Ministério da Agricultura, que tem adiado a luz verde ao projecto, não obstante as diversas ocasiões em que a responsável pela pasta tem salientado a necessidade de ter sistemas de rega melhores e mais eficientes.
O assunto foi abordado na passagem de Assunção Cristas pelo concelho de Alcobaça no passado dia 11 de Julho e o presidente da Câmara de Alcobaça, Paulo Inácio, diz que a ministra “não se comprometeu com nenhum prazo, mas diz que será uma das primeiras obras a avançar quando o novo quadro comunitário for implementado”. O autarca sublinha que “esta é uma obra vital que tem de ser concretizada o quanto antes”, mas admite que “infelizmente já não será este ano”.
Para Paulo Inácio os campos da Cela são “dos melhores solos do país, cuja optimização passa pela melhoria do regadio”.

J.F.