Todos de acordo: construir um novo hospital é um “desígnio imperativo” para o Oeste

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Miguel Guimarães, António Curado e Durão de Carvalho participaram no debate moderado por Marina Caldas | F.F.

A necessidade da criação de um novo hospital no Oeste é consensual entre políticos, entidades ligadas à saúde e sociedade civil. É reconhecida a incapacidade de resposta por parte do actual CHO às necessidades da região e defendida a construção de um hospital geral diferenciado, que aumente a capacidade de internamento, a atracção de profissionais e evite a dispersão de recursos.
A localização, que já foi o principal entrave para a sua criação, está relegada para uma fase posterior, concentrando-se agora os esforços na captação de financiamentos para a sua construção, tal como referiram a maioria dos autarcas oestinos presentes no debate promovido pelo Conselho da Cidade, no passado dia 26 de Junho, no CCC.

 

O novo hospital para o Oeste deverá ter uma área de 50 a 60 mil metros quadrados, um custo entre 100 a 120 milhões de euros e capacidade para mais de 400 camas no internamento, tal como acontece actualmente com o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures. Estas características foram avançadas por Durão de Carvalho, da Associação dos Engenheiros e Arquitectos Hospitalares. Na apresentação que fez, perante cerca de 180 pessoas no CCC, o orador frisou não estar a planear o novo equipamento, mas sim a traçar seu perfil.
Olhando para a actividade desenvolvida pelo CHO, o orador constatou que é “muito reduzida” face à população que serve e verificou que esta utiliza o Centro Hospitalar Lisboa Norte. Só em 2018 este hospital de Lisboa foi utilizado por mais de 5000 doentes oestinos para internamento e por 96 mil para consultas externas.
Durão de Carvalho considera que a dispersão dos serviços pelos três hospitais que compõem o CHO é “profundamente negativa” e os gastos, na ordem dos 80 milhões de euros anuais, são muito elevados. Relativamente aos recursos humanos concluiu que o centro hospitalar tem um número de trabalhadores abaixo da média nacional.
Para o novo hospital a construir no Oeste, Durão de Carvalho defendeu, não só um maior número de recursos humanos, como a existência de novas valências, como Estomatologia, Infecciologia, Reumatologia, Endocrinologia e Anatomia Patológica, ou ainda Nefrologia, esta última com internamento. Propôs ainda que as valências de Psiquiatria, Cardiologia, Neurologia e Oncologia Médica passem a ter internamento.
O orador deixou ainda o conselho para não se fazerem grandes investimentos nas estruturais actuais, incentivando aos autarcas e a população a lutar por um novo hospital, com boas condições, e que possa ser concretizado na próxima legislatura.
Também António Curado, médico e elemento do Conselho da Cidade, justificou a construção de um novo hospital do Oeste por razões de qualidade e racionalidade. Considera que o novo equipamento resolverá o problema da dispersão de recursos, falta de camas de internamento e de uma Unidade de Cuidados Intensivos, assim como da dificuldade em atrair profissionais qualificados. Para além disso, um novo hospital permitirá um aumento da diferenciação técnica, a redução da afluência de doentes a Lisboa e uma diminuição dos custos de logística que actualmente o CHO despende com os três hospitais.
Depois de fazer um historial dos hospitais do Oeste, o também ex-membro do Conselho de Administração do CHO avançou com soluções para aqueles espaços após a entrada em funcionamento do novo equipamento. Para Peniche defende o aproveitamento para camas de cuidados continuados, para Torres Vedras a devolução à Santa casa da Misericórdia de parte do edifício e também a colocação de camas de cuidados continuados. Para as Caldas, a solução é mais drástica: “a implosão dos edifícios e a criação de um espaço verde a montante do Hospital Termal”.
Relativamente à localização, António Curado referiu que a zona de A-da-Gorda, em Óbidos, fica a meio caminho, pela auto-estrada, entre os hospitais de Leiria e de Loures e tem, inclusivamente, uma paragem ferroviária. “Para mim essa é a localização, com nó rodoviário e ferroviário, mas isso implica sempre um estudo técnico rigoroso”, destacou.

Apelo à mobilização dos oestinos

“O Oeste é uma das regiões mais carenciadas, das que precisa de mais atenção no que diz respeito ao acesso a cuidados de saúde”, disse o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, acrescentando que esta não tem tido a devida atenção por parte do governo e dos deputados no parlamento.
Miguel Guimarães considera que a construção do novo hospital é uma questão política e que tem sido adiada, com prejuízo para estas populações. “Os doentes deveriam recorrer ao Centro Hospitalar Lisboa Norte apenas em situações de excepção”, realçou, considerando “inaceitável” que, por exemplo, não haja uma única cama de cuidados intensivos nas três unidades que compõem o CHO.
O bastonário mostrou-se satisfeito por perceber que existe “algum consenso” entre os autarcas e acha que isso é fundamental para se conseguir o acordo do governo. Considera que, independentemente da localização, a população ficará sempre melhor servida pois terá acesso e bons cuidados de saúde e com uma amplitude que não existe actualmente.
Defendeu também a necessidade de reforçar a capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários, que podem resolver cerca de 70% das situações que actualmente vão ao serviço de urgência.
Miguel Guimarães disse ainda que a Ordem dos Médicos está disponível para colaborar e apelou à mobilização das pessoas pela defesa do novo hospital. “Os cidadãos quando querem têm poder, têm de estar unidos”, disse, acrescentando que há partidos com representação parlamentar que não chegam a ter 300 mil votos, numa alusão ao número de pessoas abrangidas pelo actual centro hospitalar.
Também presente no debate, Luís Pisco, presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, disse não ter dúvidas de que a região precisa de um novo hospital. O responsável recebeu recentemente, juntamente com a ministra e secretário de Estado da Saúde, uma delegação da OesteCIM que ofereceu o estudo técnico que servirá de base para a definição do novo equipamento. “A proposta foi muito bem acolhida, desde logo pela ARSLVT, que se disponibilizou para colaborar em tudo o que for necessário”, disse, acrescentando que o estudo terá que responder a que tipo de hospital se deve fazer, onde e o que fazer dos três hospitais actualmente existentes.

Caldas quer o novo hospital

Convidados a intervir sobre a localização do novo hospital, a maioria dos autarcas presentes remeteu a decisão para uma fase posterior e a uma tomada de consensos no âmbito da OesteCIM. Apenas o presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, reafirmou a vontade de ter o novo equipamento no seu município. Referiu que existe um consenso político local alargado quanto a esta decisão e que irá bater-se por ela junto dos seus colegas oestinos. Contudo, reconhece que a decisão final é nacional e cabe ao governo, e que a prioridade será garantir o seu financiamento.
Já o presidente da Câmara de Peniche, Henrique Bertino, defende uma localização próxima da A8 e propôs que seja feito um pacto de autarcas tendo em conta o resultado do estudo técnico. Acredita que o equipamento ficará localizado entre as Caldas da Rainha e o Bombarral e considera que o desafio será entenderem-se, com ou sem consensos.
O autarca de Torres Vedras, Carlos Bernardes, considera que o importante é avançarem para os estudos. Embora defenda o seu território, é da opinião que se deve construir um hospital no Oeste, que melhore os indicadores da saúde e que estão “no período certo para a tomada de decisão”.
Para o presidente da Câmara do Bombarral, Ricardo Fernandes, a localização “pouco importa” e deverá estar consubstanciada no estudo a fazer. A mesma opinião foi partilhada pelo edil da Lourinhã, João Carvalho, que entende que a solução será ditada pelo estudo, mas que o novo hospital terá que ficar próximo da A8.
Também para Óbidos a localização não é uma questão prioritária, mas sim o tipo de hospital e as valências que terá, disse o vice-presidente da Câmara, José Pereira.
O debate, promovido pelo Conselho da Cidade e moderado pela jornalista Marina Caldas, contou ainda com diversas intervenções do público, como foi o caso do administrador hospitalar José Marques, que lembrou que há vários anos defende a criação de um novo hospital para o Oeste. Considera que os ex-presidentes de Câmara, Fernando Costa (Caldas) e Gonçalves Sapinho (Alcobaça), já falecido, que disputaram a localização, foram os grandes responsáveis por o hospital não se ter construído há vários anos e considera que o entendimento a 12 ainda será mais difícil.