Há consenso sobre a necessidade de um novo hospital para o Oeste, que será obviamente uma infraestrutura de grande dimensão, bem equipada, com um quadro completo de profissionais de saúde e pronta a dar resposta às necessidades da população nesta área.
O consenso é de louvar e até agora a OesteCIM tem sabido conduzir o processo (que ainda está no início e que poderá dar um passo de gigante se for inscrito no PNI2030) sem perder tempo a discutir a localização. Há, para já, que valorizar o que une os autarcas (a necessidade de um novo hospital) e deixar para mais tarde aquilo que os separa (a localização).
Neste contexto foi muito positiva a iniciativa que o Conselho da Cidade realizou na semana passada para debater a construção de um novo equipamento que venha substituir os três hospitais existentes nas Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras. Uma iniciativa da qual sobressaiu, uma vez mais, um grande consenso sobre essa necessidade, mas onde também não deixou de se abordar a sua localização. O que não é, de todo, errado, porque seria castrador limitar a discussão às características técnicas do futuro hospital.
E neste particular é compreensível a posição das Caldas da Rainha em defender o futuro hospital na cidade. O velho “hospital distrital” é o principal empregador do concelho. A sua actividade tem um efeito multiplicador no comércio caldense devido às deslocações dos utentes e dos profissionais de saúde. Não surpreende, assim, que tanto o PSD como a oposição PS se batam por um novo hospital no concelho.
É, pois, uma posição compreensível, mas pouco defensável. É uma posição que olha para o umbigo e esquece as relações inter-municipais e intra-regionais. A manter-se, será uma posição solitária e até teimosa.
Caldas da Rainha não fica no centro da região Oeste e não deve esquecer o peso de Torres Vedras no lado sul da região.
O futuro hospital terá de ficar junto à linha do Oeste. Não desta via férrea actual, atrasada e desprezada, mas sim de uma infraestrutura modernizada, electrificada, com sinalização electrónica avançada, onde coexistam comboios rápidos entre Lisboa e o Porto e comboios regionais que sirvam as localidades próximas, incluindo uma futura estação chamada “Hospital do Oeste”.
Ignorar a importância do modo ferroviário no séc. XXI e a sua importância na descarbonização e no transporte eficaz de profissionais de saúde e utentes de e para o futuro hospital, seria um erro tremendo.
Não basta o futuro equipamento ficar junto à A8. Tem de ficar junto à futura “A8 ferroviária” que será a linha do Oeste, oferecendo esta um serviço de “navettes” (comboios com elevada frequência) entre o hospital e as pontas da região.
Ora isto coloca o futuro hospital algures entre os concelhos de Óbidos e do Bombarral e, eventualmente, no limite norte do concelho de Torres Vedras. Ou seja: algures entre a Dagorda (a norte) e o Outeiro da Cabeça (a sul).
Para as Caldas da Rainha seria bom abdicar da teimosia em querer – contra tudo e contra todos – o futuro hospital na cidade e começar já a negociar para não o deixar fugir demasiado para sul.
Isso implica uma estratégia concertada, uma espécie de “pacto de regime” local, que envolva todos os partidos e a população.
Não é nenhuma “traição” aceitar que o futuro hospital fique fora do concelho se todos saírem a ganhar. Mais vale um bom hospital fora das Caldas da Rainha a servir os caldenses, do que um mau hospital dentro da cidade.
Quanto ao edifício actual, não deixa de ser saudavelmente provocadora a proposta que o antigo vogal do Conselho de Administração do CHO, António Curado, fez no debate organizado pelo Conselho da Cidade: a sua implosão! E o aproveitamento daquele espaço para funções relacionadas com o termalismo, naquilo que é considerado como um desígnio caldense.
Afinal não andam todos a defender Caldas da Rainha como uma verdadeira cidade termal?