“Um dos aspectos mais importantes e que mais aprecio neste país [República do Congo] é a segurança”

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FranciscoMartinsCongoFrancisco Martins
Caldas da Rainha
31 anos
Brazzaville – República do Congo
País e cidade onde vive actualmente
República do Congo, Brazzaville
Assistente de Recursos Humanos
Percurso escolar:
Escola Secundária Raul Proença
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

 

O que mais gosta do país onde vive?
Um dos aspectos que mais gosto neste país é o clima. É sempre quente todo o ano. A multiculturalidade existente – existem emigrantes de várias nacionalidades principalmente oriundos de outros países africanos, onde muitas vezes acabamos por conviver com essas pessoas. O Congo, na sua região costeira, tem belíssimas praias com uma extensão incrível, onde acaba a densa floresta e começa a praia.
Um dos aspectos mais importantes e que mais aprecio neste país é a segurança, que apesar de ser um país centro africano, podemos andar a pé na rua a qualquer hora do dia, não existindo grande criminalidade. Mesmo à noite, quando saímos, não temos qualquer problema de segurança.

O que menos aprecia?
Apesar de tudo o que possa ser positivo neste país, e apesar da evolução que tem existido nos últimos anos, continua a ser um país de terceiro mundo. O lixo acumula-se nas ruas, o que atrai todo o tipo de doenças. As ruas, mesmos algumas no centro da cidade, não são asfaltadas, e por esse facto, quando chove torna as mesmas um enorme lamaçal, causando diversos transtornos quando saímos de casa. As velocidades de internet são muito baixas, o que prejudica quando queremos falar com a família ou amigos via Skype.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Da família e dos amigos. É sempre importante estarem do nosso lado; no entanto, e na medida do possível, vamos mantendo o contacto. A gastronomia portuguesa é também do que tenho mais saudades de Portugal, pois nada do que existe aqui tem a ver com a nossa gastronomia.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Para já irei continuar no Congo por mais algum tempo, não tendo perspectivas de quando regressarei em Portugal. Mesmo que um dia este projecto chegue ao fim tenciono continuar a minha vida no estrangeiro. Nos dois períodos de férias que tive em Portugal,notei que, apesar de certas melhorias, o nosso país continua mergulhado numa crise profunda, que agora consigo ver de outra perspectiva.

“Uma refeição num restaurante nunca custa menos de 20 a 30 euros e um quilo de batatas chega a custar quase 5 euros”

No Congo trabalho numa empresa de origem brasileira, que está a desenvolver vários projectos neste país. A empresa conta neste momento com cerca de 120 portugueses directos, sendo que possui trabalhadores de outras nacionalidades, tais como brasileiros, marroquinos, entre outros. A minha função é de assistente de recursos humanos, sendo que neste momento desempenho tarefas mais administrativas, nomeadamente processamento de salários, pagamento de salários, rescisões de contratos de trabalho, entre outras tarefas.
Trabalho de segunda a sábado, sendo que ao sábado termino o trabalho ao meio-dia. Todos os dias uma viatura da empresa, por norma um pequeno autocarro, vai buscar todos os moradores do edifício onde moramos. E o mesmo acontece ao fim do dia. As refeições são tomadas em refeitório colectivo construído para todos os colaboradores expatriados do escritório. A rotina diária é casa-trabalho e trabalho-casa durante os dias da semana. Por vezes saio um pouco à noite, mas por norma às 22h30 estou a dormir. Aos fins-de-semana a rotina é diferente, uma vez que termino o trabalho às 12h00. Ao sábado, por vezes, faz-se um churrasco e à noite costumo sair com os meus colegas para as discotecas. Apesar de estar na capital do país, não existem muitos espaços de divertimento nocturno. Em Pointe Noire existem mais.
A maior parte dos produtos são sempre bastante mais caros do que em Portugal. Por exemplo, uma refeição num restaurante nunca custa menos de 20 a 30 euros. Um quilo de batatas chega a custar quase 5 euros. Mas andar de táxi custa 1,50 euros.
O clima é sempre quente, existindo duas estações por ano: a época das chuvas que começa em Outubro e termina em Maio, e a época seca, que é quando faz menos calor, entre Junho e Setembro.
Fora do trabalho, por norma ando sempre de calções e t-shirt. As pessoas são na generalidade pobres. Apesar de não sentirmos qualquer tipo de racismo por parte dos locais, eles são mal educados, mesmo entre eles, não respeitando regras que para nós são essenciais. Existe igualmente uma grande incidência de pobreza. A maior parte das pessoas são pobres, a maior parte dos bairros é feito de casas tipo barracas, onde fazem quatro paredes uma chapa para o telhado e passa a ser uma casa.
Apesar de tudo, não é assim tão mau viver e trabalhar em Brazzaville. De quatro em quatro meses vou de férias o que torna as coisas mais fáceis.
Francisco de Assis Ribeiro de Oliveira Martins