Um milhão de idosos vivem sozinhos em Portugal

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Os idosos devem procurar manter-se activos, cuidarem da aparência e pugnarem pelo cumprimento dos seus direitos

Dos cerca de dois milhões de idosos com mais de 65 anos em Portugal, mais de metade vive só ou com pessoas da mesma idade. O dado foi revelado por Helena Mendes, técnica de serviço social do Centro Hospitalar do Oeste, numa acção de sensibilização sobre a problemática da violência contra os idosos que teve lugar no Bombarral a 23 de Novembro.
A Câmara do Bombarral dedicou o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Doméstica aos maus-tratos contra os idosos e, para além da acção de sensibilização, promoveu uma marcha na vila para chamar à atenção da população para este flagelo.
Depois da marcha durante a manhã, com a participação de cerca de 30 pessoas, o auditório municipal recebeu o encontro para o qual foram convidadas várias entidades.
A técnica de serviço social referiu durante a sua intervenção que devido às dificuldades económicas, e uma estrutura familiar mais reduzida, torna-se cada vez mais complicado para as famílias tratarem dos seus idosos. Isso tem levado a um aumento das situações de abandono nos hospitais. “O idoso dá entrada no hospital e quando tem alta não existem familiares para contactar”, explicou.
“Formalmente não se pode considerar abandono, porque no hospital o idoso tem direito aos cuidados básicos, o que existe é protelamento de alta, ou seja, o idoso tem alta clínica mas não tem alta social”, acrescentou.
O planeamento da alta é uma das áreas de intervenção das assistentes sociais dos hospitais. Uma das suas tarefas é detectar possíveis vítimas de violência. O facto de não receber visitas, a solidão, ou a vontade de permanecer no hospital são alguns dos sinais que apontam para situações de maus-tratos.
Segundo a técnica há também cada vez mais situações em que os idosos passam a ser uma fonte de rendimento, optando os familiares por os retirar dos lares porque a reforma que recebem é mais uma ajuda para fazer face às despesas do agregado familiar.

Procurar ser autónomo é decisivo

Aos idosos presentes na plateia, Helena Mendes destacou a importância de se manterem activos, praticarem exercício físico, cuidarem da aparência, pugnarem pelo cumprimento dos seus direitos, manterem a sua autonomia e tudo aquilo que lhes dê prazer.
O presidente da Câmara do Bombarral, José Manuel Vieira falou sobre o Núcleo de Intervenção Local para a Área da Violência Doméstica, do qual fazem parte várias entidades locais e regionais com intervenção nesta área. O núcleo proporciona à população os serviços de atendimento social, acompanhamento psicológico e aconselhamento jurídico.
O autarca defende que as pessoas devem estar sempre alerta para estas situações. “Cada um de nós, na sua aldeia, na sua rua, deve estar atento e não ignorar os sinais, muitas vezes de desespero, que nos são transmitidos pelas pessoas”, sublinha o autarca, acrescentando que “temos de ter a coragem de denunciar essas situações, porque com essa atitude podemos salvar uma vida”.
Sandra Ribeiro, do destacamento de Leiria da GNR, destacou a importância destas acções para a consciencialização da população de que “a violência doméstica é uma realidade e que todos os anos morrem pessoas vítimas de maus-tratos”.
Sandra Ribeiro frisou ainda que este fenómeno atinge toda a sociedade, considerando que o número de casos registados não corresponde totalmente à realidade porque “apenas os mais desfavorecidos recorrem às instituições públicas”.
Não se isolar e não ter vergonha de pedir ajuda, ir ao hospital mesmo que não tenha marcas e apresentar queixa contra o agressor foram alguns dos conselhos com os quais Sandra Ribeiro terminou a sua intervenção.

P.A.