
É um holandês com uma costela caldense que se divide entre a arte de cortar cabelos e a pintura. Agora reformado tem mais tempo livre para as artes
Jeff Haagensen decidiu reformar-se aos 67 anos, depois de 45 anos de carreira. O cabeleireiro holandês escolheu o Oeste para viver e há 33 anos que tem o seu salão aberto nas Caldas. “Agora passo a ir só dois dias por semana”, contou o profissional que é também pintor.
Desde 1991, com o seu marido, desenvolveu o projeto de cabeleireiro ao lado da Galeria Alexander, no Bairro Lisbonense, já que o seu companheiro trabalhou na área da hotelaria e que uniam à atividade de ambos a realização de exposição de artistas nacionais e internacionais.
O salão de Jeff Haagensen cresceu e ainda hoje “tenho clientes que vêm de Lisboa e de outras localidades de propósito para cortar o cabelo”, disse, acrescentando que num dia fazia entre 20 a 25 cortes de cabelo.
Depois da pandemia, “subimos mais 30% no número de clientes”, disse o cabeleireiro que sentiu aumento sobretudo entre os clientes estrangeiros, já que Jeff é fluente em cinco línguas. Notou um aumento entre imigrantes belgas e norte-americanos. “Atendo 60% de clientes estrangeiros e os restantes 40% são portugueses”, disse o autor para quem cortar o cabelo é uma “área criativa que também tem a sua arte”.
Jeff Haagensen, que viveu na Foz e em Cortém (Vidais), agora mora no Bombarral, e contou que o facto de ser casado com outro homem nunca trouxe lhe problemas, mostrando que a região aposta na integração de quem escolhe viver no Oeste.
“Antes de fazer 50 anos ainda tive a ideia de abrir um segundo salão”, contou. Na altura viu que alguns cabeleireiros começaram a fechar e, como tal, conta que foi um sonho que não foi avante. No entanto desde cedo que aposta na sua formação pois “há sempre coisas novas para aprender”, disse.
Antes de tirar o seu curso na Holanda, Jeff Haagensen ainda pensou em ingressar em Belas Artes, mas depois a estabilidade financeira acabou por falar mais alto. E por isso apostou na formação como cabeleireiro no seu país de origem onde se concilia a parte teórica da escola com o trabalho nos cabeleireiros, apostando na integração no mercado de trabalho. Hoje considera que chegou ao topo da carreira e faz um paralelismo: toda a gente pode tirar a carta de condução, mas são muito poucos aqueles que chegam à Fórmula 1.
“A minha técnica de corte foi evoluindo e tenho clientes a quem corto o cabelo há mais de 30 anos”, contou Jeff que já corta o cabelo a filhos e até a alguns netos dos seus primeiros clientes. E dá como exemplo um cliente desta região a quem corta o cabelo desde criança e que hoje trabalha na sede da Booking, na Holanda, e que “alinha as férias para vir cá cortar o cabelo”, disse, orgulhoso, e acrescentando que mantém clientes de Santarém, de Alcobaça, Peniche, Bom Sucesso e da Praia del Rei.
Jeff mantém dois dias de trabalho de cabeleireiro na semana mas fez questão de aumentar os preços. Estes variam entre os 43 e os 50 euros em relação aos cortes de senhoras e custam 28,50 aos homens.
Entre as artes e os cabelos
Desde que está nas Caldas Jeff Haagensen faz exposições de pintura anualmente, primeiro na sua galeria e também nos espaços de arte geridos pela autarquia como as galerias municipais.
Atualmente, este autor está a tirar um curso de desenho com o artista internacional Rahul Onkon que possui o seu atelier nos Silos. “Estou a aprender novas ferramentas para o meu trabalho”, disse o pintor que usa tinta acrílica, stencil e colagens sobre as suas telas.
As obras deste artista holandês refletem sobre temáticas como a anatomia masculina, a natureza e também a abstração.
“Gostaria de ser um pouco mais conhecido pela minha arte”, disse Jeff Haagensen que tinha na pintura a sua primeira escolha e que agora passa a ter mais tempo para se dedicar às suas tintas e telas. Este autor inspira-se nas obras de Pollock, Monet, Salvador Dali e de Andrew Salgado. Este último é um artista luso-canadiano que já tem praticamente todos os quadros vendidos quando estes ainda não estão concluídos.
Para a produção das suas pinturas Jeff Haagensen prefere trabalhar de noite recorrendo a luz artificial e deixa para a manhã seguinte a aprovação dos tons que escolheu.
Na última exposição que fez nas Caldas, em janeiro do ano passado, na Galeria do Posto de Turismo, o autor passou a incluir colagens nas suas pinturas, tendo usado papel de arroz e que acrescentam diferentes camadas às suas obras. “Perfect Imperfection”, assim se designou a mostra que contou com a presença do pintor, todos os sábado à tarde enquanto a exposição esteve patente para poder conversar com os visitantes sobre o seu trabalho artístico. ■
