O livreiro José Pinho e a jornalista Inês Fonseca Santos, ladeados por Zélia e Carlos Martinho, proprietários do Josefa d’Óbidos Hotel

O Josefa d’ Óbidos Hotel aderiu ao movimento internacional de bookcrossing, de incentivo à leitura através da partilha de livros. Num recanto em destaque à entrada daquela unidade hoteleira de Óbidos podem ser encontradas perto de 400 obras, em português, inglês, espanhol e francês. Com esta iniciativa a unidade hoteleira pretende que, a partir da vila literária, os livros possam circular para os quatro cantos do mundo

Um hóspede do Josefa d’ Óbidos Hotel pode ler o livro enquanto estiver alojado naquela unidade hoteleira ou, se preferir, levá-lo consigo, deixando outro no seu lugar. Esta a filosofia que está por detrás do movimento internacional bookcrossing, que assenta na partilha de livros.
A inauguração do espaço decorreu no passado dia 4 de Fevereiro e contou com a presença da jornalista e escritora Inês Fonseca Santos, que “apadrinhou”, o projecto. Perante cerca de duas dezenas de convidados, a oradora explicou que o bookcrossing tem por base dois conceitos: o do livro e literatura e o da partilha. “A ideia nasceu nos Estados Unidos e consiste em deixar um livro num espaço público, que poderá ser levado por uma qualquer pessoa, que deixa outro no seu lugar”, disse sobre o movimento que pressupõe a ideia do mundo inteiro ser uma biblioteca.
A jornalista e escritora, que apresentou programas como “Os Livros” e “Todas as Palavras” e publicou as obras “A Palavra Perdida”, “A Habitação de Jonas”, “Suíte sem Vista” e, recentemente, “Os grandes animais”, partilhou com os presentes que cresceu em casas com muitos livros e que, muitas vezes, pedia aos adultos para lhe lerem. Considera que a ideia de colocar livros à disposição dos outros permite “descobrir as maneiras de olhar para o mundo, mas também de ver o posicionamento que os outros têm em relação ao mundo”, realçando que a literatura dá sempre a possibilidade de questionar.
Para Inês Fonseca Santos “faz todo o sentido” um projecto como este em Óbidos porque há uma presença constante de livros, tanto nas livrarias, como através de eventos como o Folio, que junta escritores de vários países para falar sobre esta temática. “É o sítio ideal para esta contaminação com livros e literatura”, considera.
Apesar de achar romântica a ideia de deixar um livro num local à disposição para outra pessoa ler, Inês Fonseca Santos reconheceu que tem algum apego aos seus livros e acha que nunca abandonaria um que tivesse gostado num lugar público. Tenta, por isso, pôr em prática o conceito de bookcrossing de outra forma: oferece aos amigos, leva para casa dos pais e deixa-os em bibliotecas para que possam ser partilhados.
“Costumamos dizer que há cada vez menos leitores, provavelmente é verdade, mas são projectos como estes que são um estímulo para atrair mais pessoas”, concluiu a jornalista, que deixou os seus livros, publicados pela Abysmo no hotel, para que possam integrar o projecto.

Livros para regenerar um hotel

O livreiro José Pinho era um homem feliz na tarde de terça-feira. “Está aqui a acontecer o que quando vim para Óbidos, há sete anos, sempre esperei ver”, disse, referindo-se à ligação das unidades hoteleiras e do comércio local com a literatura. Quando instalou em Óbidos a livraria e deu início, juntamente com a autarquia, aos festivais literários, José Pinho ambicionava que o sector privado também se juntasse, dinamizando projectos nesta área. Foi o que aconteceu com o empresário e um dos mentores da Vila Literária, Telmo Faria, que tem posto em prática esta estratégia de revitalização do centro histórico. “Usei os livros para regenerar um hotel que estava em dificuldade”, disse, acrescentando que estes ajudam a alcançar rentabilidade nos negócios. Telmo Faria considera que faltam mais espaços comerciais e restaurantes ligados ao livro e destacou a aposta dos empresários Zélia e Carlos Martinho, proprietários de um hotel “com muitos anos, clientes e estabilidade, mas que quiseram associar-se a esta estratégia”.
O empresário e actual presidente da Sociedade Vila Literária deixou ainda o convite aos presentes para integrarem aquela associação cultural, que tem por função “criar utopias e chegar à sociedade civil”. Também presente na cerimónia e em representação do município, Paula Ganhão, desta- cou que a estratégia necessita destes parceiros privados para, em conjunto, criar uma vila literária e, depois, um produto de consumo cultural.
Paula Ganhão salientou ainda que o projecto está a ter efeitos na comunidade estrangeira, dando nota que a associação Silver Coast Volunteers disponibiliza cerca de cinco mil títulos, para partilha, no edifício à Porta da Vila.

O que é o bookcrossing?

O bookcrossing apresenta-se como uma biblioteca mundial e uma rede social inteligente. De acordo com o movimento (www.bookcrossing.com) existem actualmente perto de 1,97 milhões de bookcrossers e 13,2 milhões de livros a viajar por 132 países. A missão é simples: “conectar pessoas através de livros” e isso é feito através da partilha.
O sistema de arquivo e rastreamento online permite aos membros conectarem-se com outros leitores, fazer comentários e resenhas de literatura, trocar e seguir seus livros. O registo é gratuito.
Tudo começou 2001 por Ron Hornbacker, um programador de sotfware americano, como uma forma simples de rastrear livros através da internet, mas depressa se transformou num fenómeno à escala mundial. Actualmente existe uma equipa sediada em Sandpoint, Idaho, que continua a liderar o projecto, mas a dinamização do site conta também com a colaboração de muitos voluntários do bookcrossing espalhados por todo o mundo. Portugal figura em 9º lugar no top 10 dos países que mais aderiram a este movimento, a nível mundial. A liderar a tabela estão os Estados Unidos, seguido da Alemanha e Reino Unido.
Quem aderir ao movimento, para além de partilhar livros, tem também a posibilidade de conversar nos fóruns sobre livros e autores, bem como conectar-se com membros de todo o mundo e ver por onde os seus livros passaram.
O registo permite também comprar livros com desconto, participar em concursos e viajar para convenções de bookcrossing, que já se realizam nos cinco continentes.