Caldas foi a capital das artes marciais durante o passado fim-de-semana. O campeonato do mundo trouxe à cidade termal mais de 6000 atletas de 64 países. Na competição foram distribuídos mais de 500 títulos mundiais e a organização estima que tenham passado pela Expoeste cerca de 20 mil visitantes. A espectacularidade dos combates e o respeito característico das artes marciais marcaram a 7ª edição em Portugal.
Mais de 6200 atletas passaram pelas Caldas no passado fim-de-semana para competir no campeonato do mundo de artes marciais, que se realizou na Expoeste. Foram entregues mais de 500 títulos mundiais em desportos de combate e formas. Dentro das formas podem ser feitas com ou sem armas e nas categorias soft (movimentos leves) e hard (pesados).
No primeiro dia competiram as crianças (entre os três e os 13 anos). O segundo dia foi para os atletas acima dos 13 anos e o último para as finais.
No sábado, que foi o dia com menos público, realizou-se o Demo Show (uma demonstração de artes) que contou apenas com duas equipas. Estavam inscritas onze equipas, mas pelo adiantar da hora, ficaram a concurso quatro. A Team Dragons (de Espanha) foi a segunda a mostrar a sua arte e apresentou tal nível que levou à desistência das outras duas equipas. Conquistaram o cinto e os mil euros de prémio.
Depois realizou-se o primeiro e último título da WAC, que foi ganho pelo também espanhol Ivan Parada, num combate com cinco rounds de dois minutos. O prémio foi um cinturão e um cheque de 500 euros.
Umas boas férias para os irlandeses
Da Irlanda vieram 25 atletas da Coleman Combat. Já no último ano esta equipa havia estado nas Caldas, uma cidade que o mestre Barney Coleman considera “adorável, com pessoas muito simpáticas”.
Defendendo que esta semana se traduz “numas boas férias”, disse que “Portugal é diferente de Espanha” e que depois do campeonato iriam aproveitar dois dias de lazer para passear pela região. “Conhecemos muitas pessoas novas e fizemos bons amigos, esperamos voltar para o ano com mais atletas”.
Alojado no Internacional Hotel elogiou o pequeno-almoço, mas em relação à gastronomia portuguesa salientou que “não estamos habituados a tanto peixe” e que “os mais novos são mais às pizzas”.
Os únicos problemas foram a dificuldade em encontrar pessoas que falassem inglês na cidade e os atrasos nas provas.
Notando as medalhas conquistadas afirmou que o lema da equipa foi cumprido: “viemos, vimos e conquistámos”, exclamou.
Nesta edição os Bombeiros tiveram muito trabalho, sendo várias vezes chamados durante o fim-de-semana para prestar assistência a lutadores e até a espectadores.
De um pouco mais longe, do Kuwait, estiveram 20 atletas sob a capitania de Abdullah Taqi. Apanharam um voo até Amesterdão e daí para as Caldas. “Esta é uma cidade mais que perfeita”, afirmou Abdullah que já no último ano havia estado presente no WAC da cidade termal. “Queria deixar um pedido: não acabem com esta competição”, afirmou.
Uma guerra entre federações
Num balanço do sétimo campeonato, Bruno Rebelo concluiu que “em termos de números a edição deste ano superou todas as expectativas” e que houve bastantes inscrições já fora do prazo que foram aceites. “Isso traz danos colaterais: os atrasos”.
“O objectivo foi cumprido: atestámos o concelho e acho que toda a hotelaria e restauração de Caldas e arredores poderá mostrar que foi uma enchente muito maior que no ano anterior”.
A inscrição para o campeonato nas Caldas custava entre 25 e 35 euros e há packs com hotel e transporte a começar nos 100 euros. Segundo o caldense Bruno Rebelo, presidente da Federação Portuguesa Lohan Tao, e mentor do WAC em Portugal, este “é o evento mais lowcost do mundo” nas artes marciais, o que provoca “margens muito pequenas para gerir”.
Sobre a entrada de uma providência cautelar, da autoria da Federação Portuguesa de Kickboxing e Muay Thai disse tratar-se de “um acto de má fé que é muito desumano”.
Segundo Bruno Rebelo, a queixa alegava que o evento era ilegal, que não tinha seguros nem controlo anti-doping e que copia as modalidades sob a égide daquela federação.
“Estes WAC não copiam nada, daí a maldade da denúncia. São as nossas regras, os nossos árbitros e as nossas federações a tentarem criar uma estrutura para uma rápida ascensão ao Comité Olímpico”, defendeu, notando que este é um trabalho com 15 anos e com campeonatos realizados em vários países: Portugal (sete edições), nos Estados Unidos da América (14), Líbano (6), Kuwait (3), Hungria (19), França (6) e Espanha (3). “O das Caldas é o maior do mundo”, afirmou, acrescentando que “o português nasceu para praticar artes marciais”.
A organização foi contactada pela ASAE, mas tinha toda a documentação o que impediu a Providência de avançar. “Senão tinha sido uma catástrofe para a organização e para o concelho”, afirmou. Valeu “o bom-senso” da Câmara, da ASAE, PSP e Expoeste, “já que as instituições desportivas e do Estado português não tomaram medidas de precaução para nos proteger”.
Relativamente aos custos não esclareceu o valor, mas explicou que “comparando com o do ano passado [400 mil euros] o custo é enorme e ultrapassou tudo o que tinha previsto”. É que, “se era para ficar em Portugal tínhamos de arriscar tudo”.