Uma falência na Irlanda levou à montagem de uma fábrica no Carvalhal

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Bruno Louro produz tapetes em “esparguete de PVC”, assim designados por o policloreto de vinil utilizado ter a forma daquela massa |Joel Ribeiro

A Absorve é uma empresa do Carvalhal (concelho do Bombarral) que é a única na Europa a fabricar tapetes em “esparguete” de PVC para exteriores. O negócio foi iniciado em 2009, apenas para revenda de tapetes personalizados, mas a falência do fornecedor irlandês colocou a Absorve numa encruzilhada: ou fechava as portas ou passava a fabricar o produto que antes só comercializava. Bruno Louro, responsável da empresa, escolheu a opção que à partida seria a mais difícil – fez uma fábrica de raiz no Carvalhal e hoje a Absorve está em crescimento e já exporta quase metade do que produz.

O core business da Absorve, Lda. são os tapetes de esparguete em PVC, que a empresa fabrica de raiz e que comercializa, tanto em rolos para transformação, como em produto acabado. “Somos os únicos a fabricar estes tapetes na Europa. Só se fazem aqui, na China, na Índia e no Brasil”, refere Bruno Louro.
A grande diferença dos tapetes de PVC fabricados pela Absorve em relação aos provenientes dos outros países é que a matéria-prima utilizada “não contém metais pesados e outros produtos prejudiciais, que são proibidos pela União Europeia”, realça o empresário. A outra diferença é que a gramagem é superior. Quando se fala em tapetes de exterior, o peso é importante e os da Absorve pesam 5 kg por m2, o que lhes dá maior resistência.
Da linha de montagem saem rolos com 1,2 metros de largura por 6 metros de comprimento, com uma paleta de 24 cores disponível. Estes são convertidos em tapetes pela própria Absorve, ou vendidos como matéria-prima para serem acabados por outras empresas, sobretudo no estrangeiro.
Os tapetes acabados podem ser lisos ou personalizados, por exemplo com uma imagem corporativa. Um trabalho que a Absorve também faz através de um método da composição com material das diferentes cores, seguida de vulcanização. Este método garante que a imagem persiste durante toda a vida útil do tapete, o que não acontece com os produtos personalizados através da pintura.
Estes tapetes têm ainda como particularidade não acumularem humidade, areias e pós, além de serem facilmente laváveis.
A empresa bombarralense produz também outros tipos de tapete direccionados sobretudo aos exteriores das casas.

DA REVENDA PARA O FABRICO

A Absorve, Lda. foi fundada em 2009 por Bruno Louro, que até ali trabalhava com o pai no restaurante O Lagar, no Carvalhal, e que fica em frente à fábrica da empresa.
O empresário conta que a ideia surgiu numa conversa, na qual percebeu que existia grande carência de revendedores de tapetes personalizados em Portugal. “Comecei por criar a empresa para revenda, não produzíamos absolutamente nada”, conta Bruno Louro, acrescentando que o material era importado da Irlanda.
No entanto, pouco tempo depois de lançar o negócio e com uma estrutura já montada, a fábrica irlandesa foi à falência.
“De um momento para o outro fiquei sem fornecedor de um produto de qualidade, com preço competitivo e disponibilidade de entrega rápida”, explica Bruno Louro. Uma vez que a opção por importar da China implicava a obrigação de comprar mais quantidade, com maior tempo de espera e menor leque de cores, o bombarralense teve, então, que decidir entre encerrar o negócio ou passar a produzir. “Escolhi a segunda… e a mais complicada”, observa.

O processo conheceu algumas barreiras. Como as máquinas disponíveis para esta produção vinham da China e estavam demasiado desajustadas à realidade europeia (sobretudo ao nível dos consumos de energia), acabou por construir a própria máquina e linha de produção, num processo muito experimental que demorou cerca de um ano a concluir.
“Quando produzimos a primeira vez, ficámos muito contentes, mas nada daquilo foi vendido, teve que ser muito afinado” até se ter atingido o grau de qualidade que hoje ostenta, conta Bruno Louro.
Passar da revenda para a produção alterou também a política da empresa, que se dirigia em exclusivo ao cliente final e ao mercado interno. Hoje os clientes são, em maioria, revendedores de tapetes e até alguns produtores que se dedicam à tapeçaria de interiores e procuram um complemento com a gama de exteriores.
Também se abriu a porta do mercado externo, que actualmente representa 40% do volume de negócios. Os mercados de destino principais são Holanda, Espanha, Itália, França e Alemanha.
A Absorve tem visto crescer a sua actividade. Em 2016 obteve um volume de vendas na ordem dos 300 mil euros, com um crescimento próximo dos 20%. Em 2017 a empresa continua a aumentar as vendas a um ritmo superior aos 10% e garante cinco postos de trabalho.
Bruno Louro diz que a capacidade de produção está longe de esgotada nas actuais instalações. Está a fabricar um contentor deste produto por mês com o horário de trabalho normal. “Se trabalhássemos 24 sobre 24 horas a capacidade seria muito maior”, realça o empresário. Este é um cenário que, por enquanto, não se coloca, uma vez que isso obrigaria a reduzir preço, estrangulando as margens de lucro, e a diminuir a margem de erro, aumentando também o risco.
Nesta altura a empresa está mesmo a rejeitar encomendas de camiões completos para o estrangeiro. “A razão é que preferimos solidificar a marca, a nossa imagem, a nossa qualidade”, concluiu.