O Oeste está na rota do hidrogénio verde

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Nazaré Green Hydrogen Valley aguarda luz verde, H2Mobility Alenquer já segue em fase piloto

O Oeste, que lutou arduamente para evitar a instalação de uma central nuclear no território na década de 1970, está agora linha da frente pela implementação de energias verdes. Em desenvolvimento estão dois projetos para a exploração do hidrogénio. Um numa fase mais avançada, em Alenquer, e outro ainda a dar os primeiros passos, para uma mega infraestrutura na Nazaré e Marinha Grande.
O Nazaré Green Hydrogen Valley (NGHV) é um projeto de um consórcio que reúne líderes industriais num projeto inovador de descarbonização através da utilização de hidrogénio verde. Este consórcio “representa cerca de 10% do total de emissões [de CO2] da indústria nacional, tendo um forte impacto na sustentabilidade e nas exportações das empresas, bem como das comunidades”, refere a Rega Energy, empresa que lidera o projeto.
Na fase inicial, o projeto junta cinco empresas líderes na indústria nacional dos sectores do cimento e do vidro, ativas nas zonas da Marinha Grande, Leiria e Coimbra, nomeadamente a Cimpor, a Secil, a BA Glass, a Crisal e a Vidrala. A estas juntam-se no consórcio a Águas do Centro Litoral, a Galp Gás Natural Distribuição, os centros tecnológicos de investigação e desenvolvimento C5Lab, Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro e a Associação Portuguesa do Hidrogénio (AP2H2), bem como parceiros como a Fusion Fuel e Madoqua Ventures.
O objetivo do NGHV é a produção de hidrogénio a partir de águas residuais e energias renováveis. Este hidrogénio será fornecido às empresas industriais como fonte de energia térmica, substituindo o gás natural atualmente utilizado. Além da descarbonização, os industriais pretendem estabilizar os preços da energia que as industrias consomem.
Além do fornecimento direto a estas empresas, o NGHV pretende injetar hidrogénio na rede de gás natural, para que seja entregue a outras indústrias da região, como a cerâmica, através de contratos de compra indireta.
O investimento previsto ascende a cerca de 150 milhões de euros e prevê a criação de 140 novos postos de trabalho.
O eletrolisador será construído na Quinta da Lagoinha, no concelho da Marinha Grande, mais próximo das indústrias que vão receber o hidrogénio diretamente, e o projeto já recebeu luz verde dessa autarquia.
A outra parte do projeto, nomeadamente o parque de energias renováveis, está prevista para Fanhais, no concelho da Nazaré, onde o processo está, atualmente, parado. Esse plano, a ser aprovado, prevê a implementação de um parque híbrido numa área de 220 hectares – equivalente a cerca de 220 campos de futebol – com capacidade instalada de 40MW de energia solar fotovoltaica, com mais de 60 mil painéis solares, e 40 MW de energia eólica a partir de sete turbinas.
A questão, nesta fase, é que os terrenos estão localizados em Reserva Ecológica Nacional, o que obriga à revisão do Plano Diretor Municipal do concelho. Na última sessão de câmara do passado mês de março, após a apresentação do projeto, o executivo travou o processo para ouvir com ais detalhe os promotores do projeto e também para obter pareceres de diversas entidades. A população de Fanhais faz correr um abaixo-assinado contra a instalação do parque de energias renováveis na freguesia, tendo como um dos argumentos a desflorestação a que o projeto obriga.
Se a norte do Oeste, o Nazaré Green Hydrogen Valley ainda tem obstáculos a ultrapassar até à implementação, a sul, em Alenquer já está em desenvolvimento em fase piloto o H2Mobility Alenquer, um projeto que envolve o município, a EDP, o Grupo Luís Simões, a IVECO e a AP2H2.
Localizado no Carregado, o H2Mobility Alenquer visa a produção e abastecimento de hidrogénio. Na fase inicial, a decorrer nos próximos dois anos, será produzido hidrogénio para abastecer um camião que será operado pelo Grupo Luís Simões no transporte de mercadorias. O objetivo futuro passa também por substituir o gás natural pelo hidrogénio para produção de energia térmica. ■