Óbidos está a criar produtos identitários de valor acrescentado

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DSC_0370Criar produtos inovadores com identidade local é o objectivo do projecto Ativa-te, segundo a metodologia do Design Thinking, orçado em 20 mil euros e que está a decorrer em Óbidos, juntando produtores e designers. A primeira fase foi apresentada no passado dia 23 de Janeiro, nos antigos Armazéns do Vinho, em A-da-Gorda, que irão ser convertidos num pólo do Espaço Ó, destinado ao desenvolvimento comunitário.
Prevista está também a criação de uma loja na vila para comercialização de produtos como sendo os bolos caseiros ou o azeite, ou até bens imateriais como histórias e tradições de Óbidos.

Não há festa em família em que António Barros não faça as suas broas de passas e amêndoas e os bolos de ferradura. As receitas aprendeu-as com a mãe e a curiosidade tem-no levado a experimentar novos sabores.

Entretanto, também a confecção do pão tem suscitado o interesse deste funcionário da empresa EPAL (Águas de Lisboa e Vale do Tejo) que, nas horas livres já fez experiências de pão caseiro com cenoura e com beterraba. Além das cores, obtidas sem corantes, o gaeirense consegue também dar novos sabores ao pão.
António Barros é um dos 14 elementos que integra o projecto Activa-te, dinamizado pela Câmara de Óbidos, com o objectivo de apostar em produtos identitários, dando-lhes uma nova “roupagem”, de modo a torná-los mais atractivos para serem comercializados na vila. Este empresário diz que vai continuar a experimentar novos sabores e conta com a ajuda para a criação de uma marca própria a fim de divulgar os seus doces e o pão caseiro.
Os amigos de escola, Hugo Agostinho e Norberto Figueira, resolveram apostar num negócio conjunto de produção de azeite. Um tem cerca de meio hectare de oliveiras na Gracieira e outro o dobro no Vau. Em conjunto, produziram no ano passado 320 litros de azeite que vendem essencialmente à “malta amiga”. Querem expandir o negócio e, em fase de experimentação, têm o azeite aromatizado com louro, alecrim, tomilho, pimentas e malagueta. Também já começaram a testar o seu azeite em sabonetes e velas. Nesta últimas, a incorporação do azeite na sua produção faz com que demorarem mais tempo a arder.
“O nosso azeite tem 0,3º de acidez, o que atesta a sua excelente qualidade”, diz Hugo Agostinho, acrescentando que o dono do lagar que faz a transformação quer sempre ficar com todo o azeite que diz que é “bom para os doentes”, pelo seu baixo teor de acidez.
Os dois jovens estão também em contacto com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste e pensam ir à fábrica do sabão dar a conhecer o seu produto.
Para além destes produtos, estão também a ser trabalhados no âmbito deste projecto os Bordados de Óbidos (com novas aplicações em peças de vestuário e ligadas à moda), a criação de uma ludoteca e a concretização de livros com jogos, histórias e fotografias associadas às pessoas e locais.
Uma loja na vila

Após esta primeira fase de acompanhamento e conhecimento dos produtos, a Câmara pretende juntar o conhecimento da universidade e laboratórios para criar mais valias. “É preciso dar uma narrativa aos produtos”, defendeu Humberto Marques, acrescentando que estudos recentes revelam que 80% da sociedade consome em função do rótulo.
Até finais de Julho contam chegar ao produto final. Nessa altura, cada um dos participantes já terá também a sua marca própria, associada a uma outra, mais geral e que deverá estar ligada ao território. Depois, estes produtos identitários serão comercializados em Óbidos, numa loja que a autarquia pretende abrir.
Esta será apenas a primeira fase do projecto, que Humberto Marques espera que tenha continuidade quando outros virem o sucesso destes participantes.
Esta primeira apresentação de alguns projectos decorreu nos antigos armazéns do vinho, em A-da-Gorda, um local que será transformado em mais um pólo do Espaço Ó, destinado ao desenvolvimento comunitário. Este edifício irá acolher, preferencialmente, os projectos ligados à agricultura e produtos da terra.
No ano em que se comemora o Ano Internacional do Entendimento Global, a autarquia está também apostada em perceber como é que o produto local pode ser vendido em todo o mundo não perdendo as suas características e com um preço socialmente justo. Nesse sentido, está a trabalhar com Luís Osterberg, docente do Instituto Politécnico de Tomar, e com uma rede mundial da Unesco.
“Pretendemos estudar como nós, e outros locais com o mesmo problema, nos podemos unir para que estes produtos cheguem a todo o mundo sem perder esta base de produto socialmente justo”, explicou a vereadora da cultura, Celeste Afonso.