«Domínio público» de Paulo Castilho

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O ponto de partida deste livro de Paulo Castilho (n. 1944) é a ideia de se criar uma Fundação com o património de uma família: «uns irresponsáveis a nadar em dinheiro mas precisavam de mais para os esquemas do Eduardinho, os disparates da Sofia, as manias da Filomena, a casa no Mar da Palha». Uma Fundação em Portugal tem que entrar na regra de ouro: «tudo se resolve pelo processo de não se resolver». As pessoas contactadas para a Fundação viveram no passado («ninguém acreditava no Estado Novo tirando meia dúzia de fanáticos») e chegaram ao presente: «Hoje toda a moral é pública, só existe o que se exibe».
A Fundação começa a ser pensada a partir da ideia de defender a língua Portuguesa e os escritores cujos livros não estão disponíveis porque ninguém os publica: «Gaspar Simões, Casais Monteiro, Branquinho da Fonseca, Marmelo e Silva, Alberto Serpa, Saul Dias, Carlos Malheiro Dias, Miguéis, Irene Lisboa, Maria Judite de Carvalho, Namora, Redol». Mais tarde se percebe que a Fundação não é possível: «a língua hoje está na televisão, nos SMS, no Twitter. Sound bites. Os livros são irrelevantes, são para a elite e a elite é irrelevante». O escritor Falcão escreve no seu Blog: «No tempo do Salazar eram os areópagos internacionais, nestes tempos de calote fixamo-nos nas agências de rating. Reina a falta de rigor, o mais ou menos, o aproximadamente, o tanto faz». E conclui: «As pessoas queixam-se do IVA e do IRS mas há em Portugal um imposto bem mais sinistro, o imposto da espera».
Esta é também uma história de palavras. Seja o neopalavreado («positivo, proactivo, transparente, aprofundado, empenhado e sustentável») seja o jantar onde um ministro distribui palavras e expressões como «alavancar, arregaçar as mangas, determinação e sucesso». Sem esquecer uma homenagem a Eça de Queirós com os protagonistas a passearem  pelo Largo Camões, Rua da Misericórdia, São Pedro de Alcântara, D. Pedro V, Príncipe Real, Rua da Escola Politécnica. Tudo porque um encontro privado no Connecticut pode passar ao domínio público em Lisboa.
(Editora: Dom Quixote, Capa: Rui Garrido sobre imagem de Julião Sarmento)

José do Carmo
Francisco