Bordalo e Paula Rego

0
1059

Nos 100 anos do Museu Bordalo Pinheiro, Paula Rego regressou a Lisboa para referenciar a influência artística de Rafael Bordalo Pinheiro na sua obra.


O resultado está à vista na exposição “Diálogos Imaginados – Rafael Bordalo Pinheiro e Paula Rego”, patente no Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa, entre os dias 26 de Maio e 29 de Setembro de 2016.
A Câmara Municipal de Lisboa aproveitou a presença da artista Paula Rego na inauguração da exposição para lhe entregar a Medalha de Ouro da Cidade, em cerimónia presidida pelo Dr. Fernando Medina presidente do município olisiponense.
A exibição, comissariada por Pedro Bebiano Braga, composta por obras e reproduções dos dois artistas coloca em diálogo a obra destes dois artistas portugueses, procurando dar a ver como o trabalho de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), desenhador humorista e ceramista, se encontra referenciado na narrativa pictórica de Paula Rego (1935), referenciando pontos de contacto e da influência artística que Rafael Bordalo Pinheiro exerceu sobre a arte de Paula Rego, nomeadamente ao nível dos seus temas e dos elementos.
A influência é nítida e assumida com orgulho por Paula Rego, nomeadamente, ao nível do imaginário inspirador, e da permanente transgressão na escala dos objectos, nas lógicas reactivas ou emotivas e na capacidade de elevar o riso á categoria de terapia esconjuradora.
Paula Rego, que afirmou que o seu pai adquiriu muitas peças de cerâmica idealizadas e produzidas por Bordalo Pinheiro, utilizou tais peças como adereços e como referenciais sinápticos em muitas das suas pinturas e das suas séries de gravuras historiadas. A exposição integra algumas dessas peças, das quais salientamos a “Primeira Missa no Brasil”, (1993), na qual ocupa um lugar de destaque um belíssimo e exuberante peru bordaliano (Mísula Perú, 1889).
Do conjunto da obra gráfica apresentam-se também muitos e felizes exemplos desse diálogo, dos quais saliento o excelente “Meus Senhores” (RBP, O António Maria, 1883), “masterizado” na “Hey Diddle Diddle” (PR, Série Nursey Rhymes, 1898).
Para esta exposição, Nick Willing filmou um depoimento da mãe, Paula Rego, sobre Rafael Bordalo Pinheiro, que acompanhará a exibição da exposição.
Embora sejam obras artísticas de tempos diferentes da contemporaneidade – distantes quase um século – ambas fazem a crítica visual (subversiva) da sociedade e da política, seja através da ironia e do riso (humor mordaz), seja mediante o choque e a distorção subjectiva.
Presentes na inauguração da exposição alguns caldenses, apaixonados e estudiosos da  arte, da vida e da obra de Rafael Bordalo Pinheiro, entre os quais destacamos o Dr. João Bonifácio Serra, a Isabel Castanheira, que emprestou algumas peças da sua colecção particular para a exposição, e a actual responsável artística da Fábrica Rafael Bordalo Pinheiro, Elsa Rebelo. Será que ainda assistiremos à materialização do  sonho antigo de vermos Paula Rego a recriar peças cerâmicas de Bordalo? Será?

Nicolau Borges