Já a minha Avó me dizia – Hoje fico-me por Óbidos

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É um privilégio poder escrever esta crónica, num lugar paradisíaco, em Porto Martins, na Ilha Terceira, com o mar a escassos metros.
O tempo faz calor, não há vento, a água do mar está calma e quente.
Desde há algum tempo, por razões profissionais, me apaixonei pela ilha.
Costuma-se dizer que não se volta ao sítio onde fomos felizes, mas não é o caso.
Acabou o Fólio 2018. Este ano, com mais público. As sessões em que participei havia muita gente interessada, atenta e participativa.
Também, o facto de não haver tantas sobreposições de sessões pode ter contribuído para este êxito.

Mas quem chegava a Óbidos podia não saber que estava a decorrer um festival literário. Nesse aspeto julgo que falhou alguma comunicação.
O Fólio, é óbvio que será sempre um festival para as “elites”, mas era bom haver um esforço para envolver toda a comunidade de modo a dar-lhe, também, um cariz “popular”.
Mesmo durante o Fólio, a maioria das lojas encerraram ao fim de tarde.
Envolver os comerciantes na programação, de modo a integrá-los, nem que seja ao fim de semana, poderia dar uma imagem diferente a este Festival Literário.
E também, dar-lhe uma dimensão Regional.
O Fólio já fez o seu próprio percurso e pode crescer nessa direção, permitindo assegurar, certamente, outros apoios financeiros e a sua estabilidade futura.
Transformar este evento literário num encontro de amigos, de livreiros, de escritores, jornalistas e alguns leitores, julgo que é pouco.
É evidente que se pode dizer que em algumas das sessões o envolvimento do público nega esta afirmação de “elitismo”.
Mas, não será a exceção para confirmar a regra?
A Vila de Óbidos tem todas as condições e potencialidades para ter um Festival Literário também de raiz popular.
No meu caso estou profundamente à vontade. Gosto muito de livros, de escritores, de livreiros, e dentro das minhas possibilidades, contribuo sempre que posso, para estes eventos.
Também sabemos que se anuncia para breve, a entrada em vigor em Óbidos, de um novo regulamento sobre a ocupação do espaço público dentro da Vila.
“Para grandes males, grandes remédios”, como dizia a minha avó.
É certo que foram anos e anos de excessos dentro da Vila. E também, é certo, que há muito que se sabia da existência deste novo regulamento.
Mas quem viaja com frequência, sabe que nas cidades existe um movimento, por um lado, de devolver a rua às pessoas, mas também de haver dinâmicas de interligação dos comerciantes com as pessoas.
Nos mercados de Natal da Alsácia, por exemplo, faça frio, chuva ou neve, o comércio está na rua. Quem quiser ir em Dezembro a Colmar terá de marcar alojamento com pelo menos um ano de antecedência.
A rua Direita de Óbidos é visitada, anualmente, por cerca de dois milhões de pessoas. Óbidos está no mapa. Vale por ela própria, uma vila medieval entre muros, com uma mística própria. Mas também beneficia da sua situação geográfica entre Lisboa e Fátima (onde vão cerca de seis milhões de visitantes por ano).
Mas será que os turistas querem chegar à Vila de Óbidos, logo de manhã, vindo de Lisboa e não ver nenhuma animação de rua? Todo o comércio dentro de portas. Sendo a maioria das lojas de pequeníssima dimensão. Será que eles cabem todos lá dentro….
E porque não um período transitório onde se permitisse algum dia (s) a atividade de comércio na rua? Mais disciplinado, é óbvio. Para se fazer um balanço daqui a algum tempo.
E quando é que Caldas da Rainha vai ter um plano para atrair estes milhões de pessoas que circulam na A8, e que nem sabem que existe uma cidade com as caraterísticas das Caldas da Rainha?

 

Jacinto Gameiro
jacintogameiroadv@gmail.com