Um Livro Por Semana 234 – «De mãos dadas com o vento» de Rosa Calisto

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Depois de «Estados d´Alma» de 2003, este «De mãos dadas com o vento» é o segundo livro de Rosa Calisto (n. 1950) e nele se incorporam dois registos maiores: Natureza e Cultura.

De um lado a Natureza com a Costa Nova, o Ceará, Buarcos, Conímbriga e Moçambique: «Nascida, nascida / entre a morte / entre a miséria / e a má sorte. / Pobreza e fascínio. / Conquista e domínio / da mãe natureza / mais madrasta / que mãe / nesta Lichinga. / Renegada maternidade / Desprotegida África.»
De outro lado a Cultura com poemas para a memória de Albert Camus, José Régio, Miguel Torga, José Afonso e Carlos Paredes: «Quero ser / a guitarra / abraçada / afagada / tangida / gemida / coroada. /Quero ser / a guitarra / de voz / terna / ciciada / gritada. / Quero ser / solidão / revolta / emoção.»
Mas além destas linhas poéticas, outras direcções se anunciam nas páginas deste livro. Por exemplo a oscilação entre a maternidade («As mulheres / a quem aparo os filhos / são também / os meus cadilhos») e a velhice: «Alberga-se / em lares / a solidão / dos que vão / ficando / sem idade. / Desbotada / a vida / igualando / os dias / em sucessões / de nada»
Mas também o arco entre o sopro da morte («Quando morrer / meu amor / e cinzas for / lança-me ao vento») e o sopro do amor: «Em outro tecto / te abrigas / nas noites / da minha solidão. / Privilégio nosso / amar / como nos amamos / mesmo na solidão / não há separação.»
(Chiado Editora, Prefácio: Luís Machado, Coordenação: Susanne Engel).