Uma visão desalinhada sobre o Congresso Empresarial do Oeste

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Felicito a realização do Congresso Empresarial do Oeste. Sou empresário e estou do lado dos empresários, mas não estou gratuitamente, nem tão pouco a qualquer preço.
Não querendo parecer o Velho do Restelo, vou, no entanto, criticar uma iniciativa que deveria, enquanto empresário, acarinhar.
Então onde estava o Parque Tecnológico de Óbidos nesta iniciativa empresarial do Oeste?
Então onde estava as indústrias criativas e as tecnologias de informação neste congresso?
Então, se estamos num congresso de prospectiva, será que o Parque Tecnológico, será que as Tecnologias de Informação, são algo de somenos e algo a ignorar no nosso estudo prospectivo?
Não, não são!
Então e o ensino na Região? Será que estamos todos contentes com a hegemonia do IPL? Será que o IPL responde satisfatoriamente às necessidades da Região Oeste?
Não, não responde! Há coisas boas e más, mas nós não podemos ficar contentes porque as más são muito más para o Oeste e principalmente para as Caldas da Rainha e Óbidos.
Nos últimos anos o IPL passou de uma ESTGAD para apenas uma ESAD, perdeu o tecnológico e a gestão, que transferiu para Leiria. Caldas da Rainha passou de uma cidade universitária com UAL, Católica e IPL, entre outras iniciativas, para um deserto no ensino. Mesmo a ESAD é apenas uma escola ligada à máquina, um fantasma daquilo
Não quero acreditar que seja pela idade dos promotores, nem pelo seu histórico enquanto empresários, nem tão pouco por miopia política da Oestecim, mas seria interessante saber porque razão temas tão importantes como estes não são abordados num congresso empresarial que pretende servir para o desenvolvimento futuro da região e das empresas.
Sou um empresário que acredita na formação, formação, formação, ensino obrigatório se possível até à licenciatura. Não vale a pena omitir o que é claro como a água. Recursos com formação, recursos com graus académicos altos têm estatisticamente melhor empregabilidade, têm estatisticamente melhores salários. Na minha empresa e no meu sector quem não apostar na formação permanente e intensiva fica pelo caminho. Não é possível sobreviver, competindo praticamente com todo o mundo, num sector onde a distribuição não tem as barreiras físicas e geográficas que outros sectores têm, se não estivermos permanentemente a inovar. E a inovação faz-se com o conhecimento universal, com aquilo que outros descobrem, desenvolvem e para o qual temos que estar atentos e conhecer.
Nós podemos ter aqui e ali um ou outro caso de sucesso empresarial, mas será sempre uma confluência de determinados factores que não conseguimos sistematizar na sociedade se não tivermos uma enorme capacidade no ensino, uma grande apetência nas famílias para o conhecimento, uma valorização do ensino pela população em geral.
Não vi ninguém neste congresso a falar disto, a fazer o desenho do que espera para a região, e não é só para Peniche e as tecnologias do mar, se bem que era interessante conhecer o que isso é, o que representa em termos de empresas, postos de trabalho e volume de negócios, porque uma coisa é falar-se de coisas que são sexys, outras é o trabalho prático no terreno. Mas para nós da Região Oeste, Caldas da Rainha e Óbidos não podem simplesmente serem esquecidos. Nós temos que puxar por nós, não querendo quintinhas, mas querendo pelo menos aquilo que já tínhamos como adquirido e que entretanto tornou-se um deserto.

João Figueiredo