“As artes são fundamentais para dilatar mundos”

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A cerimónia de abertura do ano escolar teve como mote as artes e como convidado o Comissário do PNA

“Acredito que a escola devia ser o lugar onde cada um pudesse descobrir o que é. Não é a cópia do que outros querem ou do modelo a partir do qual todos se teriam que se adaptar. Cada um poder descobrir-se, porque não é qualquer coisa que já exista determinada, é algo que está a fazer-se. E aí as artes têm um papel fundamental. Na capacidade de cada um descobrir possibilidades de si que antes não sabia que tinha”, palavras de Paulo Pires do Vale, Comissário do Plano Nacional das Artes (PNA), na aula inaugural da Cerimónia de Abertura do Ano Escolar 2023/24, decorrida no pequeno auditório do CCC, a 28 de outubro.

“Todos os alunos vêm com um conjunto de condicionantes, com um mundo limitado. E a escola precisa de o dilatar e de contrariar o destino; não se ficar convencido que o código-postal vai predizer se o aluno tem sucesso ou insucesso. Estou certo que mais artes, mais património, mais cultura nas escolas também permitem isto”, que é a “grande missão da escola, indestinar”, defendeu o comissário.

Numa palestra onde se falou também da construção intergeracional da verdade, ao invés de uma transmissão unidirecional, de “agentes de contágio”, “extituições”, “transdisciplinaridade” e do papel do ensino das artes no fomento ao “ativismo cultural”, como já existe o ambiental, abundaram também as histórias, como a da coreógrafa dos musicais “Cats” e “Fantasma da Ópera”, Gillian Lynne, em quem um psicólogo escolar descobriu o dom da dança e não uma menina com necessidades especiais ou doente, como lhe era usualmente apontado. “Precisamos de professores, pais, agentes culturais profetas”, alertou.

Findo um ano letivo profícuo no que toca à implementação do PNA nas escolas caldenses, a cerimónia teve as artes como tema (à semelhança do programa do Gabinete da Juventude para 2024). A vereadora da Educação e da Cultura, Conceição Henriques, informou que a autarquia prevê no seu orçamento um aumento de 25% (de três mil para quatro mil euros) da verba atribuída aos agrupamentos escolares no âmbito deste plano, prometendo um “trabalho ativo” em conjunto com os “coordenadores do PNA e com a coordenadora regional para que o plano vá crescendo e se constitua como um instrumento transformador da sociedade caldense, dos nossos jovens e do resto da população”.

Houve ainda uma mesa redonda moderada pela coordenadora intermunicipal do PNA, Elisabete Silva, onde os diretores dos três agrupamentos escolares do concelho fizeram um balanço do trabalho desenvolvido no âmbito do plano, tendo ainda sido partilhada a história de um aluno que descobriu uma área de interesse no campo das artes – a fotografia – e, por conseguinte, aumentou o rendimento e a motivação académicos, através da ajuda da artista residente na Bordalo Pinheiro, Amábile Bezinelli.

O aluno realizou ainda uma exposição na escola, que contribuiu para fomentar a sua boa imagem junto dos pares. “Este aluno acabou por sentir que pertencia àquela escola, e este facto mudou completamente a sua postura. Mas também mudou a vida da sua família, como tivemos oportunidade de ver numa mensagem que deixaram nas redes sociais”, contou a coordenadora intermunicipal do PNA, Elisabete Silva, a respeito da história que lhe foi, por sua vez, transmitida pela professora coordenadora do Projeto Cultural de Escola (no âmbito do PNA) no Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, Cecília Correia.

A coordenadora intermunicipal do PNA teceu ainda uma palavra de reconhecimento pelo trabalho colaborativo entre “as escolas, a autarquia, as instituições, as famílias e os alunos deste território”, onde está “a acontecer algo muito interessante”.

Trata-se de um trabalho que já tem sido reconhecido nacionalmente, como é o caso do “Manifesto Anti-Corrupção”, desenvolvido pelos alunos do 2.º ciclo da EB de Santa Catarina, e que abriu a sessão. Este foi agraciado, em junho passado, com uma menção honrosa no âmbito da Rede de Escolas Contra a Corrupção, um projeto do Conselho de Prevenção da Corrupção, uma entidade administrativa independente que funciona junto do Tribunal de Contas.

Na sessão foram homenageados 28 professores dos agrupamentos de escolas Raul Proença, Rafael Bordalo Pinheiro e D. João II, e seis auxiliares, que se aposentaram este ano.