Caldas rompe a tradição e antecipa corso de terça-feira para sábado à noite

0
466
No corso das Caldas da Rainha são esperados 1.100 figurantes de 20 associações e grupos organizados do concelho (Foto de arquivo)

Este ano o Carnaval sai mais cedo à rua nas Caldas. Devido à não tolerância de ponto na terça-feira, o desfile do dia do Entrudo é antecipado para sábado à noite (18 de Fevereiro), a partir das 20h00, na Avenida 1º de Maio e Praça 25 de Abril.
No domingo o corso, composto por 20 associações e grupos organizados, num total de 1100 figurantes, volta a desfilar pela cidade a partir das 15h00.
A reunião para decidir a data dos desfiles decorreu na noite da passada terça-feira, tendo a maioria das associações decidido que era preferível realizá-lo na noite de sábado. “Na terça-feira, como não há tolerância de ponto, há o risco de não haver participantes, nem tanto público a assistir, uma vez que muitas pessoas terão que trabalhar”, explicou o vereador Hugo Oliveira à Gazeta das Caldas.
Os reis deste ano ainda não estavam definidos na terça-feira à noite.
O orçamento é este ano de 57 mil euros (menos 10 mil euros que no ano passado) e cada associação apenas desfilará com um carro alegórico.
Já na próxima sexta-feira (17 de Fevereiro) de manhã as crianças das escolas locais voltarão a desfilar pela Avenida 1º de Maio e Praça 25 de Abril. O ano passado a Câmara das Caldas não apoiou a realização do carnaval infantil, não assegurando o transporte das crianças para a cidade, justificando esta decisão com a contenção de custos da autarquia.


Caldas e Torres Vedras libertam funcionários para a folia

É Carnaval, mas afinal há quem leve a mal. Sobretudo quando o primeiro-ministro resolve não dar tolerância de ponto na terça-feira. A decisão foi tomada pela última vez há 19 anos, com Cavaco Silva a governar o país. E já na altura os portugueses deixaram bem claro que não tinham gostado da decisão, optando por pura e simplesmente boicotar a ordem para trabalhar.
É certo que a terça-feira gorda não tem sido um feriado oficial, mas a prática quase o tem legitimado. Por isso, muitas foram as terras que apostaram fortemente nos corsos, realizados habitualmente nas tardes de domingo e terça-feira, atraindo milhares de pessoas e dinamizando a economia local e o turismo. E o mesmo se passa na região.
Ainda que o corso das Caldas da Rainha não seja dos mais afamados ou concorridos, muitos são os que não perdem a oportunidade de assistir ao desfile de carros alegóricos pela Praça 25 de Abril e Avenida 1º de Maio. Com a mudança do corso de terça-feira para a noite de sábado, cai por terra a possibilidade do presidente da autarquia encerrar a Câmara Municipal da parte da tarde, o que chegou a ser ponderado. Ainda assim, o edil garantiu ao nosso jornal que dará tolerância de ponto “da parte da tarde e apenas aos funcionários que o requeiram”.
Quanto à decisão de Pedro Passos Coelho, Fernando Costa diz concordar com o fim da tolerância nos locais sem tradição carnavalesca, mas defende a interrupção nos trabalhos nos locais onde há corsos.
Na região, a maior festa de Carnaval decorre em Torres Vedras e o presidente da autarquia, Carlos Miguel, garantiu desde logo que não aceitava a decisão do governo. Em resposta à Gazeta das Caldas o autarca diz que “à intolerância respondemos com a tolerância de quem há muitas décadas produz o ‘Carnaval mais português de Portugal’. Por isso, iremos trabalhar muito na produção deste evento que é a imagem do nosso concelho para o país e para o mundo”, sem que haja qualquer alteração no calendário dos festejos.
Carlos Miguel garante que “a Câmara Municipal de Torres Vedras há muito que tinha decidido dar tolerância de ponto aos seus funcionários” e não vai ceder perante a decisão do governo.
Quanto ao impacto que esta terá localmente, o autarca diz que a nível económico “é natural que tenhamos menos visitantes, o que levará a uma quebra nas bilheteiras dos corsos e nas caixas registadoras de hotéis, restaurantes, pastelarias, retrosarias, tabacarias, lojas de roupa, sapatarias, papelarias, tipografias, maquilhadores, etc.”.
Nazaré mantém festejos, mas com autarquia a funcionar

A mesma ousadia não teve o presidente da Câmara da Nazaré, Jorge Barroso, que não concedeu tolerância de ponto aos funcionários municipais.
Neste município, milhares de pessoas acorrem à marginal para verem os carros alegóricos, grupos de foliões e ranchos de fantasia.
Apesar de a câmara municipal manter os serviços a funcionar num dia de festa, o executivo aprovou por unanimidade uma moção onde manifesta “profunda discordância com a medida anunciada pelo governo”.
Proposta pelo presidente da autarquia, a moção salienta as raízes culturais fortes desta festa em muitos concelhos portugueses, onde “contribui em muito para uma animação económica importante”.
Referindo-se à festa nazarena, vivida com muita intensidade, o documento refere que “o Carnaval é esperado com ansiedade pelas pequenas, micro, ou empresas familiares, para poderem realizar receitas acrescidas, a fim de poderem honrar compromissos assumidos, para os quais o Carnaval é uma data do calendário económico importante”. E este aspecto ganha uma importância acrescida numa comunidade dependente da sazonalidade e numa altura de grande dificuldade para as empresas, que assim se verão perante “o sufoco de ausência de um período de receitas acrescidas o que seguramente irá, aproximar mais o fecho destas empresas e o aumento do desemprego”.
O programa das festas nazarenas mantém-se inalterado, com o tradicional desfile na terça-feira.
A não tolerância de ponto na função pública vai fazer com que alguns espaços e serviços, habitualmente fechados nestes dias, estejam de portas abertas. Mas as escolas não vão receber crianças, os bancos vão estar fechados, e os tribunais, ainda que abertos, não têm qualquer julgamento agendado para o dia. Na prática, o almejado aumento da produtividade que o primeiro-ministro tanto deseja alcançar para este dia, será residual.