O escritor Henrique Fialho falou sobre a sua obra e os motores da criação literária

A formação de leitores críticos, a leitura e a produção escrita são alguns dos objectivos do Ler Óbidos, um projecto que irá desenvolver-se em três anos na Escola Josefa de Óbidos. Os alunos terão contacto com escritores e irão participar em actividades relacionadas com a literatura, o audiovisual, as redes socais e publicações em plataformas digitais

O escritor Henrique Fialho, natural de Rio Maior e residente nas Caldas da Rainha, foi o primeiro convidado de “Vivinhos da Silva”, uma das actividades que integra o projecto Ler Óbidos. Perante uma plateia atenta, o autor falou sobre a sua mais recente obra “Festa dos caçadores”, mas também sobre o que deu origem às histórias, onde procura inspiração e, sobretudo, da leitura, que depois leva à escrita.
“Nunca escrevi para publicar um livro, faço-o pelo apelo da escrita”, contou Henrique Fialho, lembrando que começou por publicar no seu blog e que anda sempre com canetas e caderno, onde faz os seus apontamentos. Licenciado em Filosofia e professor durante 10 anos, o orador partilhou os seus gostos por filmes de cowboys, as viagens e as obras de arte que aprecia e que são referências importantes na sua escrita.
Henrique Fialho voltará à Escola Josefa de Óbidos para fazer outra sessão, em que trará livros e discos de outros autores. Participará ainda na actividade “Problema da Habitação”, inspirada no poema de Ruy Belo, e que começará com este autor. Uma turma irá até S. João da Ribeira (Rio Maior), onde o poeta viveu durante bastante tempo, visitará a sua casa e Henrique Fialho falará sobre a vida e obra do autor. Os alunos, numa primeira fase, irão aos sítios onde os escritores trabalharam, ou passaram, e depois irão levar os alunos a locais onde estes se sintam inspirados para escrever.
Estas são apenas algumas das actividades do projecto Ler Óbidos, que começou a ser dinamizado este ano lectivo, dedicado sobretudo a alunos do terceiro ciclo e ensino secundário, e que envolve parceiros como a Câmara de Óbidos e a sociedade Vila Literária. O arranque foi dado em articulação com o Folio, nomeadamente a curadora do Folio Educa, Maria José Vitorino, com a realização de um laboratório de escrita direccionado para o terror e o fantástico, e outro sobre banda desenhada. Foi ainda desenvolvida uma palestra sobre as fake news (notícias falsas) no âmbito do mesmo festival.
As próximas actividades, a desenvolver durante a Semana da Leitura (9 a 13 de Março) serão # Tuba! – Execução de peças musicais em tempo real para acompanhamento de leituras, criação e gravação de composições musicais e # Tens é garganta!, com leituras encenadas.

Ter um aluno a ler

Existe um novo espaço de biblioteca, junto à entrada da escola, denominado “Oh não, outra biblioteca!”, que funciona também como zona de lazer, com livros, revistas, xadrez e televisão, e que é bastante utilizada pelos jovens. Foi ainda criada uma biblioteca verde, que funciona nos meses de Verão no espaço exterior da biblioteca, e que é um complemento, com plantas, onde os alunos poderão estar de forma informal. “A ideia do projecto é que os alunos leiam mais”, explica à Gazeta das Caldas Luís Germano, coordenador das bibliotecas escolares do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos. De acordo com este responsável o “Ler Óbidos” é apoiado pelo Plano Nacional de Leitura, com verbas para equipamento, formação e workshops, fundo documental e ainda algum montante destinado à aquisição de utensílios para os projectos que queiram desenvolver.
Luís Germano reconhece que este projecto não terá resultados imediatos, mas que é bastante rico, pois está “focado na leitura, em diversas actividades, e está ligado ao áudio, ao vídeo, redes socais, publicações em plataformas digitais”. Por exemplo, ao nível do equipamento, a aposta da escola passa pela criação de um mini estúdio, onde os alunos possam dinamizar actividades.
O projecto serve também para a aquisição de livros para a biblioteca e a possibilidade de fazer colecções temáticas. O professor bibliotecário recorda que há uns anos o desinteresse pela leitura acontecia sobretudo a partir do segundo ciclo e que, até aí, os alunos ainda eram leitores. “Hoje em dia já vai quase para o primeiro ciclo. Os alunos chegam ao terceiro, quarto ano e começam a mostrar grandes reticências ao livro, muito fruto das novas tecnologias”, diz, acrescentando que têm tentado combater esse desinteresse com a aquisição de publicações apelativas para os jovens, em termos de design grá fico e banda desenhada japonesa.
“O objectivo final é ter um aluno a ler”, diz Luís Germano, que pretende que a biblioteca seja um local agradável, com recursos diversos e indutor de coisas. O professor bibliotecário não esconde que gostava que os jovens lessem mais mas, sobretudo, que aprendam a pensar e que sejam informados.

biblioteca do futuro

O director do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos, José Santos, defende que as bibliotecas sejam um centro de recursos aberto a todos. Actualmente já existe um funcionário a tempo inteiro em cada biblioteca do agrupamento e o objectivo é que venham a ter também um professor.
No âmbito do programa Aluno ao Centro, que prevê a criação de salas de aula do futuro, José Santos pretende fazer uma “biblioteca do futuro”, com o mesmo equipamento, para se poder fazer um trabalho mais dinâmico e de encontro às necessidades dos alunos da escola, e permitir uma maior dinâmica entre alunos, biblioteca e professor.