“Encontro de emoções” reuniu primeiros alunos e professores do Externato da Benedita

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Foram mais de 30 os antigos alunos e professores dos primeiros anos da escola que se juntaram neste convívio, um número que se quer maior no próximo encontro

Quando em Outubro de 1964 arrancaram as primeiras aulas do Externato Cooperativo da Benedita, não havia instalações e as aulas eram dadas num pavilhão velho, onde chovia e fazia um frio de rachar. Não havia um professor para cada disciplina, nem material escolar para todos os alunos. Mas havia vontade, muita vontade, e a força de quem esqueceu todas as dificuldades por saber que, mesmo sem condições, aquela era a única possibilidade de continuar os estudos e ter uma vida diferente.
Foram estes os tempos recordados por cerca de 30 antigos alunos, membros das primeiras turmas da escola, que no passado sábado, dia 29 de Setembro, se juntaram naquele que, esperam, foi a primeira de várias reuniões. E além dos alunos, também marcaram presença no convívio alguns dos primeiros professores, a irmã Assunção Pestana, António Gameiro e Mário Vazão.

António Gameiro, Irmã Assunção Pestana e Mário Vazão foram os professores que marcaram presença neste primeiro convívio, recordando o empenho dos alunos em tempos cheios de dificuldades

Para Natália Serrazina, uma das antigas alunas que esteve por detrás da organização deste almoço, “o facto de ter acontecido o Externato Velho foi marcante, pois muitos de nós não teríamos possibilidade de ir para fora estudar”. Daí que acredite estarem lançadas as sementes de um encontro maior, a realizar no futuro. Afinal, este é um “recordar de emoções” de um momento que “mudou as nossas vidas”, garantiu.
Este encontro, 48 anos depois do arranque do Externato Cooperativo, foi motivado pela vinda a Portugal da irmã Assunção Pestana. A religiosa, que chegou à Benedita há 50 anos, trabalhou durante dez anos com as raparigas da terra, “a fazer enxovais para o casamento, bordados à mão ou à máquina”.
As alunas do Externato têm “um lugar especial no coração” da freira que há já 40 anos está em missão em Moçambique. E é por isso que sempre que volta a Portugal, há paragem marcada na Benedita, para rever antigas alunas com as quais nunca perdeu contacto.
É visivelmente emocionada que a irmã Assunção Pestana recorda os primeiros anos do Externato Cooperativo de Benedita. “Recordo muita amizade entre os alunos e com os alunos e muita vontade em aprender. Éramos amigos. Havia uma ligação e uma amizade muito grande que se mantém”, afiança.

MEMÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS

Irmã Assunção Pestana

Quem também se lembra bem das dificuldades deste primeiros anos é António Gameiro, que foi o primeiro director efectivo da escola, cargo que ocupou durante seis anos. “São memórias extraordinárias, de uma pessoa que vem com o entusiasmo todo para começar uma tarefa, encontra imensas dificuldades, mas ao mesmo tempo encontra um grupo de pessoas que aceitam, compreendem, estão dispostos a colaborar e que somos capazes de dar as mãos e ultrapassar tudo”, disse.
Dos protagonistas deste primeiros anos, António Gameiro salienta a coragem e a disponibilidade dos alunos e dos professores para aprender e ensinar, num ambiente muito aquém das condições ideais. “Sempre que chovia, havia uma inundação completa da sala de aula. Antes de começarem as aulas, eu e os alunos tínhamos que arranjar rodos para puxar a água para fora. Não tínhamos espaço para nada, era ali apenas a sala de aula”.
E quando finalmente as aulas se mudaram para o edifício novo, “sentimos uma satisfação enorme porque conseguimos ultrapassar uma etapa tremendamente difícil”. Uma opinião partilhada por Mário Vazão, o professor que veio de Alcobaça para a Benedita para dar Português e História, mas que acabou a leccionar Desenho Técnico. “Quando cheguei à Benedita nem sequer sabiam o que era o Externato”, recordou, salientando a evolução que a escola sofreu ao longo de quatro décadas.

Mário Vazão

Neste primeiro encontro, foi com aplausos e gargalhadas que se recordaram os tempos em que os professores tinham que dar as disciplinas para as quais não havia docente, e não aquela em que se tinham formado, em que caía fuligem das paredes da primeira sala de aula sempre que o vento soprava mais forte. Mas muitas histórias ficaram por contar. Memórias para recuperar num próximo encontro, estando mesmo a ser equacionada a criação de uma associação de antigos alunos do Externato da Benedita.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt