“Há muitos perigos na Internet e nós somos os nossos piores inimigos”, alerta especialista para a segurança na rede

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Gazeta das Caldas

netNo passado dia 10 de Fevereiro realizou-se no auditório da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro uma conferência que assinalou o Dia Internacional para uma Internet Mais Segura. A acção, destinada a alunos e professores, contou com a presença do especialista Fernando Oliveira e lotou o auditório.
Se pensa que está 100% seguro cada vez que abre o browser do seu computador, smartphone ou tablet, então o melhor é ler este artigo para saber se isso é verdade.
No passado mês de Janeiro estreou o filme Blackhat – Ameaça na Rede, a história de um hacker condenado que sai em liberdade condicional para ajudar as autoridades a perseguir outro hacker que ameça a segurança internacional. E este filme podia bem ter sido o ponto de partida para a sessão.
“O momento em que te ligas é quando perdes o controlo. O meu alvo pode ser qualquer pessoa, qualquer coisa, em qualquer lado, sem impressões digitais, sem vestígios, sem piedade”, é como se apresenta o vilão do filme. Que alerta também que a nossa identidade, as casas, os segredos, o dinheiro, a família, as nossas vidas, os medos, a privacidade, os bancos e a nossa segurança estão vulneráveis.
Trata-se de um filme de ficção, ou será apenas uma realidade aumentada?
Numa audição do senado norte-americano, Leon Panetta, antigo director da CIA, referiu que o próximo Pearl Harbour pode muito bem vir a ser um ataque cibernético. O recente ataque à Sony Pictures, que expôs informações confidenciais sobre atores, directores e funcionários da empresa, incluindo executivos, é um exemplo de que ninguém está a salvo, como fez questão de lembrar o próprio Fernando Oliveira, orador convidado pelo Grupo Disciplinar de Tecnologia e Informática (GDTI) da Escola Bordalo Pinheiro.
“Essas figuras do mal, os hackers, existem e só estão preocupadas em fazer o mal, é por isso que é importante falar de segurança na internet”, referiu o luso-brasileiro, consultor informático de empresas de renome, entre as quais a PT Comunicações, o Banco BIC ou o Banif. “Vale a pena falar deste tema e repetir porque muita gente cai em armadilhas do mundo virtual, mesmo tendo informação”, sublinhou.

O que fazer para melhorar a segurança

Segundo o especialista, existem vários passos a dar para melhorar a segurança dos terminais que usamos, sejam eles computadores, tablets ou smartphones. Passos que envolvem medidas como a instalação de software de segurança, mas também ao nível da adopção de comportamentos preventivos.
Fernando Oliveira fez um pequeno teste na sala, perguntando quem tinha programas antivirus, antivirus específico para drivers USB (ou pen), antispyware e de firewall instalados nos seus terminais. E ficou um tanto preocupado ao perceber que, apesar de toda a gente ter antivÍrus no computador, só uma pequena parte os tinha nos restantes aparelhos, e também pouca gente tinha instalados os outros três tipos de programa.
Estes são os primeiros passos a adoptar e são fundamentais. O orador sublinhou a importância de ter uma boa firewall (programa que gere as portas de entrada e saída na comunicação entre o computrador e a Internet, impedindo comunicações não autorizadas). E até aconselhou uma, a ZoneAlarm, que é gratuita e funciona nos dois sentidos, ao contrário da que vem instalada com o Windows, que só funciona num dos sentidos.
Os antivÍrus e antispyware devem ser actualizados regularmente e Fernando Oliveira aconselhou uma análise completa aos ficheiros pelo menos uma vez por semana. Análise que deve ser feita com a conexão à internet desligada, e em casos extremos até pode ser feita com o Windows no modo segurança, “porque alguns vÍrus têm capacidade para se disfarçar”, explicou.
O orador lembrou que hoje em dia nem é preciso gastar muito dinheiro com estes programas. “Existem programas gratuitos para uso doméstico que fazem o que é preciso”, alertou.

“Somos os nossos piores inimigos”

Se o primeiro passo é importante, de nada serve se adoptamos comportamentos de risco. Um perigo está presente em gestos cada vez mais rotineiros e simples, como a informação que publicamos no Facebook.
“Há muitos perigos na Internet e nós somos os nossos piores inimigos”, advertiu Fernando Oliveira. Somo-lo quando protegemos as nossas contas pessoais com palavras passe fracas, que envolvem informação que facilmente chegam aos hackers, como nomes de familiares ou de animais de estimação, datas de nascimento ou, pior, combinações como “password”, ou “12345”, que figuram nos anuários das mais usadas e menos seguras.
Mas também quando fazemos compras online sem saber se os sites são seguros, o que pode conduzir a roubo de informação de cartões de crédito. Ou quando visitamos sites perigosos, ou fazemos downloads de sites suspeitos, que depositam nos nossos computadores ficheiros cuja única finalidade é caçar senhas ou informações dos cartões de crédito que possamos ter guardados no sistema.
O mesmo acontece quando publicamos nas redes sociais fotografias da nossa família, ou informações pessoais que podem ser utilizadas contra nós. “Nunca publico o que faço ou onde vou pois é muito perigoso e uma pessoa que nos queira fazer mal adora isso”, contou. Utilizar as opções de privacidade desta rede social é um imperativo.
Ou quando abrimos inadvertidamente e-mails maliciosos. Neste capítulo, Fernando Oliveira lembrou que também existem problemas que podem analisar o conteúdo da nossa caixa de correio mesmo antes de nós a abrirmos, separando o que o que nos interessa daquilo que é correio publicitário ou correio malicioso.
Fernando Oliveira frisou ainda que os sites de jogos “são uma porta aberta para os nossos computadores e devem ser evitados”.

Smartphones e pirataria

Os smartphones, aparelhos que hoje em dia quase toda a gente tem, acarretam também alguns perigos escondidos. Fernando Oliveira alerta para o facto da sobre-utilização dos recursos destes aparelhos, como o Bluetooth ou o GPS.
O Bluetooth por ser uma porta aberta para o nosso aparelho, o que pode ser utilizado para passar ficheiros maliciosos, como vírus. O GPS porque permite que sejamos localizados por terceiros, quanto mais não seja porque quando publicamos alguma coisa nas redes sociais com esta funcionalidade ligada, a nossa localização é denunciada.
O orador disse que o ideal é utilizar estes recursos quando precisamos deles e desligá-los em seguida. Também se deve evitar actualizações automáticas de fotografias para o Facebook, ferramentas que existem em alguns sistemas operativos.
Fernando Oliveira falou também de pirataria, que deve ser evitada. Por um lado porque piratear é crime e lesa quem subsiste da produção desses conteúdos, sejam filmes ou software. E por outro lado, porque muitas vezes o conteúdo que se descarrega vem acompanhado de programas maliciosos.
Carla Jesus, professora membro do GDTI, fechou a sessão dizendo que estes perigos “existem são reais e podem acontecer a todos”.
O Dia Internacional para uma Internet Mais Segura é assinalado há 11 anos, mas apenas há quatro no nosso país. Anabela Camões, coordenadora do GDTI, notou que a soma dos dígitos da data (10/02/2015) dá 2, que é o número que representa a associação, e que este evento se celebra sempre ao segundo dia da segunda semana do segundo mês, pelo menos até 2020, o que é uma forte simbologia que a segurança na Internet é uma questão que só pode ser em conjunto.