“Os suíços são pessoas muito disciplinadas, educadas, honestas e cultas”

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Gazeta das Caldas
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Patrícia Varandas
Gaeiras (Óbidos)
30 anos
La Rippe – Suíça
Empregada de mesa
Percurso escolar: Escola Básica D. João II, Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Escola Secundária Raul Proença, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

O que mais gosta do país onde vive?
A Suíça é um país com uma beleza natural incrível. É fascinante apreciar as suas paisagens, a harmonia entre os lagos e as montanhas, os autênticos quadros vivos que podemos observar na Primavera e os mantos brancos característicos do Inverno.
Apesar de ser um dos países mais caros do mundo, os níveis de qualidade de vida são altos. Os salários elevados permitem fazer face às despesas quotidianas e ainda é possível economizar.
É um país que nos faz sentir seguros e que permite ter bastante estabilidade nos mais diversos domínios.
Para além destes fatores, admiro o estilo de vida e as características gerais da população. Os suíços são pessoas muito disciplinadas, educadas, honestas e cultas. Dedicam-se afincadamente ao trabalho, mas também ao lazer. São desportistas fervorosos, sendo comum encontrar pessoas a praticar desporto ao ar livre seja qual for a estação do ano. São amantes da corrida, do ciclismo, da natação, da equitação, do ténis, do golfe e veneram o ski.
A sua paixão pela natureza incute-lhes um sentido de grande responsabilidade pela sua preservação. É muito raro ver alguém a deitar lixo para o chão.
Também o papel e a importância da família têm um lugar nuclear nas suas vidas. Encontram-se muito frequentemente famílias a ocupar o seu tempo com a realização de atividades no exterior.
De destacar ainda o cuidado e a forma como os animais são tratados, sobretudo os cães e os gatos, como se se tratassem de verdadeiros bebés. Entram nos estabelecimentos sem restrições, são passeados várias vezes ao dia e é normal contratar pessoas para cuidar deles nas férias quando os donos partem para férias ou então deixa-los em hotéis para o efeito.

O que menos aprecia?
Se os níveis de qualidade de vida são elevados, os seus custos também são muito altos. As rendas, os impostos, os serviços e os seguros são extremamente caros.
Não existe um salário mínimo estipulado, sendo que os mais baixos rondam os 3500 euros brutos, mas os descontos realizados são enormes.  Há que ter em conta que as rendas são elevadíssimas (o alugar de um apartamento ultrapassa largamente os 1000 euros), que cada pessoa é obrigada a ter um seguro de saúde que varia entre os 200e os 300 euros mensais, e há ainda as despesas com a alimentação, a higiene, as telecomunicações que são também elas exurbitantes.
Os preços são muito mais elevados e é quase imperativo ter uma vida simples e de gastos moderados para se conseguir ter estabilidade financeira. Hábitos que são tão vulgares em Portugal como ir beber um café, lanchar na pastelaria, ir beber um copo no final do dia ou frequentar discotecas aos fins-de-semana são alterados facilmente aqui.  O preço mínimo de um café é de 3,40 euros, uma bebida num bar, fora a cerveja, rondará os 15 euros e a entrada numa discoteca sem consumo mínimo incluído é quase sempre cerca de 20 euros.
Algo que me aborrece verdadeiramente na Suíça é o facto de praticamente tudo estar encerrado ao Domingo e, mesmo durante a semana os estabelecimentos fecham às 19h00, mesmo as grandes superfícies.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Sou uma pessoa muito saudosa do meu país. A distância faz com que valorize ainda mais tudo o que é “nosso”. É em Portugal que tenho tudo aquilo que faz parte de mim, da minha identidade, do meu crescimento… e tudo isso provoca um vazio muito grande estando longe.
A saudade da família e dos amigos é muitas vezes difícil de suportar, a falta dos locais, da nossa cultura, das tradições e até das pequenas rotinas. Para além disso, sinto imensa falta do mar, de poder ir à praia frequentemente, e também da comida, dos convívios e das festas, da energia que o povo português tem!

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Eu espero regressar brevemente a Portugal. Apesar de todos os aspetos positivos que a Suíça tem e das diferenças de nível de vida, é em Portugal que tenho tudo aquilo que me faz verdadeiramente feliz e onde me sinto completa. Não há dinheiro que consiga pagar isso, não há bens materiais ou viagens que consigam suprimir a dor de estar longe e perder todos os momentos especiais, de não acompanhar o crescimento dos pequeninos da família,  de não poder apoiar de perto a família e mesmo o medo de que a vida me pregue alguma rasteira…
O facto de neste momento ser emigrante permite-me olhar para Portugal com outros olhos. As pessoas quando deixam o seu local de conforto tornam-se mais lutadoras, mais corajosas e arriscam mais… Em Portugal as pessoas acomodam-se demasiado. Queixam-se constantemente, mas não fazem esforços consideráveis para mudar algo de forma substancial. Assim é difícil acreditar em mudanças, em melhorias. O nosso país tem muitas potencialidades e nós precisamos de ser os primeiros a valorizá-las, a ajudar ao seu desenvolvimento e evolução. É preciso encarar Portugal como alguém que o visita pela primeira vez e que fica encantado com o que encontra. Todas as semanas oiço comentários fascinantes de clientes que adoram o nosso país pela maneira de ser calorosa do seu povo, pelo clima, a cultura, as praias, as cidades fantásticas, a comida maravilhosa e a oferta que tem. E isso dá-me ainda mais orgulho em ser portuguesa e mais vontade de voltar e de conquistar novamente o meu lugar aí.
“Aproveito sempre que posso para ir aos supermercados em França devido à diferença de preços”
Quando vim para a Suíça em 2012 a minha expectativa era de ficar apenas durante um ano. A minha patroa é natural das Caldas da Rainha e procurava alguém para se ocupar do seu filho e ensiná-lo a falar português.
Considero-me uma excepção no meio de tantas pessoas que procuram a sua sorte neste país, pois quando vim em definitivo para cá, após um fim-de-semana de visita para conhecer a família que me iria acolher, já tinha contrato assinado e este  incluía alojamento e alimentação. Passados quatro meses, a minha patroa convidou-me para trabalhar com ela no seu restaurante e desde então sou empregada de mesa. O serviço realizado aqui é muito diferente daqueles que alguma vez realizei em Portugal, pois para além da sala “Bistro”, temos também a sala de restaurante com uma vertente mais gastronómica.
Atualmente moro num estúdio situado ao lado do restaurante, pelo que não utilizo qualquer meio de transporte para me deslocar para o trabalho. Quando necessito de ir às cidades mais próximas, utilizo os transportes públicos, que funcionam sempre com muita pontualidade.
O meu dia-a-dia é dividido entre casa e trabalho e nas folgas costumo realizar alguns trabalhos extras e aproveito para passear um pouco ou fazer algumas compras.
Como a maior parte das pessoas que vivem ao lado da fronteira, aproveito sempre que posso para ir aos supermercados em França devido à diferença de preços.
Apesar de gostar muito de sair à noite para dançar e conviver, não é algo que aprecie muito aqui. Não só pelos preços praticados, como pelo ambiente da maior parte das discotecas e por fecharem cedo.
O clima na Suíça é muito seco, os invernos são rigorosos e bastante longos, mas felizmente desde que cá estou a temperatura mais baixa que assisti foram -13º. No verão o calor também se faz sentir com muita intensidade e é muito agradável ir até ao lago.
Pela grande diversidade cultural da Suíça é muito difícil caracterizar as pessoas. Já convivi com gente de várias partes do mundo e geralmente são afáveis e generosas. Já os suíços puros são pessoas mais frias e discretas, apesar de muito educadas e cordiais. Apreciam quando somos atenciosos com eles, prestando muita atenção ao sorriso que lhes dirigimos. São muito curiosos quanto às nossas origens e gostam quando lhes dispensamos algum tempo para contar como foram as férias e os hábitos que temos.
Quem quiser integrar-se bem neste país precisa de trabalhar bem, ser discreto e respeitar a sua cultura e padrões de vida.

Patrícia Varandas