Inaugurados novos complexos escolares abertos à comunidade

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Os complexos escolares do Furadouro e Alvito foram inaugurados no passado sábado, 11 de Setembro, com pompa e circunstância. Anunciados pelo presidente da Câmara de  Óbidos como o maior investimento municipal alguma vez feito (mais de oito milhões de euros), estes constituem, de acordo com o autarca, “uma aposta que vai mudar o acesso ao conhecimento e à educação de toda a comunidade”.

Centenas de pessoas fizeram questão de marcar presença na festa, que durou todo o dia, e que incluiu, além dos tradicionais discursos, exposições, apresentações de programas informáticos, actuações de grupos musicais e … porco no espeto.
Mudanças estas e reacções populares positivas que contrastam com situações idênticas noutros concelhos do país. Será talvez o resultado de uma aposta estratégica que foi assumida pelo próprio município, que se assume “linha da frente da educação em Portugal”.
Com a abertura dos complexos escolares do Furadouro e do Alvito – que se vieram juntar ao dos Arcos – Óbidos deixou de ter as antigas escolas do primeiro ciclo (vulgo escolas primárias) a funcionar nas várias aldeias do concelho. Os dois equipamentos, situados na Amoreira e nas Gaeiras, vão acolher, respectivamente, 213 e 208 crianças do primeiro e segundo ciclos, provenientes das povoações vizinhas.
A inauguração decorreu no sábado e foi bastante participada pela população. Mas antes foi tempo de discursos, com intervenções de todos os presidentes de Junta de Freguesia abrangidas pelos complexos, do director do agrupamento de escolas e dos presidentes da Assembleia e Câmara, que foram unânimes em destacar as mais valias dos novos edifícios e a estratégia optada pela autarquia em termos de educação.
O presidente da Câmara, Telmo Faria, disse mesmo que Óbidos está na “linha da frente da educação em Portugal” pois foi um dos poucos concelhos do país que já encerrou o reordenamento do primeiro e segundo ciclos do ensino básico.
A aposta foi feita em complexos e não centros escolares que, explicou, têm capacidade para qualquer nível de ensino e permitem outras valências, tornando-se verdadeiros centros comunitários.
“Estamos a pensar em equipamentos que se transformem em centros cívicos, com actividades culturais, festas de anos e a possibilidade de haver consultas de dentista”, exemplificou Telmo Faria, destacando que a aposta realizada coloca Óbidos “num patamar altíssimo ao nível de politica educativa”.
O responsável defendeu que não querem apenas combater o insucesso escolar, mas atrair pessoas inteligentes e criativas e dar aos jovens oportunidades para também estarem preparados num mundo em rápida aceleração. E justificou a opção de juntar os primeiro e segundo ciclos e não o pré-escolar e o primeiro ciclo (como acontece nos centros escolares) com a possibilidade de permitir às crianças iniciar a aprendizagem escolar sem as obrigar a um esforço físico violento, mas através de uma adaptação mais suave.
Cada complexo, com 16 salas de aula e temáticas (como laboratórios ou salas de música), disponibiliza aos alunos o acesso a novas tecnologias como quadros interactivos, internet sem fios e computadores fixos e portáteis que podem ser utilizados em vários espaços da escola.
Foram criados pátios por idades, privilegiando-se alguma separação no mesmo recreio de crianças de seis e 12 anos.
Mas, de acordo com Telmo Faria, “construir os edifícios escolares é apenas uma primeira etapa”, prometendo que nos próximos anos continuarão a trabalhar no desenvolvimento de uma educação criativa, desenvolvendo projectos que estimulem o exercício da criatividade, como é o caso do atelier criativo para o qual os pais foram convidados a enviar materiais recicláveis, que serão utilizados pelas crianças.
“Queremos treino criativo e reciclagem ambiental numa escola que valoriza a sustentabilidade ambiental como paradigma”, disse o autarca, acrescentando que também querem estimular mais empreendedorismo e aproximar as empresas da escola.
O próximo passo da autarquia será construir um modelo educativo, mas para isso precisa que o Ministério da Educação aceite as suas propostas de inovação curricular. Já foi elaborado um projecto que será apresentado ainda durante este mês à administração central e será lançado um desafio às famílias para criar uma turma com crianças só com cinco anos onde será aplicada a metodologia municipal.
O método de ensino de Óbidos alicerça-se em várias práticas e correntes teóricas, como é o caso do atelier criativo, que segue uma metodologia muito semelhante à de Regimille (Itália).
Cada um dos complexos tem um custo superior a quatro milhões de euros, tendo a autarquia contado com uma comparticipação financeira de 5,2 milhões de euros.

Sistema biométrico controla acessos e assiduidade dos alunos

Os novos complexos escolares vão ter a funcionar um sistema de registo de entrada e saída biométrico. Os alunos, funcionários e encarregados de educação, passam a estar registados no sistema e, através da impressão digital, poderão entrar – e sair – do estabelecimento.
“Se não estiver registado coloca o dedo e nada acontece, terá que se dirigir à funcionária e esta acciona o botão para a pessoa poder entrar, depois de devidamente identificada”, explicou Susana Nobre, coordenadora da modernização administrativa da Câmara de Óbidos. Na sua opinião, a grande vantagem será permitir um controle eficaz sobre quem entra na escola.
O sistema estará a funcionar na entrada do edifício, na zona de bar e refeitório, secretaria e reprografia, onde os alunos podem ter acesso ao material escolar. Por exemplo, um aluno que quer adquirir uma sandes dirige-se à funcionária do bar, coloca o dedo no aparelho e é aberta a ficha do aluno onde regista o pedido e é-lhe descontada a despesa no cartão. “As crianças não mexem em dinheiro, funciona como um cartão de débito”, afirma Susana Nobre, explicando que os encarregados de educação normalmente carregam o cartão ao início de cada mês com um plaffon que a criança vai gastando nas refeições e outras necessidades para esse mês.
Este equipamento está integrado com o novo sistema de gestão escolar que o município comprou à Universidade de Aveiro. Este software permite aos serviços do município aceder a dados dos complexos, nomeadamente de contabilidade e gestão financeira, sem ser necessário pedir aos funcionários dos respectivos locais.
A Câmara de Óbidos comprou ainda à Universidade de Aveiro as actividades extra-curriculares, conteúdos pedagógicos e formação para todos os professores para que possam trabalhar com quadros interactivos, quer com conteúdos quer a elaborar conteúdos.
A aquisição da parte informática e biométrica custou à autarquia 200 mil euros por complexo.

José Machado contra trabalhos a mais nas empreitadas

“Eu apoio a nova escola e os novos tempos”, refere o vereador socialista José Machado, destacando as condições que estes espaços possuem e o alargamento do conceito à comunidade.
O autarca lembra que se houve uma política municipal que uniu as principais forças políticas do concelho foi o esforço e a prioridade à educação e que a oposição, na Câmara e Assembleia, votou sempre favoravelmente as propostas apresentadas, como foi o caso da carta educativa de Óbidos.
Respondendo à crítica de Telmo Faria, que durante a inauguração disse que este vereador levantou dificuldades à construção dos complexos, explica que os socialistas quiseram contribuir “mais e melhor” para este processo. “Quisemos evitar que os trabalhos a mais das obras dos complexos escolares sejam mais de um milhão de euros, despesas evitáveis, dinheiro que poderia ter sido aproveitado noutros projectos ou que reduziria a dívida municipal”, referiu.
José Machado acrescenta ainda que quiseram que os empréstimos bancários para pagar as contas em dívida começassem a ser amortizados no actual mandato, apostando numa gestão “mais cuidada dos dinheiros públicos que permitia fazer a poupança em juros”.
O vereador socialista sublinha que não queria que os complexos tivessem mais de um ano de atraso na sua conclusão, “evitando-se sucessivas prorrogações, justificadas pelo empreiteiro devido às alterações de projectos que a Câmara lhe foi entregando depois de ultrapassado o prazo contratual para as obras estarem concluídas”.