JORGE ALMEIDA – “a Thomaz dos Santos sempre foi uma casa que pagava a tempo e horas”

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2016-02-05 16.35.3279 anos , casado, uma filha

Comecei a trabalhar no Thomaz dos Santos aos 27 anos, no dia 1 de Agosto de 1960. Aqui no Largo Heróis de Naulila. Foram quase 40 anos. Nessa altura os escritórios eram aqui no rés-de-chão, mas depois passaram para o primeiro andar e foi lá que trabalhei quase toda a vida. A quantidade de vezes que eu subi estas escadas. Uma vida.
Era ali o meu posto de trabalho. Isto agora está um bocadinho diferente, mas era neste sítio. A fotografia apanha o retrato do senhor Thomaz dos Santos lá em cima? Ainda bem. Olá Luís Filipe, olá Manuela, olá João. Agora vamos ali cumprimentar o senhor Baptista.
Tenho boas recordações desta casa, mas a sensação de voltar a sentar-me neste sítio não sei se me traz saudades ou se me dá uma certa pena. Porque antigamente éramos tantos e agora há aqui tão pouca gente. Já estou habituado a esta vida de reformado. Aliás, no meu primeiro dia de reforma a primeira coisa que fiz foi bem dormir até mais tarde e tirar o relógio de pulso.
Mas não ando sem fazer nada. Gosto muito de ajudar as pessoas e até quando trabalhava andei metido em muitas associações. Fui tesoureiro do Caldas Sport Clube, pertenci à direcção e ao conselho fiscal do Montepio Rainha D. Leonor, fui presidente da Banda Comércio e Indústria, fui presidente dos Pimpões, fui do conselho fiscal do Centro Paroquial e do conselho económico da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. E até cheguei a fazer parte da organização das feiras da Fruta e da Cerâmica. Ah, e também faço parte do Foz Plage – durante anos a fio não falhava o primeiro banho de mar no dia 1 de Janeiro. Ultimamente cheguei também a ser voluntário no Banco Alimentar.
Toda a vida fui contabilista, tirando umas pequenas experiências de trabalho antes de entrar no Thomaz dos Santos. Eu andei na escola primária ali junto à polícia de trânsito e fiz o antigo 7º ano (equivalente ao 12º ano) na Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha, no edifício onde é hoje a administração do Centro Hospitalar. Trabalhei uns tempos no José Abrantes, que tinha uma oficina de automóveis e depois no armazém de tecidos do Duarte Xavier. Mas depois entrei, então, no Thomaz dos Santos, em Agosto de 1960 e só de lá saí em Dezembro de 1999. Trinta e nove anos e quatro meses!
O meu primeiro trabalho foi a pôr ordem nas facturas e depois passei para a secção de Contabilidade. Eu estava bem preparado pelo curso da Escola Industrial e Comercial. Na altura tínhamos umas máquinas mecanográficas, da National, que faziam um ruído enorme. Tínhamos que introduzir a ficha do cliente, pôr o saldo anterior e registar os movimentos no deve e no haver. A firma tinha-as comprado em segunda mão e para a época aquilo já era uma tecnologia avançada.
E havia as máquinas de escrever. Um dia o senhor Thomaz dos Santos pediu-me para eu escrever umas cartas e eu respondi-lhe “mas eu só sei o HCESAR e não sei AZERT” e ele respondeu-me: “quem não sabe AZERT não me serve”.
Mas servi. Os mais novos não percebem isto. O HCESAR e o AZERT eram os diferentes teclados das máquinas de escrever. Havia máquinas dos dois tipos porque, como contou aqui o senhor Baptista, houve alguém que se lembrou de fazer um teclado nacional – o HCESAR – quando já havia o AZERT que era o internacional.
Depois é que vieram, mais tarde, os computadores. Trabalhei sempre com o mesmo até me reformar.

Hoje já não se usa trabalhar 40 anos na mesma casa

Hoje em dia já não se usa uma pessoa trabalhar 40 anos na mesma casa. Mas eu sim. O que não quer dizer que não tivesse tido convites. Fui convidado para ir trabalhar para o BPA, para a Matel (a fábrica das cassettes) e para o Faustino Gomes. Recusei sempre. Quando foi para o Português do Atlântico ainda cheguei a falar com o senhor Baptista, mas ele nesse ano aumentou-me o ordenado três vezes. E depois não era só isso – é que o Thomaz dos Santos sempre foi uma casa que pagava a tempo e horas, sem falhar.
Há coisas que eu não esqueço. Uma delas foi que construi a minha vivenda com materiais da empresa, a preço de custo e pagos a prestações de acordo com as minhas possibilidades.
Acho que posso dizer que ter trabalho aqui fez de mim um homem. A mim e a muitas centenas que trabalharam neste firma. Saíram de cá mais homens, mais rijos, mais conhecedores.
Quando me reformei, no dia 18 de Dezembro de 1999 foi ao mesmo tempo com pena e com alívio. Um alívio porque já tinha 62 anos e sentia-me cansado.
É claro, já não era novo. Dantes cheguei a jogar ping-pong, hóquei e vólei. E fiz pentatlo militar.
As fotos ficaram boas? Olá, esta é a Isabel. Veio para cá trabalhar pouco antes de eu me reformar. Um dia houve aí um problema técnico de contabilidade e ainda eu estava a começar a pensar nele e já ela o tinha resolvido. Foi então que eu pensei: “está na hora de te ires embora”.
Adeus. Boa tarde. Aqui era a telefonista. Chegaram a trabalhar 40 pessoas aqui nos escritório. Agora são meia dúzia. As vezes que eu subi e desci estas escadas.

JorgeAlmeida