Gazeta das Caldas publica neste suplemento as conclusões do Estudo Condutor Português, de Janeiro de 2018, do Observatório Automóvel Club de Portugal.
“Quem são os condutores portugueses? Que tipo de veículo utilizam nas suas deslocações? Quantos quilómetros percorrem anualmente? Que percepção têm dos transportes públicos e porque não os utilizam com maior frequência? O que pensam da segurança rodoviária e do estado das estradas? Que medidas defendem?
Estas são algumas das questões abordadas neste estudo do Observatório ACP e que traça um completo per l dos condutores portugueses, revelando padrões de mobilidade, estado do parque automóvel e o comportamento nas estradas portuguesas.
Para traçar este perfil, foram analisados os padrões de mobilidade, o parque automóvel, o comportamento dos condutores e as medidas que defendem.
Os portugueses estão cada vez mais adeptos do carro e a taxa de motorização está a aumentar – 459 automóveis por cada mil habitantes -, com prejuízo para os transportes públicos, que perdem utentes.
Três em cada quatro condutores, conduzem diariamente, sendo, também, a quase totalidade, condutores de veículos ligeiros. 47% dos condutores faz entre 50 a 200 km por semana.
Uma das razões para a predominância do automóvel, que leva 78% dos inquiridos a optar por ele nas suas deslocações casa-trabalho, prende-se com a sua flexibilidade, sobretudo quando há percursos intermédios, como levar crianças à escola ou jardim-de-infância.
O segundo modo de transporte mais frequente são os transportes públicos, com cerca de 10%, seguido da deslocação a pé, com 7% das preferências. Já para 3,5% a moto é o meio de eleição e apenas 0,2% escolhe deslocar-se de bicicleta. A valorização dada ao conforto e à privacidade suplantam o estatuto social e o estilo de vida associados à posse do automóvel.
As mesmas razões caraterizam as escolhas dos inquiridos quando se trata do percurso casa-local de estudo, embora a opção pelo carro surja em percentagem menor: 45% dos estudantes deslocam-se de automóvel e 30% de transportes públicos, enquanto 3,8% optam pela moto e 1,9 pela bicicleta. Ou seja, a maioria opta pelo automóvel para os percursos casa-trabalho e casa-escola.
A principal preocupação dos agregados familiares com automóvel tem a ver com a falta de estacionamento junto ao local de residência: 31% não tem estacionamento próprio e estaciona na via pública.
No que toca à percepção sobre os transportes públicos, uma das preocupações menos relevantes para os inquiridos é o preço. A eficiência do transporte, medida por fatores como pontualidade, flexibilidade, frequência, tempo de viagem, entre outros, pesa muito mais na avaliação final. Com efeito, a frequência e a qualidade das ligações oferecidas (onde a existência de transbordo obrigatório é um fator negativo determinante) são sistematicamente os aspetos que são percebidos como os menos satisfatórios da oferta, com uma pontuação média a variar entre 2,8 a 2,9 numa escala de 1 (mais negativo) a 5 (mais positivo). Só no caso dos estudantes é que essa percepção é ligeiramente superior, com uma pontuação de 3,4. É, no entanto, interessante verificar que a proximidade das paragens ou estações ao local de residência, de trabalho ou de estudo é considerada mais positivamente (com valores médios a variar entre os 3,5 a 4,2), enquanto que a quantidade de serviços de TC, medida pelo número de carreiras distintas que passam perto desses locais, também é pontuada de melhor forma (valores médios entre 3.0 e 3,8). Tal significa que a menor atratividade do TC não tem tanto a ver com a sua cobertura espacial, mas sim com a qualidade do serviço oferecido, onde a menor frequência e os transbordos são apontados como os aspetos mais negativos.
PARQUE AUTOMÓVEL
O aspeto mais saliente é o facto de 90% dos inquiridos possuir pelo menos um veículo no seu agregado familiar e mais de 65% dos agregados familiares têm dois ou mais veículos. Uma média de 1,89 viaturas por agregado e uma taxa de motorização de 459 veículos por cada mil habitantes.
Surpreendente é ainda o facto de o número de agregados familiares com quatro ou mais veículos já totalizar 11%, enquanto que os que possuem três veículos são 17%.
As motos integram o parque motorizado de 8% dos agregados familiares.
Cada carro em Portugal tem em média 9,3 anos e mais de 40% do parque tem mais de 10 anos.
Os automóveis ligeiros representam 70% do parque automóvel, os monovolumes e SUV registam 14%.
A maioria dos automóveis ligeiros são movidos a gasóleo (58%), os híbridos e elétricos 2%.
No momento presente a vida útil do automóvel é prolongada o mais possível, o que é confirmado não só pelo elevado número médio de quilómetros acumulados por veículo (cerca de 111 mil km) e pelo facto de os automóveis com dez e mais anos ultrapassarem os 150 mil km, como também pelo número de revisões que são realizadas num ano: 67% fizeram uma revisão e 15% duas, sendo que os veículos com mais de 20 mil km realizados no ano fazem, em média, pelos menos 1,5 revisões.
COMPORTAMENTO AO VOLANTE
A maioria dos condutores (57%) já foi mandada parar pelas brigadas de trânsito. A grande maioria dos inquiridos refere que não esteve envolvida, nem teve familiares ou amigos, envolvidos em acidentes rodoviários graves.
24% dos condutores afirma que a condução dos portugueses está melhor do que há dois anos, sobretudo devido ao maior rigor das leis e das autoridades. Mas 68% considera que está pior ou igual.
O uso do telemóvel durante a condução revelou-se preocupante, enquanto fator de distração. 47% dos inquiridos admite falar ao telemóvel enquanto conduz, seja através do sistema mãos livres ou pegando mesmo no aparelho. Três em cada quatro condutores consideram mais seguro usar o sistema de mãos livres para falar ao telemóvel enquanto conduzem; 70% refere que o veículo que conduz não possui o sistema de controlo de voz.
19% dos inquiridos já adormeceu ao volante, mesmo que momentaneamente. No que toca à formação para circular na via pública, 50% considera que os ciclistas estão mal preparados.
MEDIDAS DEFENDIDAS
Quando questionados sobre o funcionamento de alguns serviços rodoviários, a maioria dos condutores atribui avaliação positiva às escolas de condução e centros de inspeção periódica, porém o estado de conservação e sinalização das estradas regista avaliação negativa.
A grande maioria concorda com a atual forma de avaliação/aprovação de novos condutores, tanto relativamente aos exames de código (55%) como aos exames de condução (52%).
O tema telemóvel é dos que menor concordância tem entre os inquiridos quando se fala em legislar no sentido de proibir a sua utilização. Nas restantes matérias, como instalar radares junto a escolas, equipar os carros com tecnologia que impeça a condução com álcool, a concordância ultrapassa os 90%.
35% dos condutores afirma ter pouca informação sobre a carta por pontos, mas a maioria (54%) diz que esta medida irá melhorar o comportamento dos condutores.
Relativamente às alterações feitas à forma como se conduz nas rotundas, os condutores mostram-se mais informados e 76% concorda com a mesma.
Verifica-se um desconhecimento geral sobre as alterações à renovação da carta de condução, sendo o encurtamento dos períodos de renovação a principal alteração recordada pela maioria dos condutores (9% do total da amostra dos condutores).
Medidas para melhorar a segurança dos ciclistas geram consenso junto dos condutores, sendo o uso de capacete para circular dentro das localidades e estradas nacionais a que reúne maior consenso: 89%”.