Um regresso ao início do século XX na Feira de São Bernardo

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Gazeta das Caldas
Na exposição era possível ver um carro de gelados com mais de cinquenta anos

Este ano a Feira de São Bernardo contemplava uma exposição que fazia uma viagem à Alcobaça do início do século passado, com um espaço para cada uma das freguesias. Ali havia ferramentas, veículos, trajes e outros objectos antigos. No exterior, no último dia, o concerto de Carminho registou uma enchente.

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A feira de São Bernardo tem a zona de feira propriamente dita, mas também muitas diversões e tasquinhas em volta

O calçado da Benedita, uma caixa métrica da escola de Pataias, o abuínho da Cela, o junco de Coz, os sobreiros de Alpedriz e um moinho de água da Chiqueda eram algumas das referências que mostravam como era a vida no concelho de Alcobaça no início do século do passado, na exposição Memória e Património.
No pavilhão que na última edição da Feira de São Bernardo havia recebido uma mostra de cerâmica, estava ainda um barco dos pescadores de São Martinho do Porto, os instrumentos musicais da Sociedade Filarmónica Maiorguense e as máquinas agrícolas de Montes.
Ora passamos por uma bomba de gasolina antiga, ora nos deparamos com um carro de gelados de 1953, que é afinal uma motorizada adaptada, com o carro de gelados na frente. “Ainda me recordo que depois escolhíamos: morango ou chocolate, que era o que havia”, ouve-se um pai a contar ao filho.
Paramos, entretanto, perto de uma carroça antiga, vinda de Turquel, onde conversamos com Francisco Tinta, um jovem de 83 anos que vem precisamente desse local e que há 70 anos não vinha à Feira de São Bernardo. “Por várias circunstâncias não me tem sido possível vir, este ano pude vir e vim, dentro do espírito de recordar”, contou à Gazeta das Caldas. “Fiquei muito surpreendido, a feira mudou muito para melhor”, analisou.
O facto de ser a fadista Carminho a encerrar a feira foi um dos principais motivos para Francisco vir. “Aprecio muito o trabalho dela, mas as minhas pernas não aguentam tanto tempo em pé, devia haver lugares sentados”, fez notar.
Já António Alexandre, da Cela Nova, considera que “a exposição está boa, mas a feira tem vindo a perder qualidade nos últimos 15 anos”.
Ainda na exposição, acompanhado pela esposa, pela sogra e pelo filho, Afonso Alexandre, aproveitamos para perguntar ao mais pequeno do que gostou mais. “A mó a moer o milho, que nunca tinha visto”, responde sem hesitações e com a pressa normal de quem quer ir dar uma volta no carrossel.

Saímos do pavilhão e, na feira das actividades económicas, entre vinho, artesanato, carros, electrodomésticos, roupa e calçado, encontramos uma banca chamada Adega Artesanal, que nos salta à vista porque tem uma caixa de madeira com a forma do Mosteiro da Batalha que serve para colocar uma box de vinho.
“É tudo feito à mão! O meu marido faz e eu pinto”, exclama Filomena Monteiro, de Porto de Mós. Tudo começou quando o marido, António Monteiro, fez uma caixa simples com desperdícios de madeira para a sua box de vinho. “As pessoas viam e diziam que gostavam e que ele devia fazer para vender, que compravam”, conta a esposa, acrescentando que também teve a sua quota parte de pressão nesta história, sugerindo que fossem vender para a Feira anual de Porto de Mós.
“Ao início ele disse que eu era doida”, conta Filomena, mas a verdade é que acabaram mesmo por vir a vender naquela feira em 2013. Inicialmente começaram a vender os modelos mais simples, mas depois veio a vontade de fazer melhor e surgiu a ideia de fazer o castelo de Porto de Mós. De seguida foi o Mosteiro da Batalha… Entretanto, no portfolio estão também outras capelas e igrejas, fontes e até modelos que imitam os antigos tonéis de vinho.
“Nesta feira surgiu uma encomenda para fazer o Mosteiro de Alcobaça, que vai ser um desafio interessante”, contou Filomena, acrescentando que está “muita gente a ver, pouca a comprar, mas ainda assim, olhe que há piores!”.
As caixas são feitas em madeira, num trabalho “muito complicado e demorado”. Os preços começam nos 25 euros para os modelos mais simples e vão, por exemplo, até aos 320 euros (Castelo de Porto de Mós) ou 400 euros (Mosteiro da Batalha).
Saímos, passamos pelos animais expostos, com burros, cavalos, vacas, ovelhas e porcos, e chegamos ao recinto do Alcobaça Equestre, onde a Prova da Vaca encerra a XIX edição.
Seguimos, pela concorrida zona dos carrosséis e jogos de sorte ou perícia, pelas bancas de guloseimas, com farturas, churros, algodão doce, pipocas e gelados, e damos uma volta pela feira, com brinquedos, roupa e utilidades.
Já no fim do muito aplaudido concerto da Carminho, ali junto à zona da restauração que foi ampliada com mais 500 lugares, ouvimos o alcobacense, Carlos Oliveira, que todos os anos vem à Feira, dizer que “este ano está com mais animação e mais público”.