Ceramistas caldenses criam peças para edição de prestígio

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Gazeta das Caldas
O comissário da Molda, João Serra (à esquerda) fez uma visita guiada ao secretário de Estado da Agricultura, Luís Medeiros Vieira, durante a inauguração da Frutos

A exposição Tiragem, organizada pela Molda, que esteve patente no Céu de Vidro durante a Frutos 2018, contou com a participação de 10 ceramistas caldenses, que criaram edições em cerâmica contemporânea para a cidade das Caldas da Rainha. Estas propostas foram apreciadas por um júri na passada segunda-feira, que escolheu cinco projectos, que serão editados pela Câmara das Caldas para ofertas de prestígio.

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Os ceramistas caldenses criam as peças propositadamente para o concurso

Ana Sobral, Bolota, Carlos Enxuto, Elsa rebelo, Francisco Correia, Mariana Sampaio, Mário Reis, Umbelina Barros, Vítor Agostinho e Vítor Reis, todos ceramistas com atelier nas Caldas há mais de cinco anos, participaram no concurso organizado pela Molda, com o objectivo de escolher cinco projectos que a autarquia editará para ofertas de prestígio.
Os trabalhos estiveram em exposição durante o decorrer da Frutos, no Céu de Vidro e, na passada segunda-feira (27 de Agosto), um júri constituído por Virgínia Frois, professora da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, João dos Santos, director da ESAD e José Antunes, director do Centro de Artes, escolheu, por unanimidade, os cinco projectos vencedores. As “Marias” de Ana Sobral, “o Kit Rainha” da Bolota, “Pelicano” de Mário Reis, “Proposta 1” de Vítor Reis, e “Jarra Plátano” de Vítor Agostinho, serão as obras editadas neste ano.
O comissário da Molda, João Serra, felicitou os concorrentes e destacou que é a “cidade que se valoriza quando se decide incluir nas ofertas institucionais da Câmara trabalhos da qualidade, maturidade e inovação presentes nesta mostra de cerâmica autoral”. O historiador destaca que estas qualificações estão, aliás, presentes em todos os projectos apresentados, o que conferiu à iniciativa uma nota positiva. João Serra diz mesmo esperar que esta iniciativa tenha significado um ponto de viragem na associação da cerâmica contemporânea à imagem da cidade.
A exposição Tiragem faz parte da Molda e teve como responsável de produção Carla Cardoso, juntamente com Francisca Branco Venâncio e o design gráfico de Nayara Siler.

As propostas dos participantes

O ceramista Vítor Reis apresentou a concurso duas peças. Uma delas, que apelidou de “Proposta 1”, é de carácter decorativo e utilitário e o seu uso visa a colocação e sinalização de papéis, como guardanapos, documentos, postais, cartas, documentos e facturas. De acordo com o autor, a peça que é dedicada às termas pode também servir de oferta, tanto pelo seu carácter utilitário e decorativo, como pela representação simbólica da cidade das Caldas.
A outra proposta apresentada por Vítor Reis tem a ver com o tipo de trabalho que costuma desenvolver e chama-se “O olho que encontra”. Ambas foram construídas por lastra em grés com vidrado mate.
Vitor Agostinho apresenta a “Jarra Plátano”, baseando-se nas folhas de plátano do Parque. De acordo com Francisca Branco Venâncio, da produção da mostra, é uma proposta que se enquadra na estética que o ceramista costuma utilizar dos Moldes Mutantes. “Uma das suas características é que apesar de utilizar os moldes para fazer a tiragem de peças, estas nunca são iguais, porque nunca consegue montar o molde da mesma forma”, explica a responsável.
Elsa Rebelo criou uma “Caldas da Maria”, um tributo às mulheres das Caldas, numa peça realizada na roda de oleiro em grés e pintada à mão com vidrados cerâmicos desenvolvidos pela própria autora.
Já Mariana Sampaio propôs um azujelo em que utiliza como inspiração os bordados das Caldas e as cores relacionadas com os mesmos bordados, como o amarelo mel.
A ceramista caldense Umbelina Barros apresentou a concurso cinco propostas. A primeira, denominada “A Fonte” é uma alusão ao fontanário de bicas no interior do Hospital Termal, com uma forma de taça, aludindo ao Santo Graal e à cura. Há ainda um “Morim XXI”, inspirada numa peça que antigamente era usada para beber, filtrar e manter a água fresca, e “As paredes “teem” ouvidos”, uma peça onde usou referências cerâmicas da cidade, como o musgado e um porta cartas exposto no Museu da Cerâmica.
Umbelina Barros apresentou ainda as peças “Cidade Una” e “Rainha seus cabelos são águas…”, relacionadas com o termalismo e a rainha fundadora da cidade.
Na proposta de Francisco Correia, a ligação à região não é tanto formal mas de conceito, tendo em conta que as peças decorativas apresentadas foram feitas em barro recolhido na zona das praias do Bom Sucesso.
O “Pelicano”, que junta grés e alumínio, intitula uma das propostas de Mário Reis, onde o ceramista representa, por exemplo, o bico da ave por uma banheira termal e uma peça de alumínio utilizada nas torneiras das banheiras faz de olho do pelicano. É ainda feita uma alusão à tradição fálica, tal como na segunda peça, “Canhão das Caldas”. Mário Reis utiliza como técnicas a modelação em bruto, seguida de ocagem, lastra e olaria de roda.
O ceramista Carlos Enxuto criou para o concurso a “Rainha das Águas”, composta por duas peças decorativas, de diferentes dimensões e unidas por um manto azul, numa alusão às águas termais e à origem da cidade. As propostas foram criadas através de modelação de lastras e a aplicação de relevos.
Ana Sobral apresenta as “Marias”, proposta assente num nome tipicamente português, focando-se nas Marias alusivas às Caldas, como é o caso da Maria Rainha e Maria Peixe. Na exposição foram apresentadas duas peças e o objectivo da ceramista é o de criar 10, com diferentes características da cidade. O trabalho foi executado na roda de oleiro e em placas.
Por último, Isabel Claro (Bolota) apresenta o kit Rainha. A peça tem dois propósitos: o decorativo, em que as quatro peças expostas em conjunto mostram uma rainha, e o utilitário, em que, separadas, as peças funcionam como objectos para servir e mostrar os produtos. São em grés com chamote fino e feitas na roda de oleiro, com vidrados coloridos.