A Semana do Zé Povinho

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A Europasobe teve na semana que passou dois sobressaltos e a “narrativa” que os europeus vinham ouvindo como a verdade certa, poderá ter sofrido alguns recuos.
A primeira surpresa (que já não era surpresa pois as sondagens indicavam a tendência) foi a vitória na Grécia do Syriza, quase com maioria absoluta. O desengravatado Alexis Tsipras é já o novo primeiro-ministro, perante a perplexidade dos bens pensantes dos poderes europeus, que não se cansaram de sugerir dificuldades aquele país, caso o escolhessem. Muita gente esquece-se que a Grécia foi um dos esteios do saber na Antiguidade Clássica e que é ainda hoje um marco para a História Mundial.
Tal como os portugueses, também os gregos têm sofrido duramente nos últimos sete anos, pelo estado a que deixaram chegar as suas contas e a sua dívida externa. Os gregos, porém, com números mais pesados do que os da Pátria Lusitana, não conseguiram sair deste círculo vicioso de mais défice, mais dívida, mais juros a pagar, mais desemprego, mais dívida, mais desespero, mais miséria. Os partidos do centrão que se sucederam para gerir as contas e negociar com a troika, foram enterrando cada vez mais o país.
Não admira que Alexis Tsipras tenha conquistado o coração de uma boa parte dos gregos que lhe deram os votos, esperando que ele cumpra o que prometeu. Nas primeiras horas parece estar a fazê-lo, apesar de ter feito uma aliança de certo modo espúria  para lhe dar a maioria absoluta para os tempos difíceis que se avizinham.
Mas o outro sobressalto foi a decisão do Banco Central Europeu de compra da dívida pública em montantes ao nível da pipa de massa glosada há meses, invertendo a ortodoxia das lideranças da União Europeia, especialmente do poder alemão. O Dr. Mário Draghi, já tinha habituado os europeus a algumas surpresas, mas esta – que estava a perder pela demora -, segue as pisadas das práticas com sucesso noutras potências económicas, e, caso os governos nacionais lhe dêem uma sequência correcta, poderá ser a concretização de uma política de investimento inteligente e sustentável que anule a deflação.
Esta semana Zé Povinho ficou feliz com os sucessos de Alexis Tsipras e de Mário Draghi, esperando que eles possam significar para a Europa e para Portugal aquela réstia de esperança que há muito se aguardava. Espera-se que daqui a alguns meses não estejam todos frustrados!

A pridescemeira ministra alemã, Ângela Merkel, parece ser a personalidade europeia contra quem quase todos se voltam pelas atitudes e pressões que tem imposto à União Europeia e aos seus 500 milhões de habitantes.
Não passou despercebida a atitude que tomou directamente, ou de forma ínvia (através de declarações de fontes anónimas para os jornais alemães), contra os gregos, ameaçando-os das consequência de votarem no Syriza e da ousadia em pedirem a negociação da dívida.
Tanto ela como o seu alter ego na pasta das Finanças, Dr. Wolfgang Schäuble, não têm mostrado a mínima contemplação contra quem não quer seguir a sua cartilha ou receita, esquecendo o que lhes foi feito a seguir à Segunda Guerra Mundial.
No entanto, após a vitória do Syriza, as lideranças alemãs já amaciaram o trato num primeiro momento, dando a entender que irão ouvir os governantes gregos, recebendo agora o líder grego, inversamente ao que fizeram há algumas semanas.
Mas ainda mais alinhado com a ortodoxia alemã está o infeliz primeiro-ministro português, Dr. Passos Coelho, que nem utilizou o nome do partido vencedor na Grécia, nem do seu líder, querendo ser mais papista que a papisa Merkel, não percebendo que a atitude arrojada dos gregos pode servir favoravelmente os interesses portugueses.
Zé Povinho não gosta de ver pessoas assim e lembra-se sempre do ditado bem português “não peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu”.