A semana do Zé Povinho

0
445

Foi uma manifestação pacífica, mas não foi uma festa, embora organizadores e participantes não disfarçassem a sua alegria pelo êxito do protesto expresso em número de pessoas que a ele aderiram.
No sábado passado, nas Caldas da Rainha e em todo o país, muitos milhares de portugueses saíram à rua para mostrar a sua indignação contra as medidas de austeridade que progressivamente o governo tem lançado sobre a maioria, sem quase dar tempo de as pessoas respirarem ou se adaptarem.
Mas tudo tem um limite e desta vez o povo saiu à rua. Nas Caldas, apesar de serem pouco mais de mil pessoas, assistiu-se a uma das maiores manifestações depois do 25 de Abril. Zé Povinho gostou de ver como esta decorreu de forma ordeira, apesar da raiva de muita gente, que vive situações verdadeiramente dramáticas devido às políticas anti-sociais do governo.
Estão de parabéns os caldenses – os de todos os partidos e os que não têm partido nem neles se revêem – que deram esta verdadeira lição de cidadania, numa manifestação espontânea à margem dos sindicatos e das forças políticas partidárias. Foi cidadania e civismo em estado puro. E também pura indignação.

Na semana passada Zé Povinho acusou duramente Passos Coelho de ter desencadeado a crise que uniu o país contra si e o seu governo, não sendo descortinável nessa altura o papel desempenhado pelo seu companheiro de coligação, o CDS/PP de Paulo Portas.
Com o correr da semana, Zé Povinho entendeu de alguma forma como a coligação funcionou perante tão penoso e difícil problema, em que foi permitido saber o que acontece quando o parceiro da coligação prefere ausentar-se para o estrangeiro no momento em que o país se debate com problemas graves. Neste caso, os assuntos tratados à distância têm como consequência que as questões mais sensíveis sejam decididas controversamente, permitindo que à posteriori (e na sequência da imensa indignação levantada pelos milhares de manifestantes) um parceiro manifeste o seu desacordo perante tão problemática solução, no caso o forte aumento da TSU para os trabalhadores.
Paulo Portas mostrou ao seu companheiro do coligação, qual especialista em tratar a coisa pública que ele é, mas ficou mal na fotografia, pois para a opinião pública não passou favoravelmente a atitude e os seus colegas de coligação vão cobrar esta traição.
Mas também mal na fotografia ficou o ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares, que tendo acompanhado e aceite o desenrolar do processo do aumento da TSU para os trabalhadores, não foi claro quando teve de o explicar e contrariou o que a maioria dos militantes do seu partido defendem hoje publicamente.
Não lhe basta desculpar-se, agora que foi ignorado nas reuniões do governo com a troika, o que demonstra o papel com que é encarado em tão crucial dossier, mas mesmo assim nunca explicou claramente as razões e justificações para tão “criativa” solução, que teve o capricho e a particularidade de juntar quase toda a gente contra.
Zé Povinho não aceita o oportunismo de Paulo Portas a tentar enterrar Passos Coelho, quando ambos estão no mesmo barco, nem a ingenuidade de Pedro Mota Soares de não ter percebido o sentir de pelo menos dos militantes do seu partido.