História de Salir do Porto (1)

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Origens do Nome
Lê-se em porcaminhosdecister.blogspot.com/2010/04/salir-do-porto-sua-historia.html: «O seu toponímico “Salir”, além de significar “saimento” significa também em Português arcaico, “morrer”. E, de facto, ainda hoje, ali “morrem” as ribeiras de Alfeizerão e de Tornada, que se juntam para formar o rio Salir». Não! O significado da palavra não é o significado actual, na maioria esmagadora dos casos; tem de se procurar o significado da palavra quando ela foi inventada. Salir não é sair ou morrer; se assim fosse, metade das fozes dos rios portugueses seriam salir e a outra metade seriam entrar.
A origem deste topónimo, como de quase todos entre o Douro e o Tejo, é fenícia, hebraica, ugarítica, cananita; fenícia, por facilidade de expressão. Salir < Sa (de quem se diz) + lir (onde se pernoita, onde se descansa). Significa: onde se diz que se pernoita. A confirmar este significado, vem o topónimo porto, de origem latina, mais tardio, que significa o mesmo: porto, apoio, abrigo, descanso.
O mesmo blogue diz: «Salir do Porto está situado no “sopé” de uma colina que se destaca das restantes. O nome popular desta colina é Castelo, pois no seu topo, de fácil acesso, existem algumas ruínas de uma antiga fortificação». Não! Castelo, primitivamente, não designava a fortificação; esta apropriou-se do topónimo castelo, que significava e significa a parte mais alta da povoação. No meu concelho, Zebreira e Segura têm rua com o nome Castelo, mas ambas nunca tiveram qualquer fortificação.
Em www.tornadaesalirdoporto.pt/freguesia/heraldica, lê-se: «Escudo de prata, uma bandeira quadrada de azul com haste de ouro, carregada de uma estrela de cinco pontas de prata e acompanhada em chefe à dextra de um camaroeiro de vermelho e à sinistra de um livro de prata realçado de vermelho. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas: “SALIR DO PORTO”. Para além dos escusados latinismos dextra (direita) e sinistra (esquerda), a estrela de cinco pontas é a estrela de David; quanto ao livro, poderá ser a Thora, ainda que esta seja em forma de rolo.
Salir do Porto vista de São Martinho, foto do autor, 2022.
A capela de Santa Ana vem confirmar o que escrevemos. Santa Ana é uma mulher judia, mãe de Maria, judia também. Santa Ana, como acontece com santos e santas católicos, é a cristianização de antigos deuses e antigas deusas. Os cristãos escolheram o santo cujo nome mais se aproxima da sonoridade do nome do deus e fica com a sua função.
As placas em madeira que, ao longo do caminho até à capela, indicam a direção a seguir, têm escrito «Capela Nª Srª Sant´Ana». Para que não fiquem dúvidas quanto à santidade, aproximam-na de Nossa Senhora, a maior santa, mãe de Jesus.
Santa Ana é a cristianização da deusa cananita Anat/ Anatu, a deusa da guerra, mas também da paz; é apresentada como deusa sexual e fértil, aquela que gera descendência (o que a aproxima de Santa Ana e Maria) mau grado, Anat continue a ser chamada de virgem e donzela, o que a aproxima de Maria. ■

António Carvalho