Grupo alemão constrói fábrica de seis milhões de euros nas Caldas da Rainha

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Pavilhao7A empresa Martin Caldeiras, Lda. está a construir uma fábrica na Zona Industrial das Caldas da Rainha, num investimento de seis milhões de euros que vai criar, numa fase inicial, 10 novos postos de trabalho. A unidade vai fabricar painéis de aquecimento de água para as centrais termoeléctricas desenvolvidas pela casa mãe na Alemanha e na Suíça. A construção da fábrica iniciou este mês e estará concluída em Julho, mês de arranque do projecto, embora este só entre em velocidade de cruzeiro no início de 2017.

A fábrica nas Caldas da Rainha vai ficar responsável pela criação das peças das caldeiras que têm que ser revestidas numa liga metálica especial. Essa liga torna o aço carbónico mais resistente aos gases libertados pela queima do lixo, o que aumenta a vida útil das peças cinco vezes. O principal produto que vai sair das linhas de produção são as paredes das caldeiras, peças com oito metros de largura. Vão ainda ser ali produzidas outras partes mais pequenas, que precisam da mesma protecção.
A Martin não é a única empresa do mundo com esta tecnologia, segundo explicou Hans Peter Holl, gerente da Martin na Alemanha, à Gazeta das Caldas, mas é a única que consegue aplicar essa liga numa camada tão fina. Actualmente a camada protectora tem uma espessura de 1,5mm e o objectivo é reduzi-la para 1mm. A menor espessura traz vantagens em termos de custos porque utiliza menos material, mas também em eficiência, já que aproveita melhor o calor gerado.
Dos 10 postos de trabalho que vão ser criados inicialmente, sete são de soldador – três deles já recrutados –, que vão dividir a linha de montagem com três robots. Os restantes três postos de trabalho são na área administrativa. A empresa espera duplicar o número total de trabalhadores num período de três a quatro anos, dependo da resposta do mercado.
Para além da produção, a empresa caldense vai lançar, numa segunda fase, um serviço de reparação das caldeiras que usam o sistema da Martin. Actualmente, quando existem danos num destes painéis – compostos por tubos de água que recebem directamente o calor da incineração de lixo para aquecer a água –, estes têm que ser retirados e substituídos por inteiro. Esta inovação vai reduzir os custos de reparação e diminuir o tempo de inactividade das centrais.
No futuro, a Martin está ainda a estudar uma segunda linha de produção na fábrica caldense, numa óptica de redução de custos. “Estamos a analisar a possibilidade de fazermos componentes que hoje adquirimos, mas neste momento é apenas uma possibilidade que temos que avaliar”, adiantou o responsável da empresa.
Para se instalar nas Caldas da Rainha, a firma está a investir seis milhões de euros, dos quais 5,25 milhões são gastos localmente. Apenas a robótica mais avançada é importada. A área edificada é de 3.500 metros quadrados e, para além da zona de produção, terá um edifício de dois pisos para os escritórios e estruturas de apoio aos colaboradores, como balneários e cozinha.
A empresa prevê atingir um volume de vendas na ordem dos 5 milhões de euros dentro de três anos e a perspectiva é até que o número cresça, uma vez que “ainda não estamos a chegar a uma grande parte do mercado europeu”, adianta Hans Peter Holl. Toda a produção será para exportação.
Porquê Portugal e as Caldas?

A conquista desse mercado europeu é o objectivo da abertura desta nova fábrica e a escolha de Portugal é explicada pelo binómio qualidade-preço.
As duas fábricas que o grupo detém na Suíça não proporcionam a mesma competitividade, tendo em conta o custo da mão-de-obra na confederação helvética, mas o custo não foi o único factor levado em linha conta. “Tínhamos outras soluções, como a Bulgária, a Roménia ou a Polónia, onde talvez tivéssemos um custo 20% mais baixo, mas aqui a mistura de todos os aspectos mostrou-se a solução ideal, até por haver uma maior proximidade cultural”, adianta Hans Peter Holl.
Peter Alpinger, responsável pelo sistema de caldeiras, admira o trabalho realizado pelos soldadores portugueses nas fábricas da Martin na Suíça, nas quais quase todos os colaboradores nesta área são lusos.  “Os portugueses têm vocação para soldar, têm a tecnologia e o conhecimento, talvez pela indústria naval e petrolífera, e são perfeccionistas no trabalho que fazem, o que é fundamental numa área em que não há margem para erro”, explica Peter Alpinger. O responsável pela produção das caldeiras da Martin também conhece bem o país e a região, uma vez que tem casa no Nadadouro há cinco anos.
Nas Caldas a companhia encontrou uma cidade pequena, mas ideal para se instalar por ser “moderna e com um ambiente familiar”, observa Hans Peter Holl. Apesar de pequena, tem boas vias de comunicação, com a A8 a pouco mais de um quilómetro da fábrica. “Está próxima de Lisboa, do aeroporto, mas também dos acessos ao interior da Europa”, refere o gerente.
A Zona Industrial, para além de dotada de “boas estruturas”, realça, tem também vários potenciais fornecedores em áreas como lacagem, polimento, processamento de metais, entre outros. O sucesso da empresa pode, por isso, levar à criação de postos de trabalho indirectos.
A Martin precisa ainda de um gás feito à medida, para o qual encontrou fornecedores em Leiria e Rio Maior.
Os responsáveis pelo Grupo Martin têm acompanhado a situação política e financeira de Portugal, mas não a vêem com preocupação. “Se sair da União Europeia teremos um problema, mas não creio que vá acontecer”, antecipa Hans Peter Holl. O gerente da Martin afirma ter lido sobre a agitação recente dos mercados com a reversão das políticas pelo novo Governo e as negociações com a UE, mas acredita que a situação é mais estável do que na Grécia ou até na Espanha.
Numa primeira fase, a Martin Caldeiras vai ser gerida por Hans Peter Holl e Peter Alpinger, que vão dividir o seu tempo entre a Alemanha e a Suíça, respectivamente, e Portugal. Se no futuro se justificar, a empresa caldense poderá ter uma administração própria.

O Grupo Martin
A Martin Caldeiras, Lda. foi constituída em Setembro de 2015, tem sede nas Caldas e integra o Grupo Martin, que tem sede em Munique e do qual fazem parte mais uma empresa (com duas fábricas) na Suíça, outra na França e outra na Austrália.
Fundada em 1925, a Martin GmbH é pioneira e líder mundial na tecnologia de incineração de lixo, que converte em energia eléctrica através do aquecimento de água e a sua conversão em vapor que acciona uma turbina.
A tecnologia da empresa está presente em 429 centrais e 818 linhas de produção de energia, situadas em 34 países e em quatro continentes. Estas unidades eliminam 268 mil toneladas de lixo por dia. Transformar o lixo em energia através do fogo, e contribuir para um ambiente mais limpo, evitando o depósito do lixo no meio ambiente, é a missão que a empresa preconiza.
A Martin é uma empresa familiar que tem o apelido do seu fundador e já vai na terceira geração. Tem um capital social de 10 milhões de euros e um volume de negócios anual que supera os 100 milhões de euros. Trabalham actualmente no grupo 220 pessoas.
Para além da incineração do lixo orgânico, nestas centrais também se separa o que pode ser reutilizado.

1 COMENTÁRIO

  1. Muito interessante a entrevista estos empresarios alemaes. A situaçao política espanhola é dramática. Há rumores de que haverá na Espanha em maio um governo do Frente Popular. Outra vez depois de 80 anos!Deus nos ajude porque isso também afeta o meu querido Portugal.